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Tem certeza? NUNCA!

O conhecimento é um dos maiores dons que podemos ter em nossas vidas. E, provavelmente, um dos dons mais difíceis de serem alcançados. Parece que, sempre que se avança no conhecimento em uma determinada área, mais se percebe o quanto ainda há por ser descoberto. Quando se trata de conhecimento, nunca há fim do túnel. Sempre algo a mais, uma descoberta a mais, uma dúvida a mais. E é essa dúvida, a eterna dúvida, que conduz a todas as descobertas e evoluções que vemos hoje em dia.

Acontece que, seja em nosso dia-a-dia, seja nas mídias sociais ou na TV, o que mais vemos são pessoas cheias de certezas. Não há espaço para dúvidas, apenas as certezas de que possuem as informações, as habilidades ou os métodos mais corretos. E me refiro a todas as áreas de nossas vidas – profissional, pessoal, relacionamentos, política, enfim, tudo. A dúvida muitas vezes é vista como insegurança ou como ignorância, e por isso prontamente rejeitada.

Pesquisadores já foram mais a fundo no assunto:  estudos comprovam que, aqueles cujas convicções não admitem dúvidas, normalmente estão enganados. Já aqueles que sempre acham que sabem o insuficiente, ou que podem estar errados, estes normalmente são os maiores detentores da sabedoria. É paradoxal, mas é compreensível, não?

Um exemplo para tentar clarear o que quero dizer: Quando eu dava aula na especialização em oftalmologia, havia vários tipos de residentes: havia aqueles cheios de certezas, que se gabavam de suas cirurgias; e havia aqueles eternos insatisfeitos, que não se gabavam pois sempre achavam que poderiam melhorar em algo.  O resultado, você já deve imaginar (ou não…): aqueles confiantes, que tinham sempre certeza de suas atitudes, eram os que mais erravam. No entanto, ao mesmo tempo em que erravam, normalmente o ego não permitia admitir o erro. Já aqueles que sempre duvidavam de suas atitudes, pensando duas, três vezes antes de cada ação, questionando suas condutas e pesquisando melhores opções, ah, esses eram os melhores!

Portanto, permita-se sempre duvidar. Ou melhor dizendo: OBRIGUE-SE a duvidar. Já dizia Freud: “A dúvida é o princípio da sabedoria”. Pois eu diria mais: a dúvida é o princípio, o meio e a continuação da sabedoria. A curiosidade em resolver as eternas dúvidas é que nos leva ao conhecimento. A sabedoria maior pertence aos humildes, que permitem-se ter dúvidas, e aos curiosos, que se determinam em sanar estas dúvidas.

E com este aprendizado, desde então, procuro sempre duvidar de quem tem certeza de tudo. Prefiro os cheios de dúvidas!


Maiara Dalcegio Favretto
– Oftalmologista