câncer do colo do utero
Luiz Antonello/O Município

Luiz Antonello
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O cotidiano da costureira Elisabete de Almeida Alberton, de 53 anos, mudou em 2015, quando começou a sofrer hemorragias no útero. Na época, com 47 anos, a moradora do bairro Limoeiro sentia muita dor na barriga, que inchava com frequência. “Tive que ir ao hospital. Saía fluxos de sangue, aí eu corri atrás, por mim”, conta.

Elisabete iniciou o atendimento em Itajaí. No início, o médico apontou que se tratava de uma ferida no útero. “Comecei o tratamento e aí mesmo que a dor vinha forte. Eu vi que não era só uma ferida, mas não passava pela minha cabeça”, continua.

Ela fez o exame de biópsia, o resultado deu positivo para câncer do colo do útero e ela foi internada. A costureira relembra que a médica apontou que teria apenas de seis meses a um ano de vida.

“Foi um choque, a gente pensou no pior e achei que iria morrer. Mexe com a cabeça. Achamos que não tem solução, mas a grande verdade é que tem solução”, ressalta. “Eu não aceitei, eu disse que iria conseguir. Se descobrir no começo e fazer o tratamento, tem solução”, destaca.

A cirurgia da retirada do útero foi naquele ano. Segundo Elisabete, ela não queria fazer o procedimento. “Não queria, mas a minha família disse que se fosse recomendação médica eu deveria fazer, para não dar problema mais para frente. Daí foi quando eu aceitei, salvou a minha vida”, diz.

Elisabete não precisou passar por quimioterapia, pois fez uso de tratamento com medicamento. Contudo, foram cinco anos de medicação e ela chegou a perder o cabelo. Atualmente, continua indo ao médico, mas para fazer um acompanhamento, que deve durar até 2025.

“Eu costumo dizer que eu só estou bem, no dia de hoje, porque tive o apoio da minha família, se não fosse por isso não estaria aqui. O diagnóstico já mexe com a gente. Tive apoio do marido, dos filhos e dos irmãos de sangue. Era uma ligação que dizia que daria tudo certo e me colocava pra cima. A gente toma um choque e quer se isolar. A família foi o principal”, completa.

Vida em Brusque

Natural de Ivaiporã, no Paraná, Elisabete mora em Brusque há mais de 20 anos. Ela conta que veio fazer compras na cidade, pois na época a família visitava as antigas lojas da rua Azambuja. “A gente veio para passear e tínhamos parentes que moravam aqui. Daí a gente gostou e não foi mais embora”, conta.

Morou em Curitiba e, depois de um tempo, mudou-se para Brusque com o marido e os três filhos. Quando chegou na cidade, começou a trabalhar como diarista. Conseguiu um trabalho na limpeza do Hospital Azambuja e, também, de maqueira no Imigrantes Hospital e Maternidade de Brusque.

Hoje, é costureira e trabalha em casa. Ela destaca que gosta de costurar. “Sempre trabalhei, nunca fiquei tanto tempo em casa igual agora. Eu já estou querendo voltar, pois já estou melhor”, conta.

Acolhimento

Após o diagnóstico e início do tratamento, Elisabete encontrou acolhimento na Rede Feminina de Combate ao Câncer. “É um negócio que mexe, eu entendo muito as mulheres daqui [da Rede Feminina], é preciso estar bem centrada e filme. Vêm mil e uma coisas na mente da gente”, comenta.

Elisabete conta que não conhecia a Rede Feminina até conhecer uma mulher que frequentava o espaço e receber a indicação. Com a insistência do marido, começou a ir nos encontros da Rede.

Ela recorda que estava arrasada quando chegou no local. “Eu lembro que chegava e me perguntava: o que eu estou fazendo aqui? Ficava sentada em um canto e todos achavam que eu era estranha, pois não me misturava com as pessoas. Eu achava que o que era da gente, tínhamos que guardar pra gente. Não ficar expondo. Então comecei a ver as meninas contentes, falando e falando, e fui me enturmando, hoje em dia eu converso”, relata.

