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Tempos do circo

No último final de semana, estive em São Paulo para uma visita às minhas filhas, genros e netos. Afinal, o sangue é laço de afetividade que atrai, nos cerca e nos faz percorrer distâncias para uma reunião, mesmo que passageira, dessas pequenas tribos que têm a mesma origem e carregam a mesma saga de vitórias […]

No último final de semana, estive em São Paulo para uma visita às minhas filhas, genros e netos. Afinal, o sangue é laço de afetividade que atrai, nos cerca e nos faz percorrer distâncias para uma reunião, mesmo que passageira, dessas pequenas tribos que têm a mesma origem e carregam a mesma saga de vitórias e fracassos. Dessa vez, aproveitei para assistir a um espetáculo do Cirque du Soleil. Desde criança, trago na memória as emoções vivenciadas nas arquibancadas dos circos e touradas que, de vez em quando, passavam por minha terra tijucana.

Lembro ainda dos circos chegando à cidade, percorrendo lentamente a principal e quase única rua do município. Na carroçaria de um velho caminhão, sacolejando ao sabor dos buracos da via sem calçamento, os palhaços com suas roupas coloridas, espalhafatosas, com seus trejeitos, caretas e misuras. Principalmente, com suas caras pintadas, máscaras da ilusão para vender alegria aos outros e esconder a própria tristeza pela vida de andanças sem rumo, de partidas e chegadas sem direito a ficar.

Circo pobre, cortejo rápido, sem muito alarde. Dois ou três caminhões para o transporte do elefante, do leão e do sempre presente chipanzé confinados nas jaulas da solidão. Não se podia imaginar que, um dia, os animais seriam proibidos de exibir suas façanhas nos palcos iluminados da arte circense. A trupe, geralmente, formada pela família, porque vida de circo exige sacrifício, resignação, sangue nômade nas veias e, claro, mais alguns agregados-artistas do picadeiro, viajavam em duas ou três caminhonetas. O pequeno desfile passava direto para levantar a lona, quase sempre com furos e remendos, num terreno baldio do popular bairro da Praça.

Dos circos famosos que passaram por Tijucas e marcaram minha infância, lembro dos Irmãos Robattini, dos Irmãos Queirolo e do Circo Garcia. Chegavam em longa carreata de caminhões, caminhonetas e, até, de automóveis para acampar no centro do município, próximo à Igreja matriz. Era um tempo sem TV, sem internet e as sessões lotavam, mesmo numa cidade de gente empobrecida.
Com seus elefantes, leões, tigres, acrobatas, equilibristas e palhaços, esses circos levaram a magia, a fantasia e a alegria para muita gente da minha geração. Principalmente, com os seus trapezistas, porque circo que se preza, não dispensa esses homens-pássaros, que voam nas alturas da lona colorida em saltos duplos e triplos, na busca frenética das mãos seguras, firmes, companheiras e irmãs porque circo é tribo de gente cigana do mesmo sangue.

Ah! Ia esquecendo. O Cirque du Soleil é um grande espetáculo. É circo dos tempos modernos. Não se apresenta em Brusque nem em Tijucas.