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Uma bailarina no Oriente

Chovia forte quando chegamos em Sigiriya, uma cidade no interior do Sri Lanka. Encontramos um hotel barato, checamos se a cama não tinha pulga e decidimos ficar. A porta do nosso quarto dava na sala de estar de uma família local e não demorou até o pequeno da família nos aceitar como tios e estar toda hora pulando na nossa cama.

A umidade era tamanha que a canga de praia que usei como lençol, depois de algumas horas sobre a cama, ficou completamente molhada. Saímos para almoçar e no caminho passamos por um elefante se banhando livremente em um rio.

Estávamos ali para ver a Lyon´s Rock, uma imponente montanha de pedra, mas na verdade o que buscávamos era alguma desculpa para adentrar o país. A entrada para a pedra custava relativamente caro e a família nos disse que era possível fazer uma trilha alternativa e gratuita chamada Pindurangula, de onde a vista para a pedra era magnífica.

Tudo isso para dizer que estávamos realmente no fim do mundo. Quando chegamos no alto da montanha, encontro uma única pessoa, que tinha o mesmo nome que eu, vinha do mesmo país que eu, inclusive do mesmo estado.

A vida tem umas coincidências realmente inexplicáveis. Falando com essa mulher, viajando sozinha no Sri Lanka, descobri que era bailarina e que trabalhava há anos na Jordânia. Era aquele tipo de pessoa de uma força risonha, que vai sempre em frente, que não tem frescura. Pensei comigo, que mulher impressionante e que coragem de se meter sozinha no meio do oriente médio para trabalhar.

Na verdade contei essa história, não por causa da outra Mariana. Mas recentemente recebemos em nossa casa um canadense de origem indiana e tomando meu café da manhã, tive uma grande conversa com ele sobre o sentido da vida.

Ele me falava que existem anos ciclos de mudança da cada aproximadamente sete anos e que ao longo desses ciclos, nossos sonhos, aspirações e mesmo o sentido da vida mudam.

A conversa me fez pensar na Mariana, tão implacável na busca do seu sonho, que se meteu sozinha no Oriente Médio. Me fez pensar em mim, em como meus sonhos haviam mudado. Me fez pensar no meus pais e em como o sentido da vida para eles era diferente do meu. O indiano me disse: ”Claro, tu pensa na vida deles a partir da tua cabeça de agora, sugeres sonhos que tu mesma vais deixar de ter com a idade deles.”

Falamos sobre como as pessoas são consumidas pelo trabalho de forma a passarem a vida em branco, colocando no curto prazer da aquisição o sentido da vida.

A virada do ano acabou de acontecer e embora isso não mude nada por si, talvez sejam um momento propício para tomar consciência da nossa vida. Sim, de alguma forma acordar e ter coragem de mirar o fundo dos nossos olhos no espelho e se perguntar: Onde eu quero chegar? Como faço isso acontecer? É ter coragem para assumir as consequências mesmo quando ela se mostrar um desafio do tamanho de ser uma bailarina no oriente médio!

 

 

Mariana Imhof – economista, viajante, escritora