Elisabete diz que já se acostumou com a situação e aponta que o carinho da Rede Feminina teve papel fundamental neste processo. “Só quem passa por esse processo é quem entende a pessoa. Quem está saudável fala assim ‘ah, é só um órgão do corpo, não serve para nada, já tem três filhos, não precisa mais ter mesmo’. É um processo bem complicado”, pontua.

Além disso, toda segunda-feira ela participa do grupo de apoio. Também faz acompanhamento com psicóloga e tem médico a disposição caso queira mostrar exames.

“Hoje já estou acostumada. Acho que tudo o que acontece na vida da gente é para aprendermos. É muita coisa e a gente cresce. Temos que agradecer por ter passado por isso, por ter vencido e por estar aqui hoje. Eu penso assim, mas é difícil.”

Luiz Antonello/O Município

Mudanças ao longo do tempo

Elisabete aponta que a terapia com psicóloga a ajudou muito. “Lá atrás eu achava que tudo isso era uma besteira e que não ajudaria em nada. Mas ajuda. Ao abrir, a gente se sente bem pois temos apoio de todas”, conta.

“Se eu tivesse feito terapia antes, teria mais aprendizado e talvez saberia lidar melhor com a situação. No começo a gente não entende. É complicado, é difícil. Ainda é, pois qualquer dorzinha que a gente tem, ficamos pensando: será que é ou não é?”, continua.

Hoje, Elisabete diz que está mais tranquila e aceita toda a situação. Inclusive, ela aponta que fala bem mais do que antes. “Eu não era faladeira. Depois que vim para esse grupo de apoio, eu saio bastante com elas. Até mesmo quando eu precisava ir em alguns lugares, eu achava que tinha que ir com o meu marido, mas hoje elas vão juntas, ou vou até sozinha, antes não tinha esse pensamento”.

Outra mudança foi em aprender a dizer não. “Às vezes eu engolia algumas coisas e não falava não. Hoje em dia, se eu não concordo com algo, eu dou limites.”

Em 2022, Elisabete procura emprego fixo como costureira. Apesar da vontade de costurar, ela tem receio de que não poderá mais vir à Rede Feminina nas segundas-feiras de tarde, pelo horário de trabalho. Contudo, destaca que não quer ficar parada.

Questionamentos

Um dos focos do processo de Elisabete foi em parar de achar que existia uma justificativa para o diagnóstico. “A gente fica questionando o porquê, mas não tem justificativa. Eu não fico questionando com Deus o porquê disso. Temos que passar, não é o outro. Temos a ajuda, mas é preciso querer, lutar, se não a gente não vence’, diz.

Em relação às outras mulheres, Elisabete alerta para que busquem sempre fazer o preventivo. Caso não aponte um problema, mas sentem dores ou sintomas, que busquem outros exames.

“Elas mesmas devem correr atrás se tiver algo de errado. São vários exames, a tomografia, ultrassom, até o de sangue. No meu caso, o preventivo não acusou, só corri atrás porque tive hemorragia”, diz.

Para Elisabete, a busca e persistência pelo atendimento médico no início da doença e o apoio, tanto da família quanto da Rede Feminina, foram necessários para ela sobreviver à luta contra o câncer.

Março Lilás

O mês de março marca um período de atenção especial à saúde da mulher. A campanha Março Lilás tem como objetivo conscientizar a população sobre a prevenção e combate ao câncer de colo de útero.

Este câncer, também chamado de câncer cervical, é causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano, o HPV (chamados de tipos oncogênicos). A infecção genital por esse vírus é muito frequente e na maioria das vezes não causa doença.

Em alguns casos, ocorrem alterações celulares que podem evoluir para o câncer. Essas alterações são descobertas facilmente no exame preventivo, conhecido também como Papanicolau, e são curáveis na quase totalidade dos casos. Por isso, é importante a realização periódica do exame preventivo.

Excetuando-se o câncer de pele não melanoma, é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina, atrás do câncer de mama e do colorretal, e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil.


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