Sidnei Pavesi é o primeiro brusquense pré-selecionado para receber um cão-guia
O animal é adestrado pelo Centro de Treinamento de Camboriú
O animal é adestrado pelo Centro de Treinamento de Camboriú
O brusquense Sidnei Pavesi é um dos pré-selecionados pelo edital do Centro de Formação de Treinadores e Instrutores de Cães-Guia do Instituto Federal Catarinense (IFC), câmpus Camboriú, para receber, no próximo ano, um animal adestrado que poderá auxiliá-lo a ter uma vida mais independente.
Não é de hoje que Pavesi tem vontade de ter um cão-guia para acompanhá-lo, no entanto, este processo é difícil. Há alguns anos, ele foi selecionado para ir aos Estados Unidos buscar um cão para auxiliá-lo, porém, a viagem não se concretizou, já que ele não tinha recursos para bancar a experiência. “Ganhei a passagem de ida, mas sem passagem de volta. Eu estava fazendo faculdade, trabalhando, apesar de ter todos os pré-requisitos para receber o cão, eu não aceitei por vários motivos. Agora, a possibilidade está mais próxima”, diz.
De acordo com a coordenadora do projeto Cão-Guia, Márcia Santos de Souza, o edital de seleção para ser um usuário tem várias etapas. Uma delas é a entrega de documentos, que termina amanhã. Se o candidato for aprovado, ele segue na seleção. “Depois disto haverá uma fase de entrevista e visita domiciliar. Se aprovado, segue para outra etapa, que é a de adaptação ao cão-guia”, explica.
Todo o processo em busca do cão certo é complexo. “Temos que achar a dupla perfeita, ou seja, um usuário adequado para o cão que temos pronto aqui no Centro de Treinamento. Isto está relacionado a peso, altura, tamanho de passada, atividade que desenvolve, entre outras coisas”, ressalta.
O Centro de Formação de Camboriú é o primeiro do Brasil. Faz parte do programa Viver sem Limites, do Governo Federal, e conta com um curso de pós-graduação na área de treinadores e instrutores de cães-guia. O treinamento dos cães é o produto da formação pedagógica do curso. “É um espaço que contempla tanto as necessidades do curso como as dos alunos, além de ser um lugar preparado para receber as pessoas com deficiência visual na época da adaptação ao cão-guia”.
Hoje, 48 cães estão no projeto, mas nem todos estão em treinamento. Em média, 50% a 60% dos cães treinados conseguem ser aproveitados. “Temos cerca de 30 cães em treinamento, embora nem todos consigam se tornar cães-guia. É normal problemas físicos nas raças utilizadas: Goldens e Labradores”, diz Márcia.
Sidnei sabe de todas as dificuldades deste processo. Principalmente porque nem todos os cães conseguem aprender as técnicas. “O cão precisa se imaginar numa proporção bem maior do que ele realmente é para que o seu dono não bata a cabeça em galhos de árvore, toldos e outros obstáculos aéreos, e muitos cães não tem esse esquema corporal ampliado e não conseguem se adaptar”, destaca o brusquense.
Além disso, o repasse de comando do treinador ao cego é longo. “O cão não obedece qualquer pessoa. Tem toda uma adaptação tanto do cego quanto do cão, tudo com suporte técnico especializado”, diz Sidnei.
Dois cães serão entregues a deficientes visuais ainda neste mês de novembro, e mais quatro finalizarão o treinamento em janeiro. “Depois desta etapa, entregaremos cães-guia conforme eles forem terminando a etapa de treinamento”, afirma Márcia.
Apesar de ser um método benéfico para os deficientes visuais, as dificuldades para se conseguir um cão-guia são inúmeras. “Não se tem cães-guia no Brasil porque há pouquíssimos profissionais da área. Este é o principal motivo de termos aqui no IFC um curso de Treinadores e Instrutores, e não apenas um lugar para treinar cães”.
Márcia ressalta ainda a importância deste método para os cegos. “O cão-guia pode dar mais liberdade, dignidade e mobilidade para a pessoa com deficiência visual, mas dependerá muito do aproveitamento que ela fará desta tecnologia assistiva. Os cães-guia são, além de muito úteis no deslocamento, parceiros no cotidiano do seu usuário. A socialização destes usuários ganha uma qualidade indiscutível”.
Ainda é tabu
Se aprovado em todas as fases do processo, Sidnei pode se tornar o primeiro cego a ter um cão-guia em Brusque. Ele acredita que o método ainda pode ser considerado um tabu tanto para o deficiente quanto para a sociedade em geral. “Já temos uma legislação que prevê acesso ao cão em todos os espaços públicos. Onde ele pode e não pode entrar.
Esse ainda é um dos nossos problemas, já que muitas vezes os cães-guias são impedidos de entrar e são vistos com desconfiança. Já existe multa também para que limitar o acesso dos cães que varia de R$ 1 mil a R$ 30 mil”, diz.
Ele ressalta que as pessoas com deficiência devem se permitir experimentar. “Todo o tipo de tecnologia que existe deve ser explorada e experimentada pelas pessoas com deficiência, mas isso não acontece. Se eu conseguir um cão que se adapte a mim, acredito que vou abrir caminho para que outros deficientes possam fazer uso deste método”.