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Tesouro dos poloneses

Descendentes dos imigrantes mantêm vivas as origens por meio da culinária

Aos 87 anos, Apolônia Resner mantém firme as origens polonesas de sua família por meio da culinária. Aos fins de semana, é comum que os cinco filhos se reúnam na casa de quintal grande e variado no bairro Águas Claras, para comer, principalmente, pierogi e holuptchi.

Os dois pratos são típicos da cozinha polonesa, que é composta, basicamente, por batata, repolho, beterraba e carne suína. O pierogi é um dos mais conhecidos e consiste em uma massa recheada, fechada em formato de meia-lua – como um pastel -, cozida em água e servida com recheios e molhos variados.

Dona Apolônia Resner faz o holuptchi para a família | Foto: Bárbara Sales

Já o holuptchi ou golabki é um enroladinho de couve ou repolho com carne ou arroz. Dona Apolônia faz os dois tipos e, ao arroz, acrescenta o ‘formentão’, um grão também conhecido como tatarca e trigo-mourisco, que foi trazido pelos imigrantes.

Há muitos anos, o formentão era plantado pelos descendentes de poloneses na região e até era encontrado em alguns supermercados da cidade, porém, com baixa saída, deixou de ser comercializado em Brusque.

Hoje, para poder acrescentar o ingrediente tradicional em suas receitas polonesas, dona Apolônia precisa trazer o grão em grande quantidade de Curitiba (PR). “Minha filha traz de Curitiba pra mim porque não se acha mais. Mas eu sempre tenho em casa. Minhas sobrinhas uma vez até se espantaram, porque ninguém mais planta isso por aqui. Não é mais como antigamente”, diz.

No almoço na casa de dona Apolônia: holuptchi, galinha ensopada, formentão, beterraba e couve | Foto: Bárbara Sales

Os avós maternos e paternos de dona Apolônia vieram para o Brasil em busca de melhores condições de vida e, segundo ela, se instalaram inicialmente em São Valentim, localidade de Nova Trento. Eles ficaram por ali algum tempo e depois foram para o Pinheiral, hoje Major Gercino.

De lá, seguiram para a localidade chamada de Rio Veado, limite entre Major Gercino e Nova Trento. Foi ali que Apolônia nasceu e morou durante boa parte da vida. “Nasci lá, trabalhei, estudei, dei aula até me aposentar e com 45 anos vim pra Brusque porque lá estava muito ruim, as terras boas já tinham acabado, tinha as crianças que precisavam estudar”, conta.

Foi durante seu tempo em Rio Veado que ela aprendeu a fazer as comidas típicas polonesas. Desde criança, sempre acompanhou a mãe e a avó na cozinha e rapidamente aprendeu a fazer os pratos que remetem às origens de sua família. “Minha mãe fazia muita comida boa. Era cada assado de porco. Também semeava formentão, batata, criava porco, galinha, pato, marreco, vaca de leite”, lembra.

Na casa de Maria de Lourdes Civinski Kormann, o pierogi é o queridinho | Foto: Bárbara Sales

Com a tradição polonesa sempre tão presente em sua vida, Apolônia não teve outra opção senão manter as raízes. Faz para a família o pierogi e o holuptchi, mas além desses dois pratos, também sabe fazer a tradicional sopa de beterraba com costelinha de porco e repolho, conhecida como barszcz ou borscht e a kasha – canjica polonesa, feita também com o formentão.

“O borscht é difícil alguém gostar. Fiz esses dias aqui em casa, mas só uma das filhas gostou”, diz.

Apesar de ser o berço da imigração polonesa no Brasil, os pratos tradicionais daquele país não são tão conhecidos dos brusquenses. Na maioria das vezes, somente famílias descendentes dos imigrantes conhecem e fazem as receitas, como é o caso da família de dona Apolônia. Ela, inclusive, já repassou os ensinamentos para as três filhas mulheres que costumeiramente fazem as receitas.

Principal prato polonês é uma espécie de pastel cozido recheado com batata e queijinho | Foto: Bárbara Sales

“Todas sabem fazer. Aqui em casa ainda mantemos essa tradição e todos gostam muito”, destaca.

Assim como na família de dona Apolônia, quem faz questão de manter vivas as origens polonesas é Maria de Lourdes Civinski Kormann, 68 anos. O prato preferido dela e de sua família é o pierogi. No dia que o prato polonês é feito para o almoço, as três filhas e os netos não perdem a chance e vão logo saborear o pastel cozido recheado com batata e queijinho.

“Para fazer o pierogi leva a manhã inteira, por isso, não faço com tanta frequência. Mas quando faço, todos vem comer. Eles adoram”, diz.

Além do recheio de batata e queijinho, os poloneses também usam como recheio do pierogi o repolho azedo (semelhante ao chucrute), carne, só batata ou só queijinho. O prato também pode ser frito. Para o molho, o tradicional é o de cebola com manteiga, mas tem também o molho de nata, de cebolinha verde, e ainda molho vermelho com carne moída. “Tem muitas maneiras de servir o pierogi. Aqui em casa faço o de batata com queijinho e o molho de cebola da manteiga. Fica muito bom”.

Lourdes aprendeu a fazer o prato com 15 anos, logo depois de casar. Foi ensinada pela mãe, que sempre fazia essa e outras receitas originárias da Polônia. A aposentada hoje faz só o pierogi, que é o prato mais apreciado pela família, mas ela também conhece outras receitas. “Sei que tem a czarnina, que é a sopa de sangue de pato. Minha mãe fazia muito. Até sei fazer, mas acho que eles não vão gostar muito”, ri.

Para Lourdes, o pierogi é símbolo de família reunida e de respeito às tradições. “Gosto de fazer. É uma forma de passar para meus filhos e netos de onde viemos”.

Clique no seu prato preferido e aprecie!
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