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Turma de 1971: ex-atiradores relembram histórias do Tiro de Guerra de Brusque

Laços são mantidos mesmo 50 anos depois do cumprimento do serviço militar

Fundado em 1916, o Tiro de Guerra (TG) de Brusque é um local histórico da cidade e com lembranças marcantes para muitos ex-atiradores que prestaram o serviço militar. A turma de 1971 é uma dessas que mantém contato até hoje e relembra com carinho de momentos vividos.

“Da nossa turma, 26 já morreram. Dos que sobraram, a gente faz pesquisa na internet atrás do pessoal. No último encontro que fizemos, cinco anos atrás, apenas três não foram”, conta Vilmar Walendowsky, o Negão.

Mais de 90 rapazes fizeram parte daquela turma | Foto: Arquivo pessoal

Em 2016, quando a turma completou 45 anos de serviço militar, a maioria dos ex-atiradores se reuniram mais uma vez, como já tinha acontecido em outras datas importantes, e foram homenageados no Tiro de Guerra. Além desse encontro comemorativo, porém, a convivência segue através de reuniões semanais, conversas pela internet ou um bate-papo casual nas ruas de Brusque.

“Temos muitos amigos que a gente se reúne até hoje, estamos com o Bruno Moritz toda sexta-feira, os irmãos Fischer, o Beto Schwartz. Se estiver na rua e ver alguém também daquela época, a gente para e conversa. É um laço que ficou”, destaca Vilmar.

Bruno Moritz, conhecido pela farmácia que por muito tempo funcionou no Centro da cidade, afirma que suas lembranças do tempo no TG são boas e que não lembra “de um senão”. Ele conta que a intenção é de que a turma inteira se reúna novamente em 2021, agora para celebrar os 50 anos.

“Temos um grupo no WhatsApp onde a gente se comunica. Neste ano, já éramos para ter nos reunido, mas ainda não conseguimos por causa da pandemia. Esperamos conseguir fazer alguma coisa como está evoluindo essa crise”.

Histórias para contar

Dom João Francisco Salm, bispo da Diocese de Tubarão, foi um dos mais de 90 soldados da turma de 1971. Natural de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, ele veio para Brusque em 1971 para estudos no seminário de Azambuja.

Ele chegou a trabalhar na paróquia de Azambuja, no Santa Terezinha anos depois, e também em Florianópolis por alguns períodos, antes de ser transferido a Tubarão, onde está há quase nove anos. Muitos de seus familiares ainda moram em Brusque, local de onde ele tem guarda recordações e amizades.

“Alguns foram mais próximos, não tenho contato a toda a hora, mas encontro tempos em tempos. Não é de todos os dias, até pela distância, mas tenho alegria de encontrar qualquer um daquele tempo. O ano de serviço militar foi muito proveitoso, fiz amigos. Não tinha muita relação com o pessoal da cidade, conheci praticamente todos ali. Foi um ano que estávamos juntos, participamos de atividades praticamente todos os dias e recebemos orientações importantes para os jovens que éramos”.

Muitas histórias são lembradas quando os ex-atiradores da turma de 1971 se encontram. Vilmar lembra que alguns “mistérios” inclusive seguem sem serem desvendados até hoje.

“No dia 7/9, a gente foi desfilar. Tínhamos um treinamento, que, quando chegasse na frente do palanque, o primeiro pelotão trocava a posição de arma depois de contar 30 passos, o segundo, 20, e o terceiro, 10. E aí, quando chegava na quantia de passos que todo mundo deu, a gente ia dar um tiro de fuzil todo mundo junto. Mas teve um do segundo pelotão que, ao invés de contar 20 passos, ele contou 10 e atirou. Sozinho”, lembra.

“Quando chegamos de volta, o sargento juntou todo mundo para descobrir quem é que tinha atirado. Até hoje, fazem 50 anos, que ninguém sabe quem foi. A pessoa não denunciou e quem tava perto, que ouviu, também não. O mistério continua”, conta, descontraído.

Bruno lembra que a turma participou naquele ano da Ação Cívico Social (Aciso), que consistia em limpar os pátios de escolas da cidade, mas também em reformas do próprio prédio do TG e da Igreja Matriz.

“Onde tinha um porãozinho, cavamos aquilo tudo na base da picareta, enxada e pá. Hoje, onde é a junta militar foi tudo cavado por nós, a gente que fez. Teve uma época que o corpo da guarda era no sótão, e quando já tava cavado, a gente dormia lá no porão, não tinha parede, nada, era barro, tábuas de madeira no chão. Ajudamos também a derrubar a casa paroquial para a construção da torre da igreja, que veio para frente. Antes, não dava, porque estava no meio do caminho”.

Histórias daquele ano são lembradas nos reencontros dos ex-soldados | Foto: Everton Dalmolin/Tiro de Guerra

Laços de décadas

Mesmo após tantos anos e idas e vindas da vida, a ligação com o Tiro de Guerra continua para muitos dos ex-atiradores. Vilmar conta que um grupo foi criado por ex-soldados de várias épocas para ajudar o Tiro de Guerra sempre que necessário.

“Atualmente temos o grupo Amigos do Tiro de Guerra. São soldados de vários anos, nos juntamos, temos secretário, diretor, nos organizamos. Quando o TG está precisando de alguma coisa, o subtenente convoca a gente. Está para ajudar. Continuamos a relação até hoje, mesmo 50 anos depois”.

Membro da comissão organizadora da Fenajeep, Vilmar ainda destaca que soldados do TG sempre participam da festa. “O TG sempre vai fazer o hasteamento da bandeira da Fenajeep, a maior do Brasil, e depois vai descer. Durante a festa, todos os soldados, apresentando a carteira para comprovar que está servindo, têm entrada gratuita. É um apoio que damos”.

Para ele, a convivência, além de deixar lembranças e histórias para contar, foi um aprendizado. “Quando temos 18 anos, a gente pensa que já é gente, mas só faz besteira. Considero o TG como uma das melhores escolas para aprender. Quando você entra, aprende o que deve fazer, como seguir ordens”, ressalta.

Com avanço da vacinação, grupo pretende se encontrar novamente para celebrar os 50 anos | Foto: Everton Dalmolin/Tiro de Guerra

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