Trotes e exageros atrapalham as emergências
Polícia e bombeiros de Brusque sofrem com telefonemas irresponsáveis
As forças de segurança de Brusque sofrem com ligações de pessoas que exageram ou mentem sobre ocorrências. Pela natureza do serviço, a Polícia Militar é o órgão mais afetado. Mensalmente, cerca de 70 chamados no Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) da cidade resultam em nada. A guarnição desloca-se até o local do suposto acontecimento e não encontra os envolvidos ou qualquer ação. O Corpo de Bombeiros também é atingido, porém em menor escala.
Nos seis primeiros meses deste ano foram 418 ocorrências com nada constatado no Copom de Brusque. Em 2013, foram 1.122, o que dá uma média de 93 por mês. Nem todas essas ligações foram trotes. Em algumas delas, simplesmente os envolvidos tinham saído do local ou o som alto foi abaixado, no caso de perturbação do sossego. O major Moacir Gomes Ribeiro, subcomandante do 18º Batalhão de Polícia Militar, afirma que as pessoas têm uma cultura de chamar a PM por qualquer coisa. “Acredito que metade dessas ligações não eram necessárias. Uma boa conversa poderia ter resolvido a situação. Isso é muito comum com o som alto. Às vezes, a pessoa chama a polícia mais para assustar o vizinho do que por necessidade”.
Os policiais militares que atendem no Copom são orientados a buscar o maior número de informações possíveis com o comunicante. Essa é uma forma de descobrir um trote ou orientar melhor o cidadão. “Os nossos policiais sabem como perguntar e detectar os sinais de quando é um trote. Em alguns casos, como quando é uma criança, é mais fácil, mas nem sempre é assim. Na dúvida, a nossa orientação é que envie a viatura para checar no local, para evitar problemas para a PM no futuro”, diz o major Gomes. O número de ligações que acabaram sendo consideradas “trotes” pela PM, foi de apenas cinco este ano, sendo os autores um homem, três mulheres e uma criança.
Os bombeiros não são alvo tão frequente de “brincadeiras” ao telefone, mas o exagero é o vilão das chamadas. O tenente Hugo Manfrin Dalossi, comandante da 3ª Companhia do Corpo de Bombeiros, conta que na semana passada houve um chamado em que o comunicante dizia que um capotamento tinha acontecido. Duas ambulâncias foram enviadas, chegando lá era apenas uma pessoa que caiu com a bicicleta. Essas situações são complicadas para a corporação por dois motivos: o primeiro é o gasto com combustível, e o segundo, o baixo efetivo. “Quando uma guarnição é deslocada para uma situação desnecessária, uma ocorrência grave pode deixar de ser atendida”, diz o tenente Manfrin.
Consequência
O major Gomes diz que, ao chamar a PM por qualquer motivo, o cidadão joga contra si mesmo, visto que o dinheiro que custeia a corporação vem de impostos pagos pelos contribuintes. “Além disso, aqui nós temos um efetivo curto. Aí uma viatura vai até um local para uma situação que poderia ser resolvida sem a presença da PM, enquanto isso uma ocorrência grave pode estar acontecendo. O prejuízo é de todos”, afirma o major. O Corpo de Bombeiros também luta com recursos escassos. Eles possuem duas ambulâncias ativas e uma de reserva, ou seja, podem atender apenas dois acidentes com vítimas simultaneamente.
O tenente Manfrin chama a atenção não só para o lado financeiro, mas também para o risco a que são expostos os profissionais. A determinação dos Bombeiros é estar no local do chamado o quanto antes. Como não sabem da veracidade ou não dos fatos, eles saem a toda velocidade, o que os coloca sob risco de morte no trânsito.
Tanto os Bombeiros quanto a PM possuem sistema de identificação das ligações recebidas. Por isso, quando recebem alguma ligação que suspeitam que possa ser trote podem entrar em contato com o autor. Quando fica confirmada a prática de trote, os dados do autor são repassados para a Delegacia de Polícia, que investiga e pode acusar o infrator pelo crime. O Código Penal trata do trote no artigo 340, que diz: “provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado”. A pena vai de seis meses a um ano.