As coisas funcionam mais ou menos assim: quando um artista morre jovem, é um baque. Um misto de surpresa e tristeza pelo potencial não realizado. Que o digam os membros do “Clube 27”. Essa sensação de que a pessoa morreu antes do tempo e que parte de sua obra, a parte futura, nos foi roubada, fica reverberando na gente – a cada in memoriam, voltamos a lamentar a perda.
Mas… com qual idade um artista já parece ter completado o seu legado e sua morte causa só tristeza, mas não a sensação de futuro decepado? Aos 80? Antes? Depois? Ou será que isso depende? Afinal, tem artista que define sua obra cedo e, depois, não acrescenta mais muita coisa.
Já Stan Lee… bom, o criador de boa parte dos super-heróis que habitam nosso imaginário, morreu com 95 anos, na última segunda-feira, dia 12 de novembro. Sua influência e sua marca na cultura pop são amplamente reconhecidas. A revitalização dos universos dos heróis no cinema deu novo fôlego à sua trajetória… e ainda tomou para si a velha tradição hitchcockiana das participações especiais “surpresa” em cada filme. Não são todos os autores que transformam sua própria imagem em ícone pop.
Stan Lee continuava ativo, contribuindo para as novas obras baseadas em seus personagens (ok, não vamos entrar no mérito do que foi criação ou cocriação dele, dá para deixar isso para os profundamente aficionados em quadrinhos). Não parecia, apesar dos problemas de saúde, disposto a se aposentar.
Então, apesar dos quase 96 anos, que Lee completaria no dia 28 de novembro, é compreensível que a gente tenha um sentimento de perda. De não poder mais contar com figura familiar nos próximos filmes da Marvel – ok, parece que ele deixou prontas suas participações em Capitão Marvel (lançamento previsto para março de 2019) e em Vingadores 4 (maio 2019). A tradição pode até continuar, nos filmes de animação. Tomara. Ele, nós, todos merecemos essas pequenas alegrias.
Em todo caso, o pior talvez seja a descoberta de que, no final das contas, nem ele era imortal…