Tragédia em SP: moradora de Brusque que viajou para São Sebastião relata desespero após chuvas

Feriado de Carnaval de Jéssica e amigas foi interrompido

Tragédia em SP: moradora de Brusque que viajou para São Sebastião relata desespero após chuvas

Feriado de Carnaval de Jéssica e amigas foi interrompido

Carros cobertos pela água, veículos saqueados, pessoas chorando desesperadas e nenhum sinal de internet. Uma cidade devastada foi o que viu a moradora de Brusque Jéssica Rodrigues quando saiu de uma boate em São Sebastião (SP). Os planos da enfermeira de 31 anos de curtir o feriado de Carnaval foram interrompidos.

O objetivo da primeira noite na praia de Maresias, localizada em São Sebastião, era ir ao show do cantor MC Ryan. Ela e outras oito amigas que viajaram juntas para o litoral paulista foram até a boate ainda na noite de sábado. A apresentação estava marcada para acontecer às 3h. No entanto, o show não aconteceu.

Quando Jéssica e as amigas chegaram ao local, já estava chovendo, e deixaram o carro no estacionamento. Elas encontraram duas mulheres que choravam na chuva, pois haviam sido assaltadas.

Enquanto o cantor não entrava, a energia acabou por três vezes. O horário do show chegou e nada da apresentação principal iniciar. Pelas redes sociais, a enfermeira e as amigas viram que MC Ryan tinha dificuldades para chegar ao evento por causa da chuva.

“Quando vimos que estava demorando muito, desistimos de permanecer naquele local. Eles falavam no palco que o cantor logo chegaria e em nenhum momento nos alertaram sobre o que estava acontecendo lá fora”, conta Jéssica.

A moradora de Brusque relata ainda que a chuva foi intensa em questão de horas. As lâmpadas da boate foram danificadas com as goteiras e a impressão era de que o teto iria cair. Quando saíram da casa noturna, ela e as amigas precisavam buscar o carro, mas a água já estava na altura do joelho. Elas perderam dois carros.

“A cena era de horror. Os carros estavam cobertos de água e as pessoas desesperadas, chorando, com as mãos na cabeça”, diz. “Pensamos que não tinha o que fazer. Optamos por ir embora andando, por mais ou menos três quilômetros”, completa a enfermeira.

Jéssica relata também que o medo era de cair em um buraco e se machucar enquanto elas caminhavam pelas ruas alagadas. As amigas deram as mãos umas às outras e seguiram andando. Apesar do desafio, elas conseguiram chegar na casa que alugaram na cidade, por volta das 6h.

Quando chegaram em casa, algumas delas decidiram enviar mensagem para tranquilizar os familiares. Outras, no entanto, acharam melhor esperar, para não assustá-los. O que não esperavam é que o sinal de internet e telefone fosse cair e permanecer sem funcionar por um período consideravelmente longo para a ocasião.

“Ficamos na casa durante o dia e, de noite, uma parte das pessoas saiu para olhar os carros, na esperança de que o estrago não teria sido pior. Porém, a situação era lamentável. Além do ocorrido, os carros foram abertos e saqueados”, comenta Jéssica.

Quando a situação dava indícios de normalização, a moradora de Brusque e as amigas enfrentaram outro problema. Além delas não conseguirem contato com os familiares, os estabelecimentos não aceitavam pagamentos por cartão ou pix, pois não havia sinal.

Estabelecimentos na cidade chegaram a aceitar pertences como garantia. Foto: Divulgação

Algumas das amigas de Jéssica tinham um pouco de dinheiro vivo. Elas juntaram e compraram o que era necessário para o momento. Após se comunicarem com outras pessoas, as amigas descobriram que celulares das operadoras Claro e Vivo pegavam sinal em pontos da praia de Maresias.

“Todos já estavam muito aflitos, pois não havia notícias. Estavam sem contato com suas famílias. Metade do grupo que estava ali foi até lá e conseguiu ligações breves por apenas um celular para avisar somente que estávamos bem e vivas”, conta.

Pessoas em busca de sinal da praia de Maresias. Foto: Divulgação

Paralelo a isso, os familiares de Jéssica e das oito amigas criaram um grupo no WhatsApp para se comunicar sobre a situação, em busca de notícias delas. Segundo a moradora de Brusque, os relatos na praia eram de pessoas que passaram por pontos de alagamento com água no pescoço.

“Esse contato era na praia, na beira do mar. Era pé na areia mesmo. A cena era tipo da série The Walking Dead. Todos estavam com celular na mão, desesperados, tentando sinal para avisar suas famílias”, diz.

O segundo grupo que estava na casa saiu para ir até o local em que o sinal funcionava. Eles conseguiram avisar suas famílias de forma breve. “A cena era muito comovente, muito triste. Era choro e desespero”, pontua. Ela relata, porém, que ficaram aliviadas em poder se comunicar com os familiares.

Assista ao vídeo:

Após a ida para praia em busca de contato, Jéssica e as amigas voltaram para a casa, pois era um local seguro. Quando o sinal foi restabelecido, as notícias na televisão informavam mortes. Elas estavam ilhadas e não conseguiam sair da cidade.

Depois que a situação se normalizou, as amigas conseguiram sair de São Sebastião. Jéssica deve chegar em Brusque na manhã desta quarta-feira, 22. “Ainda estou digerindo tudo o que aconteceu. Só temos a agradecer a Deus por sair bem de tudo isso”, finaliza.

De acordo com a imprensa nacional, já foram registradas mais de 40 mortes na tragédia no litoral paulista e há dezenas de pessoas desaparecidas. São Sebastião, município em que Jéssica estava, decretou estado de calamidade pública, reconhecido pelo governo federal.


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