Luiz Antonello/O Município
Taça Cidade de Brusque de Paraciclismo reúne atletas estaduais e nacionais
Evento abre fim de semana da 13ª Volta Ciclística no município
Cerca de 40 paratletas de Santa Catarina e de outros estados do Brasil participaram na manhã deste sábado, 20, da Taça Cidade de Brusque de Paraciclismo. O evento, inédito no município, englobou as categorias tandem, handbike, triciclo e ciclismo.
Entre eles, estava o morador de Balneário Camboriú Antonio Carlos Sanches, de 43 anos, vitorioso do primeiro lugar da categoria H2 do handbike. Ele, que é vice-campeão brasileiro e 8º lugar no ranking mundial, participa há mais de oito anos de competições.
“Sofri um acidente de moto em 1999 e sou tetraplégico, não tenho movimento nas pernas. Comecei a fazer provas de natação em 2001, como lazer. Também fui atleta de tênis de campo, travessia de mar, fui o único atleta de Santa Catarina tetraplégico que fez prova de paratriatlo”, explica.
As largadas foram realizadas em duas baterias, sendo uma bateria para as Classes H e T e outra bateria para as Classes C e B; com sequência e ordem de largada pré-estabelecida entre cada uma das classes.
Antonio destaca que, além de competir, o momento propicia a reunião de amigos. Ele dividiu o pódio com o paratleta Eduardo Bezerra, 39, do Rio de Janeiro, que ficou em segundo lugar. “Isso que é legal, a gente é adversário”, inicia Antônio, “mas é amigo ao mesmo tempo”, completa Eduardo.
Atleta do paraciclismo desde 2017, Eduardo ressalta que essa foi a primeira prova que ele participou em Santa Catarina. Atualmente, ele é um campeão pan-americano. “Eu nasci com mielomeningocele, aí perdi a sensibilidade da cintura para baixo. Comecei a praticar natação, mas me encontrei no paraciclismo, pois é um esporte que tenho condições de competir e ganhar medalhas”, relata.
“É legal ter esse evento aqui. O nosso país não é acessível ao deficiente, e quanto mais ter esportes assim é melhor, porque incluem mais o deficiente físico na sociedade. Já tem exclusão pela deficiência, as pessoas já te olham diferente, pelo menos tem o esporte”, avalia.
Segundo Fabio Constantini, que é parte da comissão da organização, a Taça Cidade de Brusque de Paraciclismo é uma competição inédita no estado.
O evento é considerado mais um passo para que mais competições como essa ocorram na região e em Santa Catarina. “Brusque pode se dizer que foi pioneira, abraça a causa junto com a Fundação Municipal de Esportes e a Federação Catarinense de Ciclismo”, completa.
Primeira participação
Na categoria H4, o paratleta João Paulo Santiago Gregorine, 22, ficou em primeiro lugar. De Criciúma, essa foi a primeira vez que ele participou de uma competição de paraciclismo no estado.
João comenta que nasceu com mielomeningocele, o que causou a perda dos movimentos nas pernas. Portanto, para ele, o esporte é muito importante para o desenvolvimento. “Comecei na natação aos 11 anos de idade, já fui campeão pan-americano e brasileiro. Agora estou migrando para o paraciclismo para novos desafios”, pontua.
De Biguaçu, o paraciclista Edson Luiz Schneider Fernandes, 44, também competiu na categoria H4 em Brusque, na qual ficou em segundo lugar.
Faz dois anos que Edson começou a praticar esportes e essa foi a primeira vez que ele participou de uma competição. “Há 4 anos sofri um acidente de moto, o caminhão passou por cima das minhas pernas. Nos dois anos de pandemia, tive doenças por ficar muito parado e precisei me movimentar. Aí me identifiquei com a handbike e hoje pratico a modalidade e o paratletismo”, conta.
Mais perto de casa
Campeão no primeiro lugar da categoria Triciclo 2, Valmor Schmitz Jr, 33, veio de Barra Velha e representa a equipe de Itajaí nas competições. “Temos eventos em São Paulo e Rio, fora do estado. É bom ter eventos aqui, por representar a sua cidade e divulgar o esporte”, ressalta.
Valmor, que tem paralisia cerebral, comenta que a sempre gostou de praticar esporte e, com o tempo, conseguiu evoluir com prática. “O esporte faz eu não me sentir tão de fora, aqui as pessoas não me olham com uma diferença. Aqui todo mundo tem uma deficiência e não têm aquele olhar de ‘coitadinho’”, comenta.
Na Taça Cidade de Brusque de Paraciclismo, a mãe de Valmor, Sonia Schmitz, 58, pôde acompanhá-lo e foi ela que entregou a medalha no pódio. Ela explica que conseguiu vir junto, pois o evento foi perto de casa.
“Eu gosto muito de estar no meio deste movimento, porque conheço e revejo muitas pessoas. O Valmor já foi para outros estados com a equipe técnica e aí eu não acompanho”, detalha.
A paraciclista Valdirene Brasil da Silva, 50, veio de Itajaí e participou na categoria WC2. Ela conta que essa foi a primeira competição no estado que participou.
“Seria bom se tivessem mais eventos, porque vamos para fora. Para nós, que somos atletas, é muito significativo. Facilita para trazer os equipamentos e a família. Estamos em casa”, complementa.
Conforme Antonio, um grupo de paraciclista foi criado por atletas, que conversam para ser incluída a prova na Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) no estado. O objetivo é cada vez mais ter competições locais.
“Acho interessante, pois a movimentação de paraciclistas fica em evidência. É uma oportunidade para gente, que está começando, aí podemos participar de provas perto da residência”, comenta Edson.
“Ter uma competição dentro do estado é importante para difundir esse esporte. Esperamos que organizem mais eventos como esse para que o esporte cresça cada vez mais”, completa João.
Volta Ciclística
A Taça Cidade de Brusque de Paraciclismo faz parte da programação da 13ª Volta Ciclística no município. O evento ocorre neste fim de semana e é organizado pela Associação Brusquense de Ciclismo (Brucicle), com apoio da Federação Catarinense de Ciclismo (FCC), Fundação Municipal de Esportes de Brusque e do River Mall.
Neste sábado, a partir das 13h, acontece a prova de contrarrelógio individual da prova de ciclismo. No domingo, 21, a partir das 7h50, acontecem as provas no circuito. A prova tem 6,2 quilômetros, pela avenida Governador Luiz Henrique da Silveira, a Beira-Rio margem esquerda. O número de voltas depende da categoria. A concentração será no River Mall, no bairro São Luiz. A Volta vale pontos para o ranking estadual e nacional da categoria.