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Sua majestade, o automóvel

Sou da geração da carroça e pé no chão de levantar poeira na rua Nova, da Tijucas sem calçamento, tempo de pouco tráfego nas ruas, de quase nenhum automóvel, esse cavalo motorizado, então coisa de poucos ricos. Viajar, era numa carroça embarcar, todo um dia sacolejar para, cansados, gente e animal, chegar. Assim, não deveria […]

Sou da geração da carroça e pé no chão de levantar poeira na rua Nova, da Tijucas sem calçamento, tempo de pouco tráfego nas ruas, de quase nenhum automóvel, esse cavalo motorizado, então coisa de poucos ricos. Viajar, era numa carroça embarcar, todo um dia sacolejar para, cansados, gente e animal, chegar. Assim, não deveria reclamar do trânsito de hoje, muito menos do automóvel. Preciso dele para viver no ritmo da geração pé de borracha.

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Hoje, as estradas são asfaltadas. Viajamos em alta velocidade sobre o tapete negro da velocidade, da morte embaixo de rodas e embaixo de parachoques da imprudência motorizada. Sim, temos asfalto para todos os lados e direções. Mesmo assim, ainda, vivemos a reclamar das estradas esburacadas e dos milhões de veículos que nos fazem perder a paciência e experimentar a angustiante sensação chamada estresse, coisa pós-moderna, de maltratar corpo e mente de muita gente.

É verdade que sua majestade, o automóvel, não tomou conta das estradas e ruas de nossas cidades de um dia para outro. O processo de ocupação urbana pelos bólidos motorizados de pés borracha, caldeiras ambulantes a expelir gás carbônico e a envenenar nossa atmosfera, até que demorou umas décadas. Houve tempo para se evitar muito do caos das cidades brasileiras entupidas de veículos poluentes, barulhentos e geradores de ansiedade coletiva. Mas, ninguém fez nada.

E, assim, o automóvel, paradigma do progresso da sociedade industrial, símbolo da saúde econômica da nação, foi chegando às dezenas, às centenas, aos milhões. Primeiro, para poucos, a elite à frente, porque rico sempre come melhor e primeiro. Depois, para muitos, a classe média também a merecer uma fatia do bolo de bem-estar e de prazer do conforto burguês, que experimentei ao comprar o meu primeiro fusca de segunda mão.

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Agora, nesta sociedade pós-moderna de consumo levado ao extremo, automóvel, manufatura massificada, quase todo mundo motorizado, porque trabalhador também é gente e carro já não significa luxo, nesta sociedade automobilística.

Assim, aconteceu a invasão veicular das nossas cidades. Nós, mesmos, fomos os sujeitos e vítima dessa balburdia enervante e sem remédio, dessa Babel de motores ruidosos e fumacentos a congestionar ruas e estradas deste país que, ainda, reverencia o bezerro de ouro do sistema industrial moderno, o senhor automóvel. Para sua majestade motorizada, tapete negro sem ranhura e sem buracos. Para pobres pedestres, calçadas esburacadas, inclinadas de fazer andar de lado, como um barco adernado.

Mas, o que fazer. Sou, também, um homo sapiens automobilisticus.