Telefone e câmera: todos fotógrafos
Hoje, vivemos tirando fotos, tantas e de forma tão rápida que a nossa curiosidade dura apenas alguns segundos. Depois, não teremos mais tempo para ver novamente a foto digital gravada na tela do telefone celular, aparelho esperto transformado em câmera fotográfica a colocar em nossas mãos a magia e os mistérios do mundo virtual. É […]
Hoje, vivemos tirando fotos, tantas e de forma tão rápida que a nossa curiosidade dura apenas alguns segundos. Depois, não teremos mais tempo para ver novamente a foto digital gravada na tela do telefone celular, aparelho esperto transformado em câmera fotográfica a colocar em nossas mãos a magia e os mistérios do mundo virtual. É estranho, quanto mais a tecnologia nos oferece velocidade, menos tempo parece que temos para fazer as coisas. E as fotos tiradas permanecerão no mundo da virtualidade, depois de um instantâneo e real olhar.
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Sou do tempo da máquina fotográfica, quase meio tijolo pendurado ao pescoço, para não perder, não cansar e estar sempre à mão para uma pose imprevista, não programada, porque nunca se sabe o que pode aparecer pela frente. Era aquele aparelho que fotografava com película de celuloide, comprida tira colorida ou em preto e branco, enrolada num pequeno tubo de lata, a Kodak dominando o mercado, até sua concordata causada pela câmera digital, sem filme para revelar e sem limite para fotografar. Ironia do destino da vida empresarial, a gigante da fotografia quebrou por não investir numa tecnologia que ela própria teria criado.
A história da fotografia digital, segundo pesquisei, começou durante a II Guerra Mundial. Avançou até o aparecimento, no começo dos anos 1980, da primeira câmera digital, de baixa resolução, poucas fotos armazenadas em disquete e preço passando dos 12 mil dólares. Mas, em seguida, os japoneses sempre na frente, a câmera digital tomou conta do mercado, com preço acessível e qualidade de resolução para concorrer com as melhores máquinas fotográficas de filme e papel, em pouco tempo transformadas em peças de museus ou de colecionadores.
O tempo virtual parece mesmo não ter relógio nem calendário. Logo, outra mudança tecnológica tão rápida que nem percebemos. É o telefone celular, nas mãos de gente de todas as idades. Mas, muito pouco vai à orelha para comunicação com o próximo do outro lado desse esperto aparelho. Muito pouco ou quase nada se fala ao telefone, que virou máquina fotográfica para popularizar, massificar e banalizar a arte de fotografar, nas mãos amadoras de gente que só sabe e só quer clicar. Virou mania sem hora, sem lugar e sem idade, tirar fotografias. Agora, viver é clicar, para a vida congelar no mundo virtual.
Surfando na onda dessa incrível revolução digital, todos são fotógrafos. Afinal, fotografar não custa nada, coisa inimaginável nos tempos da Kodak. As fotos, agora, são por atacado, a todo o momento, em todos os ambientes, de frente e de costas, dos outros e de si mesmo, porque a moda é, também, a selfie. Afinal, todos carregamos uma boa dose de narcisismo e a ordem é clicar até que a imagem agrade ao nosso ego.
Pois é. Neste tempo de mudança acelerada, vivemos, hoje, de telefone-câmera nas mãos, tirando fotos, tantas que acabaram matando a nossa curiosidade. Tantas, que mal olhamos as pessoas ou paisagens retratadas. Depois, nunca mais voltaremos a contemplar essas imagens. Ficarão para sempre esquecidas no infinito arquivo do mundo virtual.
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