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Superintendente da FME expõe fragilidade dos recursos da pasta

Em reunião com representantes de entidades esportivas, Delmar Tondolo propôs planejamento

A Fundação Municipal de Esportes de Brusque (FME) apresentou em reunião com representantes de entidades esportivas, todos os recursos que a pasta dispõe e a maneira como eles são distribuídos. Em um bate-papo franco com a presença de cerca de 30 pessoas, representando 13 modalidades diferentes, o superintendente Delmar Tondolo deixou clara a dificuldade para manter as contas em dia e ainda investir no esporte da cidade. A reunião foi realizada na última terça (16).

Segundo os dados apresentados, a fragilidade da pasta se dá, principalmente, pelo montante em dinheiro que a FME dispõe para o ano. São R$ 1,170 milhões, valor que não acompanha as despesas anuais. Durante a apresentação, o superintendente demonstrou indignação com a realidade orçamentária da pasta. “Nosso orçamento não está de acordo com a história de Brusque no esporte”, diz.

No encerramento da apresentação, houve abertura para a discussão do futuro do esporte brusquense, com uma proposta para mudar a forma como as modalidades são geridas. Os dois principais pedidos foram aceitos de maneira unânime pelos presentes: Foco e união. Tondolo foi sincero ao falar sobre a proposta de mudança: “Se vocês quiserem se unir a gente para planejar uma maneira de mudar esta situação, vamos lá. Senão, vai cada um para o seu canto, olhando para o próprio umbigo e lutando pelas migalhas que nós podemos oferecer”.

Contas não fecham

Nos R$ 1,170 milhões que a FME dispõe não está inclusa somente a despesa com a folha de pagamento dos profissionais da fundação. O valor apresentado, portanto, é o gasto da pasta com todo o resto: Energia, segurança da Arena Brusque, gasolina, transporte, hospedagens, Bolsa-Atleta e eventos esportivos, entre outras despesas.

Somente os gastos com o Programa Bolsa-Atleta, para investimento nos desportistas de rendimento, comprometem R$ 800 mil, ou seja 68,4% do orçamento total. “Reforço que o problema não é o quanto investimos no Bolsa-Atleta, isso está certo para mim. O problema são os recursos reduzidos”, diz o superintendente.

As despesas dos eventos da Fesporte – Jasc, Joguinhos Abertos, Parajasc, Olesc e Jasti – foram estipuladas em R$ 200 mil. Em um ano, a pasta paga de energia R$ 114 mil, enquanto os seguranças contratados para fazer a vigilância da Arena custam aos cofres da Fundação R$ 118,2 mil.

Nesta conta já há um furo: São exatos R$ 1.232.200 em despesas para um orçamento de R$ 1.170.000. A FME fica com uma dívida de mais de R$ 60 mil desta subtração. No entanto, existem mais investimentos que não serão dispensados, como a realização dos campeonatos municipais, gastos com materiais esportivos, manutenção da Arena e premiações. “Somente no Campeonato Amador, nos Municipais de Bocha e nos Jogos Comunitários gastamos entre R$ 120 e R$ 140 mil”, diz Tondolo.

Brusque em desvantagem

Quando o assunto é a comparação do investimento na pasta esportiva com outros municípios, Brusque perde de goleada. Tondolo entrou em contato com secretários de esporte de nove cidades, e concluiu que a ‘terra do Marreco’ possui o menor investimento entre as consultadas.

Chama a atenção a disparidade com Jaraguá do Sul, município mais próximo de Brusque entre os consultados em termos de população. A cidade do Norte do estado conta com um orçamento de R$ 5 milhões, ou seja, quase quatro vezes maior do que o de Brusque.

Até mesmo Pomerode, município com apenas 25 mil habitantes – quase 100 mil a menos do que Brusque – , a secretaria de esportes recebe mais investimento: R$1,450 milhões. O mesmo acontece em Concórdia, município do Oeste que conta com 72 mil habitantes e um orçamento de R$ 3 milhões.

A forma como cada pasta administra os recursos disponibilizados também varia. Enquanto quase 70% é direcionado para o Bolsa-Atleta em Brusque, Jaraguá do Sul, por exemplo, investe apenas 13,8% no programa, cerca de R$ 200 mil. Chapecó sequer tem este projeto, pois investe mais no esporte de base.

Investimento ao contrário

Outros números apresentados se referem à disparidade dos gastos entre atletas em formação em relação aos de rendimento. De acordo com os dados, o município conta com cerca de 20 mil atletas entre alunos de ensino fundamental e médio e também participantes de competições municipais, enquanto apenas 350 atletas participam de competições fora do município, os chamados atletas de rendimento. No entanto, de acordo com o superintendente, o investimento nos grupos que treinam e competem somente dentro da cidade são menos de 10% do que no caso do valor investido neste segundo grupo. “E muitas vezes esse dinheiro ainda é para pagar pessoas de fora. Esta base, que sustenta o rendimento, é deixada de lado”, diz o superintendente.

Modalidades em destaque

De todas as modalidades de Brusque, quatro recebem a maior fatia do Bolsa-Atleta. Futsal feminino, atletismo, basquete e ciclismo somam, juntos, mais de 70% dos recursos do programa, ou quase 50% de todo o dinheiro disponível pela FME. São R$ 580 mil dos 800 mil totais para estas modalidades. A média é de R$ 16,1 mil mensais no período de nove meses.

A reportagem apurou que o Barateiro Futsal é o maior beneficiado do programa, já que recebe em torno de R$ 20 mil mensais neste período, enquanto o atletismo recebe o menor investimento entre os ‘quatro grandes’, cerca de 10 mil mensais, também por nove meses. “De acordo com a representatividade destas modalidades, estes valores não são injustos. Mas não devemos esquecer os outros esportes”, diz o superintendente da FME, sem confirmar a quantia.

Nova reunião

Agora, representantes e membros da FME devem realizar nova reunião nas próximas semanas para formar grupos e montar projetos esportivos em conjunto. Nos projetos, devem constar os gastos com hospedagem de atletas, viagens, inscrições, entre outros itens que comprovam o volume de investimento necessário para estes grupos. O objetivo é provar para a administração municipal o quanto são insuficientes os recursos disponibilizados para a pasta esportiva.

Segundo o vice-presidente da Abel, Luiz Antônio Moretto, somente a apresentação dos números não é suficiente. Para ele, o susto pode ser grande. “O não é muito fácil. Se apresentarmos tudo o que precisamos, não vamos ser ouvidos. Precisamos de uma conversa com o prefeito e com o presidente da Câmara para sermos ouvidos”, diz. O presidente da Associação Brusquense dos Incentivadores da Natação (Abain) adotou o mesmo discurso ao dizer que somente os gastos com sua modalidade já passam das possibilidades da FME. “Em um ano, chegamos a gastar R$ 500 mil”. Tondolo concordou com Moretto em trazer os representantes dos poderes legislativo e executivo de Brusque para a próxima reunião.