Tailandês em intercâmbio passará 11 meses em Brusque
Durante a estadia na casa de uma família brusquense, ele estudará na escola Gregório Locks
Escolher um país para fazer intercâmbio pode exigir meses de pesquisas. Os objetivos da viagem, as oportunidades oferecidas pelo local de escolha e a cultura dos nativos, segundo as escolas especializadas em intercâmbio, precisam ser levados em conta durante a decisão. Os itens, no entanto, ficaram em segundo plano para Sarit Cheewayaphan. Em Brusque desde o último sábado, 28, o tailandês de 17 anos escolheu o Brasil graças a um sonho de infância:
“Quando eu era pequeno, eu sonhei que estava no Rio de Janeiro. Então, quando tive idade suficiente para fazer um intercâmbio, escolhi o Brasil. Também pela língua e pela cultura. Quero aprender o português”, diz.
Hospedado na casa de Lorenzo de Souza, Sarit passará 11 meses em Brusque e, durante o período, estudará na Escola de Educação Básica Monsenhor Gregório Locks, no bairro Dom Joaquim.
Durante a manhã, ele terá aula com os alunos da primeira série do primário para aprender a ler, a escrever e a falar em português. Durante a tarde, as aulas serão com os alunos da segunda série do Ensino Médio.
Há apenas três dias no país, o intercambista já pôde notar as diferenças entre as culturas. As principais delas estão relacionadas à comida e aos gestos de saudação. De acordo com ele, na Tailândia, os alimentos são “doces e apimentados ao mesmo tempo” enquanto que no Brasil são “muito salgados”. Para prevenir-se, Sarit trouxe condimentos tailandeses. “Ele trouxe mais comida do que roupa”, brinca o anfitrião Lorenzo.
Os gestos de saudação também surpreenderam Sarit: “Lá, nós nos cumprimentos sem encostar um no outro. Geralmente é só com um aceno de cabeça. Aqui o pessoal abraça, beija, dá as mãos. É muito legal”. Ainda com dificuldades para cumprimentar os brasileiros, o tailandês pretende inserir-se rapidamente na cultura brasileira.
“Quero aprender bastante com a cultura do Brasil. Tenho conhecidos que já haviam vindo para cá, e todos falaram que eu escolhi o país certo. Eu podia ter escolhido entre o Brasil, a Argentina e a Bolívia”.
Troca de experiências
Os benefícios oferecidos pela viagem não se restringem apenas ao intercambista. Os hospedeiros e os professores da escola pretendem conhecer a fundo a cultura e os costumes do país asiático. A mãe de Lorenzo, Rosana Petermann de Souza, afirma que achou “absurda” a ideia de abrigar um intercambista. Porém, o filho a convenceu.
“Vimos que o programa de intercâmbio é sério e percebemos que podíamos conhecer uma cultura totalmente diferente da nossa. Quanto à língua, sei que não vou conseguir aprender inglês, mas para o Lorenzo, que já sabe falar, será muito bom”, afirma.
Lorenzo acompanhará Sarit nas primeiras semanas de aula. De manhã, turno em que o intercambista terá aulas com a primeira série, o brasileiro permanecerá ao lado do amigo durante todo o período. Para a professora da turma, Marize Garcia Merizio, a troca cultural entre as crianças e o tailandês será importante para ambos. “As crianças adoraram ele na primeira aula. Como ele está vindo para aprender a ler e a escrever, não terei de modificar os trabalhos. Ele vai aprendendo como os mais novos”, explica.
O professor de inglês da escola, Nélio Bauer, já havia ministrado aula para uma aluna da Tailândia em 2013. Segundo ele, a experiência de receber um aluno de outro país é rica tanto para o estrangeiro quanto para os nativos. “As visões de mundo são completamente diferentes. Essas trocas culturais deveriam ocorrer todos os anos. Tanto de alunos brasileiros indo para outros países como de estrangeiros vindo para cá”.
O intercâmbio
Lorenzo e Sarit se inscreveram no site da AFS Intercultural Brasil, uma Organização Não Governamental (ONG), e foram selecionados para o intercâmbio. Primeiro, o tailandês permanece no Brasil durante 11 meses. Depois, o brasileiro pode ir à Tailândia. A viagem é custeada pelo próprio intercambista, que apenas pode escolher o país do intercâmbio – estado e cidade são escolhidos pela própria ONG. Sarit pagou 11 mil dólares, o equivalente a cerca de R$ 30 mil para viajar. A família hospedeira não é remunerada para abrigar o estrangeiro.