Vitor Souza/O Município

Tratamento de esgoto em Brusque: saiba qual o impacto do novo sistema no rio Itajaí-Mirim

A partir do novo sistema, esgoto será encaminhado para uma estação de tratamento

Com a implantação do sistema de tratamento de esgoto em Brusque que deve ser iniciado nos próximos anos, um grande beneficiado pelo projeto será o rio Itajaí-Mirim. Com a substituição de redes, o esgoto das residências deixará de ser levado diretamente para o rio e será encaminhado para uma estação de tratamento.

Conforme especialistas, a mudança no sistema trará melhorias à qualidade da água do rio e poderá ocasionar o retorno de animais e plantas que teriam deixado as margens do Itajaí-Mirim.

O secretário José Henrique Nascimento, da Secretaria de Parcerias, Concessões e Convênios, explica que hoje, o município não possui tratamento de esgoto, assim, moradores precisam solicitar junto à Secretaria de Obras a ligação de uma fossa.

Na prática, isso significa que “o cidadão faz uma fossa na casa dele, uma fossa e filtro”. É nesse filtro que ocorre a limpeza dos efluentes que saem da casa do morador. Após isso, a água filtrada é encaminhada direto para a tubulação de drenagem pluvial, que cai no rio.

De acordo com o secretário, o sistema atual já foi considerado eficiente, mas hoje, por conta do seu baixo potencial de filtragem, não é mais utilizado.

Essa forma de trabalho – de ligação direta entre rede de esgoto e rede pluvial – é um fator que colabora para a poluição do rio Itajaí-Mirim. “Como hoje funciona com a fossa e filtro jogando direto no rio, ou com o cidadão jogando o esgoto naquelas fossas comuns, em que o chorume vai se acumulando e, às vezes, cai para dentro da terra, vai para dentro do lençol freático, enfim. Todas essas práticas, sem um sistema de esgotamento sanitário, com certeza, poluem muito mais”.

Porém, há outros pontos que devem ser levados em consideração para se ter um rio saudável. O naturalista e ambientalista Lauro Bacca acrescenta que é preciso respeitar o espaço do rio.

“Então, não é só por causa da poluição que os peixes desapareceram, mas é por causa da destruição dos seus habitats, com esses enrocamentos que se fazem. Falta de sombra, falta de raízes, falta de árvores fazendo sombra, raízes onde os peixes menores podem escapar dos predadores maiores. É desta forma que se contribui para o empobrecimento, a perda da biodiversidade e a perda da qualidade da água”.

Limpo como o rio Sena

O ambientalista também falou sobre o atual sistema utilizado em Brusque e até trouxe o exemplo do rio Sena, em Paris, que foi utilizado nas Olimpíadas de Paris, em 2024, após ser liberado para banho depois de 100 anos.

“Não tem mais cabimento nenhum jogar rede de esgotos na rede pluvial, isso não tem sentido absolutamente nenhum. Fossa e filtro só funciona se for bem instalada, acompanhado de caixa de gordura em todas as cozinhas, em todas as casas, em todos os estabelecimentos que mexem com cozinha, com alimentos”. Para Bacca, esse sistema que permite colocar materiais na rede pluvial é extremamente primitivo.

Além da necessidade da caixa de gordura e filtro e fossa, o ambientalista ressalta que a manutenção desses equipamentos precisa ser bem realizada. “Todos têm que ser mantidos no mínimo duas, três vezes por ano, têm que ser esgotados, têm que ser renovados, a matéria sólida disso tudo tem que ser renovada. Então, haja caminhão limpa fossa para fazer tudo isso”.

Ao falar sobre o sistema de esgoto que deve ser implantado em Brusque, o ambientalista exalta que o modelo é altamente aconselhável, e que se for bem feito, é possível tornar o rio limpo.

Ele cita por exemplo o rio Sena, em Paris, na França, que foi liberado durante as Olimpíadas. “Uma megalópole que é Paris, uma das maiores conglomerações urbanas do mundo, imagina-se quanto esgoto é produzido lá e nas cidades acima. As Olimpíadas permitiram que alguns dos eventos fossem feitos na água do rio, de tão limpo”.

Fim da fossa e drenagem

O secretário José Henrique então afirma que a partir do momento que a concessão do esgoto existir, todas as ligações de fossa que estão na rede pluvial deixarão de funcionar. Assim, “na prática significa que a qualidade do rio Itajaí-Mirim tende a melhorar muito”.
Mas é importante relembrar que o rio Itajaí-Mirim não passa apenas por Brusque, mas também por outras cidades, então no que cabe a Brusque, o secretário afirma que o rio sairia com uma qualidade superior.

O edital de concessão para o tratamento de esgoto também prevê medidas para mitigar e monitorar riscos ambientais. Confira a lista das ações que a empresa responsável deve tomar:

• Monitoramento das estruturas do sistema a fim de verificar possíveis vazamentos; análises periódicas dos poços de monitoramento de água subterrânea e da qualidade do efluente tratado, bem como garantir operação adequada da ETE, de acordo com o Plano de Operação e Manutenção;
• Fornecer informações da qualidade da água do rio Itajaí-Mirim para o programa Qualiágua SC e para a Agir;
• Estabelecer um Programa de Controle da Qualidade do Efluente Tratado e dos Corpos
• Receptores, garantindo a transparência das informações e o atendimento dos limites estabelecidos nas legislações, com análises a montante e a jusante do lançamento do efluente tratado;
• Monitoramento da qualidade da água do rio a montante e jusante do ponto de lançamento do efluente, e do efluente tratado, de acordo com os parâmetros
• estabelecidos pelo órgão ambiental e pela legislação;
• Promover ações de proteção de recuperação da mata ciliar;
• Realizar ações de educação ambiental com as comunidades ribeirinhas;
• Identificação e inibição de ligações irregulares de esgoto, sobretudo àquelas que realizam lançamentos no rio.

Benefícios do tratamento de esgoto

O superintendente da Fundema, Cristiano Olinger, afirma que a implantação da coleta e tratamento do esgoto sanitário terá um grande efeito. “No monitoramento da qualidade da água que estamos fazendo os laudos apresentaram problemas quanto à quantidade desse tipo de efluente”.

E ressalta que com a melhoria da qualidade do rio será possível ver o reaparecimento de espécies que, com toda essa carga de efluentes, foram empurradas para locais mais protegidos ambientalmente.

O impacto positivo também seria visto na água consumida pelos cidadãos, visto que “nossa principal captação fica no bairro Guarani e a montante temos bairros com grandes populações como Dom Joaquim e Rio Branco, além de parte do Guarani.

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