Sobreviventes de queda de avião em Guabiruba relembram momentos de tensão
Fábio Reis e Alexandro Cunhago eram os ocupantes da aeronave; imagens do acidente impressionaram todo o país
Fábio Reis e Alexandro Cunhago eram os ocupantes da aeronave; imagens do acidente impressionaram todo o país
Sábado. 25 de julho de 2020. 10h30 da manhã. A queda de avião em Guabiruba, na rua José Júlio Schumacher, no Centro da cidade, surpreende os moradores da região.
A aeronave, que teve uma pane no motor, era ocupada por Fábio Juliano Reis, 35 anos, e Alexandro Cunhago, 34 anos, piloto e passageiro, respectivamente. O avião partiu do aeródromo Fazenda Aero-Amil em Brusque para um voo experimental pela região.
Quando a aeronave sobrevoava o Centro de Guabiruba, o piloto percebeu problemas no motor e iniciou os procedimentos para o pouso de emergência, porém, não havia um lugar adequado para que o avião pudesse pousar. A alternativa, então, foi fazer o pouso no meio da rua, evitando o choque com as residências próximas.
Felizmente, Fábio e Alexandro sofreram apenas ferimentos leves. Após a queda, os dois saíram da aeronave conscientes.
Um ano depois do acidente, piloto e tripulante concederam uma entrevista ao jornal O Município, relembrando os momentos de tensão vividos na manhã daquele 25 de julho.
Morador de Brusque, Alexandro Cunhago embarcou na aeronave naquele sábado com a intenção de comprá-la. O voo ao lado de Fábio naquele dia era para avaliar o monomotor.
Alexandro atua como programador, mas seu grande hobby é a aviação. Semanas antes do acidente, ele havia concluído o curso de piloto e acredita que os ensinamentos adquiridos durante as aulas foram fundamentais para se manter calmo nos momentos anteriores à queda.
“60% do curso é treinamento de pane, simulação. Treinar para cair. Claro que existe uma tensão no momento, mas foi tranquilo de administrar”, relata.
Alexandro conta que percebeu que havia algo errado quando viu que o piloto estava realizando um procedimento de pane.
“Eu perguntei e ele confirmou, mandou eu me segurar. Comecei a olhar para baixo e só vi a estrada ali. Na aproximação, de longe, não é possível enxergar a fiação. Foi quando o avião bateu com a asa esquerda e virou. Qualquer pessoa que não soubesse o que estava acontecendo ali ia se desesperar, mas eu sabia os procedimentos”.
De acordo com ele, apesar de situações como esta serem consideradas ‘comuns’ na aviação, a maneira com que ocorreu em Guabiruba poderia ter terminado de forma trágica.
“Aconteceu no meio da cidade, em uma estrada estreita, movimentada. A aeronave ter conseguido pousar no chão, depois de bater na fiação, chega a ser um milagre estar vivo. O Fábio [piloto] foi muito perito, muito bom na ocasião porque não havia alternativa de pouso”, ressalta.
Apesar do susto com o acidente, Alexandro não deixou a paixão pela aviação de lado. Ele demorou algum tempo para conseguir entrar em um avião e voar novamente, mas agora já consegue praticar seu hobby tranquilamente. Ele, inclusive, já comprou um avião monomotor, o que era para ter acontecido no ano passado.
Completando um ano do acidente, Alexandro afirma que lembrou da data e que está programando uma festa para os amigos para celebrar a vida. “Vamos fazer uma festinha entre os amigos. É o meu segundo aniversário, ganhei uma nova data de nascimento”.
Fábio Juliano Reis, 36 anos, era o piloto do monomotor Kolbflyer naquele 25 de julho. Em entrevista a O Município, ele conta que o meio da rua foi o único local viável para tentar pousar a aeronave sem se machucar de forma mais grave.
De acordo com ele, o momento mais tenso foi pouco tempo antes do pouso, quando avistou uma mulher caminhando pela estrada. “Fiquei com muito medo na hora do pouso de a asa bater nela”, diz.
A mulher a que o piloto se refere é Letícia Schaefer que caminhava pela rua José Júlio Schumacher, quando o avião pousou, logo atrás. Na época, em entrevista a O Município, Letícia contou que no começo não sabia que o barulho era de um monomotor. “Achei que era um carro. Só quando vi os destroços percebi que era um avião”.
Fábio é piloto há sete anos, e antes do dia 25 de julho de 2020 nunca havia sofrido nenhuma pane. “Nunca aconteceu nada parecido, até porque tenho uma oficina de aviões e sempre mantenho em dia todas as aeronaves”.
Fábio e Alexandro não sofreram lesões mais graves. A recuperação do piloto levou três meses. Do acidente resultou em sete costelas quebradas, alguns dentes também quebrados e arranhões.
Apesar do grande susto, o piloto destaca que não ficou traumatizado e logo após a recuperação, já começou a voar novamente. “Esta é a minha profissão, tenho que estar preparado. Mas considero que somos sobreviventes, um milagre de Deus”.
Logo após o acidente, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) iniciou a investigação das prováveis causas que levaram à pane e à queda do monomotor modelo Kolbflyer.
Recentemente, a reportagem de O Município entrou em contato com o órgão, que informou que a investigação continua em aberto e que por isso não é possível passar mais detalhes.
A queda do avião em Guabiruba foi registrada por uma câmera de segurança e a imagem se espalhou pelas redes sociais e foi destaque em noticiários de todo o país. O registro mostra o avião batendo no poste e indo ao chão. Por pouco, veículos e a moradora Letícia Schaefer, que passavam pelo local não foram atingidos.