Trabalho duro, mas recompensado: ex-funcionários lembram do tempos de Usati
Usati deixou marcas positivas e foi local de aprendizado e amadurecimento para muitos batistenses
Salvio Antônio Poffo, 63 anos, trabalhou na Usati por 11 anos, entre 1980 e 1991. Vindo de Camboriú, ele entrou na usina para trabalhar em uma caldeira moderna que foi comprada na época. Até hoje mora em São João Batista.
Apesar de ter ficado tanto tempo na empresa, ele lembra algumas dificuldades que passou em seu começo na Usati.
“O diretor não queria que as pessoas trabalhassem em outras empresas, queria que se dedicassem ali. Era a única empresa que tinha aqui. Na verdade, praticamente todo mundo trabalhava ali. Vim para São João Batista achando que ia trabalhar na agricultura, na plantação de cana, mas acabou que me colocaram dentro da fábrica. Fiquei três meses rodando para lá para cá, até que descobri que era para trabalhar na montagem da caldeira”.
Ele operou a caldeira, ficou como encarregado de turno, trabalhou na parte elétrica também. Apesar das adversidades enfrentadas no início de seu período na empresa, conseguiu juntar recursos para tocar sua vida depois do fechamento da usina.
“Por um lado, pelo salário foi gratificante, mas quando entrei, eu tinha um pouco de estudo, algumas pessoas viravam a cara, porque eu era novo na empresa, mas normal. Eu trabalhei em turno, no começam eram três e eu trabalhava à noite, de madrugada, cada semana mudava, era ruim se acostumar a dormir”, conta.
Além de empregar muita gente, a Usati tinha uma influência em toda a cidade de São João Batista. A historiadora Raquel Mazera, esposa de Salvio, se recorda que a usina foi o primeiro lugar da cidade a ter energia elétrica.
“Eu me lembro, era criança, e só tinha eletricidade ali na usina e na casa do senhor Benjamin Duarte. Aqui no restante da cidade baixa não havia energia elétrica”.
Raquel também lembra muitas histórias contadas pela avó sobre a Usati: quando as caldeiras acendiam, cinzas e fumaça se espalhavam pela cidade, que deixava as roupas que estavam sendo ‘coaradas’ nos gramados cheias de cinzas.
Na época, muitas mulheres também eram responsáveis por lavarem os sacos que o açúcar era transportado. Além disso, ela lembra que também havia muitas abelhas na cidade por causa da usina.
Salvio e Raquel moram em São João até hoje. Depois do fechamento da Usati, ele abriu uma eletrônica, que ainda toca. Ele trabalhou lá praticamente até o encerramento e se recorda que algumas pessoas passaram dificuldade por conta da desativação da usina na cidade.
“Quem tinha uma sapataria foi trabalhando com outras que eram um pouquinho maiores, fazendo sociedades, até que depois vieram empresas fortes, veio mão de obra de fora, e começou a melhorar de novo”.
O trabalho na usina não era fácil. Os turnos chegaram a ser de 12 horas, até que mudaram para oito e depois seis, nos últimos anos da história da Usati. Zelito Silva, 66, é de Major Gercino e se mudou para São João Batista quando tinha 18, justamente para trabalhar na usina. Seu pai era muito amigo de um dos diretores da empresa e surgiu uma vaga para encarregado de depósito, um trabalho “menos pesado”, lembra, com bom humor.
Zelito destaca que, apesar do trabalho duro na usina, é grato pelos dez anos que passou lá, entre 1974 e 1984. “A empresa pagava bem, bem certinho, entrei ainda muito jovem. Foram dez anos muito bons. Todo mundo que trabalhou ali aprendeu a respeitar, eu aprendi muito lá, meus amigos dizem o mesmo”.
Na época de moagem, a usina trabalhava 24 horas por dia, e os funcionários não tinham muito tempo para intervalo. “A gente trabalhava direto, era uma época bem diferente”, destaca Zelito. Na época da entre-safra, a rotina já era um pouco mais tranquila. “A gente tinha tempo para almoçar no refeitório, que era muito bom, entrava às 7h (ao invés de 5h na época de maior produção), tinha pausa para jogar canastra, dominó”.
Ele lembra que a usina batalhava para manter a hegemonia na cidade e evitar o crescimento de outras. “Trabalho na fábrica de açúcar é muito bravo, enquanto é muito limpinho, ajeitadinho no calçado”, compara.
A saída da usina aconteceu porque Zelito abriu seu próprio negócio, uma funerária que sua família administra até hoje. Ele acredita que, apesar da usina ter sido importantíssima no desenvolvimento da cidade, seu fechamento aconteceu na hora certa.
“Foi muito boa enquanto durou, fábricas de açúcar e calçado não combinam muito. Mas foi o lugar onde a gente aprendeu a ser gente, a viver. Além disso, grande parte de quem tem empresa grande aqui, trabalhava na usina. Agradeço muito esse tempo lá”.
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