Shopping construído em 1994 valorizava os fabricantes de São João Batista
Estrutura com 54 salas comerciais ficou em funcionamento por cerca de dez anos
As ruínas em meio ao matagal, às margens da rodovia SC-410, lembram que há 25 anos era construído no local o primeiro e único shopping de São João Batista, que recebeu o nome de Vale dos Calçados. Inaugurado em 23 de dezembro de 1994, em um terreno de 60 mil metros quadrados, o espaço contava com 54 salas comerciais.
A intenção do proprietário, Moacir Nelson Zunino, 78 anos, era destinar as salas para que as fábricas de calçados do município comercializassem seus produtos. Além das lojas, o shopping contava com restaurante, padaria e lanchonete para atender a todo o público.
Zunino conta que a ideia da construção do shopping surgiu durante uma viagem aos Estados Unidos. Ele trouxe a inspiração, e uma empresa de Florianópolis conseguiu colocar no papel o projeto. “Eu tinha o terreno vago e surgiam várias ideias, desde hotel a posto de gasolina. Mas achei que nosso Vale merecia um shopping que valorizasse os produtos daqui”, conta.
Entretanto, Zunino acredita que a ideia foi executada em uma época errada, pois foi bem no momento do declínio em que o país viveu economicamente. “A gente inaugurou com 30 e poucas lojas abertas. Outras salas já estavam alugadas, mas iriam iniciar no ano seguinte, mas como deu a crise, os fabricantes preferiram, é claro, salvar suas empresas do que abrir mais um empreendimento e correr um risco grande de falência”, lembra.
O projeto arquitetônico do shopping contava com fontes de água com peixes coloridos, além de uma lagoa com pedalinhos para os visitantes desfrutarem das belezas naturais. As famílias da cidade ainda aproveitavam os fins de semana para visitarem o local e as crianças usavam as estradas asfaltadas do shopping para praticar esportes, andar de skate, patins e bicicleta.
Os estacionamentos de lajotas perfurada foram trazidos por Zunino do Canadá. “Eu tinha muito cuidado com a estrutura, para manter uma beleza no local. Tanto que as lojas, mesmo alugadas, precisavam ter autorização para mexer no projeto dentro das salas”, diz.
O investimento para deixar toda a estrutura pronta, segundo Zunino, foi de 1 milhão de dólares. “Como era bem na mudança do cruzeiro para o real, a gente convertia tudo para o dólar”, explica.
Durante os anos de funcionamento, Zunino lembra que algumas pessoas famosas passaram pelo Vale do Calçado Shopping. Houve lançamento de livro no local, bem como um encontro de motociclistas. “Tentávamos fazer a parte de entretenimento também no espaço para envolver a comunidade”, diz.
Mudança de segmento
A ideia de um shopping no município não fluiu bem e com o passar dos anos mais lojistas deixaram o local. Até que uma escola particular se instalou no local e dividiu o espaço com algumas lojas que continuaram as atividades, além da lanchonete.
“Acho que não ficou dois anos a escola lá, depois também saiu. Houve negociações para a implantação de uma escola agrícola e algumas faculdades também se interessaram pelo local, mas nada deu seguimento”, conta Zunino.
O fechamento definitivo de todas as lojas do shopping ocorreu entre 2004 e 2005.
Com o fechamento do shopping, Zunino conta que surgiram muitos boatos na cidade sobre o destino do local. Inclusive, um dos grandes comentários que escuta ainda hoje é quanto a possíveis negociações com o empresário e dono da Havan, Luciano Hang.
“Nunca chegamos a conversar sobre a possibilidade. O meu filho, um dia em uma conversa com ele, chegou a comentar sobre o terreno, mas ele não demonstrou interesse por ter investimentos em cidades muito próximas daqui”, diz.
Há dez anos o terreno foi colocado à venda. O valor para compra, segundo o proprietário, é de R$ 8 milhões.
Ele revela que já foram feitas algumas conversações e alguns empresários demonstraram interesse, mas até o momento nada foi oficializado.
O empresário Almir Manoel Atanázio dos Santos foi um dos interessados. Ele conta que a intenção era explorar naquele espaço, que é também porta de entrada do município, o turismo comercial. “Nossa cidade tem muitas pequenas empresas que precisam de um espaço para mostrar seus produtos. E hoje, se alguém vier para São João Batista comprar sapato da cidade, não vai encontrar um lugar específico para isso”, comenta.
Após se desmotivar da ideia, Santos analisa que o terreno precisa ser desapropriado pela prefeitura para que se faça um centro comercial.
“No momento, os empresários estão espantados com a gestão municipal e se desmotivaram em investir na cidade. Vamos esperar por uma mudança no cenário político municipal, como aconteceu com a presidência”, diz. Ele ressalta que, no momento, não tem mais intenção de comprar o terreno para novos investimentos.
Demolição da estrutura
Em abril do ano passado, a estrutura que ainda restava do shopping foi demolida. Zunino conta que o promotor informou que havia várias reclamações devido à prostituição, moradores de rua e uso de drogas no local. “Concordei com a demolição e fiz a doação das telhas e armações para um empresário que pediu”, conta.
Agora, quem passa pelo local se depara apenas com os entulhos que restaram da demolição. “É preciso autorização da Fatma [Fundação do Meio Ambiente] para retirar os entulhos de lá”, informa Zunino.