Trabalho de voluntários muda a realidade do bairro Dom Joaquim
Campanhas de arrecadação já ajudaram moradores com alimentos, roupas e até moradia
A união de esforços e o trabalho de voluntárias têm auxiliado a amenizar a vida de pessoas em situação de vulnerabilidade no bairro Dom Joaquim. Além de campanhas de arrecadação, os grupos atuam na difusão de conhecimento e buscam auxiliar na melhoria da qualidade de vida.
Nascida em Botuverá, Isabel Morelli, 59 anos, acompanhou como poucas pessoas os resultados das ações. Ela mora há 55 anos no bairro e dedica quase metade deste tempo para o trabalho voluntário e a atenção comunitária. A primeira experiência veio com a participação no grupo de idosos, 26 anos atrás.
Um ano mais tarde, veio o convite para integrar o grupo de Ação de Social da Igreja Matriz Santa Catarina. Por pelo menos duas vezes, ela precisou assumir a coordenação da entidade e soma 11 anos no cargo.
Esforço convertido em casas
Entre os motivos de orgulho para a voluntária está um projeto ousado, tirado do papel duas vezes: a construção de casas para famílias do bairro. As duas construções foram feitas no intervalo de dois anos.
O projeto exigiu campanhas de arrecadação e doações. Na época, as mobilizações beneficiaram uma família que, embora possuísse terreno, não tinha recursos para construir, e outra que morava em condições precárias.
Mesmo com as campanhas desenvolvidas em 2010, ela descarta o rótulo assistencialista das atividades. Para ela, a mobilização de tantas pessoas está ligada ao caráter emergencial da atuação dos grupos. “Cada um se engajou da forma que pôde”.
Nas campanhas, roupas, alimentos e até itens como cadeiras de rodas e muletas são arrecadados. O cenário, afirma, é reflexo das dificuldades de famílias de migrantes e da economia nos últimos anos. “Não havia este tipo de necessidade por aqui”.
Se as demandas cresceram com o passar do tempo, a Ação Social precisou acompanhar. De apenas uma sala no início das atividades, o grupo passou a ter um prédio próprio, com seis espaços. Neles, o grupo armazena materiais e desenvolve cursos, palestras e iniciativas de apoio à gestantes.
Preocupação comunitária
Nas atividades voltadas às futuras mães do bairro, além de conhecimento e acompanhamento profissional, o grupo auxilia com a elaboração de um enxoval. Para a entidade se manter e ter recursos para ações pontuais, parte das peças vai para um brechó e os valores arrecadados com os preços simbólicos são destinados a um caixa.
Apesar de contar com cerca de 40 membros regulares nos dois grupos, Isabel acredita que seria possível reunir um grupo ainda maior de voluntários. Para ela, boa parte da limitação vem da baixa participação de jovens em entidades do tipo.
Segundo a coordenadora, com o alto número de atividades, muitos acabam não tendo tempo para se dedicar ao voluntariado. Mesmo com a limitação, ressalta a atuação das colegas. “Fazer o bem ao próximo é algo que volta para a gente e é uma alegria”.
Mãe de três filhos, Isabel dedicou a vida a acompanhar o desenvolvimento da família. Antes de se engajar nas causas sociais, limitava as ações aos projetos da escola.
Geração de renda
A religiosidade é herança dos pais. Entre os sete irmãos, a proximidade com o meio também é forte e um deles chega a ser ministro da igreja. Ela foi instrutora de Catequese por 15 anos. Até hoje a mãe dela, aos 81 anos, ajuda como voluntária.
De acordo com Isabel, modelos semelhantes ao adotado no bairro Dom Joaquim também são desenvolvidos em outros pontos da cidade. Para ela, mesmo com o sucesso de tantas ações ao longo dos anos, a criação de alternativas de geração de renda para a comunidade ainda é um sonho do grupo.
Segundo a coordenadora, um projeto do tipo, com ao menos um servidor fixo, poderia ampliar as possibilidades profissionais nos bairros e melhorar a qualidade de vida. Apesar da realização de cursos esporádicos, o caráter voluntário das atividades dificulta a implantação da proposta.