Socorro! Com fome, com medo e com culpa!
A Indústria Alimentícia, a indústria Farmacêutica e as inúmeras Dietas unidas à Mídia sensacionalista venceram! Destruíram a nossa habilidade de intuição e a consciência sobre os nossos próprios corpos e mentes!
A quantidade, a intensidade e a variedade da abordagem instalaram a incerteza sobre o que seria a verdade. Por exemplo: o que acelera o metabolismo, hoje; amanhã não é bem assim. Passamos pela restrição das gorduras, calorias, pelo quanto menos melhor, pela demonização dos carboidratos, das frutas, horas sem comer e etc. Alterações múltiplas trazidas por novos conhecimentos confundiram a nossa capacidade de identificar sensacionalismos e verdades e discernir um do outro. É difícil reconhecer a própria fome ou a saciedade.
Nos tornaram frágeis! Nos fizeram sentir medo e culpa pelo nosso instinto de sobrevivência. Nossos corpos estão famintos e exaustos de tanto passar fome e de tanto lutar contra a comida e contra a própria genética, ouvindo falar que tudo é apenas uma questão de “foco, força e fé”.
Como se algo dinâmico e complexo – tudo o que envolve o ato de comer – pudesse ser simplificado a uma condição: a força de vontade. Estamos adoecendo coletivamente, passando fome por “vontade própria”, ou comendo sem saber o porquê ou como parar. Perdemos o referencial sobre “o que é comer normal”.
Estamos perdendo a clareza e massacrando nossos corpos e mentes, numa busca insana por objetivos descabidos! Precisamos resgatar nossa consciência, para retomarmos a capacidade de ver, reconhecer e sentir as coisas como de fato são!
Enquanto escrevia este texto, recebi um excelente texto escrito pela nutricionista comportamental, Nathália Petry – ‘Como meu controle pode levar ao descontrole’ – em uma passagem ela diz: “(…)Por termos uma interpretação de que comer é questão de disciplina, então se não “conseguimos nos manter na linha” logo somos pessoas sem controle, indisciplinadas.
Comer é um ato natural, de nutrição e respeito ao corpo, que traz vida e energia para o nosso organismo. Por que precisaríamos ter tanta força de vontade para executar um ato prazeroso e essencial à sobrevivência? ”
Acredito que antes da próxima dieta restritiva, é imprescindível responder as seguintes questões:
O que estamos impondo a nós mesmos? O que queremos e buscamos com rigidez na condução da nossa alimentação? É legítimo acreditar que essa tal “falta de controle” é um desvio de caráter e justifica a culpa e o sentimento de fracasso?
Lutar contra nossos corpos, mentes e princípios é realmente um caminho necessário para uma alimentação equilibrada? Precisamos nos submeter a terceirização das decisões a respeito de cada garfada? Ou será que estamos aceitando falsas verdades e agindo feito marionetes, para que a roda da fortuna da indústria, dos laboratórios, das dietas e da mídia sensacionalista, nunca deixe de girar?
Até quando conseguiremos manter a fome orgânica, o prazer do comer normal e o direito à saciedade física, presos no calabouço desse sistema insano? Vamos continuar interpretando o papel que assumimos do “foco, força e fé”? Ou vamos tomar coragem para sair dessa inércia e ouvir a voz que grita lá no fundo da alma, nos pedindo para agir com sabedoria e resgatar o que entregamos, para nos sentirmos completos novamente?
Vou continuar me julgando por comer? Sentindo medo dos olhares alheios ou do próprio olhar? Aceitando uma culpa derivada de valores seculares? Ou vou tomar posse do funcionamento do meu próprio corpo e mente, identificar fome, saciedade e viver sem fome, sem medo e sem culpa?
Janaina Kühn Barni – Nutricionista – Educação Alimentar infantil e Rotina Familiar