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Uma companheira incômoda 

Boa parte da Humanidade convive com uma companheira. Companheira que nos acompanha com relativa frequência. Uns mais, outros menos. Mas, de repente dá ar de sua graça. Sim, ela normalmente aos poucos vai deixando um rastro bem visível de sua presença, bastante visível em alguns ou algumas. Muita gente tenta se afastar dela. Não conseguem, […]

Boa parte da Humanidade convive com uma companheira. Companheira que nos acompanha com relativa frequência. Uns mais, outros menos. Mas, de repente dá ar de sua graça. Sim, ela normalmente aos poucos vai deixando um rastro bem visível de sua presença, bastante visível em alguns ou algumas. Muita gente tenta se afastar dela. Não conseguem, por muito tempo. 

Lá está ela, de novo, presente e em destaque. Nas festas do final de ano, ela é sempre uma convidada da grande maioria das pessoas. Bem logo, passadas as festas, muitos prometem a ela que será dispensada, neste novo ano. Muitos até levam a sério e, de fato, conseguem dispensar seus préstimos por muito tempo

Outros, vão mantendo-se firmes até certo tempo. Mas, não conseguem resistir aos seus apelos, a seus encantos e novamente a convidam para fazer-lhes companhia. Claro que ela não recusa e se apresenta mais simpática e com uma lábia envolvente e com artifícios e argumentação até bem fundadas. Normalmente, se serve de desculpas, de escusas que alguns se sentem tranquilos, por alguns momentos. Depois, arrependem-se de ter dado ouvidos. 

E seguem adiante se lastimando e alguns até ficam tristes. Outros até entram em depressão. Caro amigo leitor ou estimada leitora, é possível até que você já tenha, alguma vez, partilhado momentos com essa companheira. Provavelmente, já desconfiou a respeito de quem estou falando. É a conhecida e famigerada gula. Sim, a Sra. Gula. Também, denominada Vício da Gula. Para a Igreja Católica, em seu Catecismo da Doutrina Católica, é relacionada como um dos Pecados Capitais. Capital (vem do latim Caput = cabeça). São as “cabeças” de outras atitudes, nada construtivas. São sete. São as sete tendências da pessoa humana e que levam a prática de atitudes que não são benéficas, nem para a própria pessoa nem para a sociedade. 

São companheiras dela: a ira, a usura, a cobiça, a luxúria… Achei interessante, no início desse novo ano, trazer para os leitores algumas ideias que o Papa Francisco apresentou a esse respeito. Na Audiência Geral de (10/01/2024), o Papa Francisco exortou as pessoas a seguirem o caminho da sobriedade e alertou sobre o perigo da gula, um vício “que está destruindo o planeta”. 

Da Sala Paulo VI do Vaticano, Francisco continuou o seu ciclo de catequeses sobre “vícios e virtudes” e refletiu sobre o pecado da gula. Nos Evangelhos, muitas vezes, Jesus é visto e apresentado à mesa com convidados. O Papa Francisco lembrou também que Jesus valoriza a comida e também a sociedade, “onde se manifestam muitos desequilíbrios e muitas patologias”. “Comemos demasiado, ou demasiado pouco. Muitas vezes comemos sozinhos. Os distúrbios alimentares estão a espalhar-se: anorexia, bulimia, obesidade… 

E a medicina e a psicologia tentam resolver a má relação com a comida, que é a raiz de muitas doenças. Uma má relação com a alimentação provoca todas estas doenças, todas elas”, lamentou o papa. Para o papa, são doenças, “muitas vezes muito dolorosas, relacionadas sobretudo com tormentos da psique e da alma, existe uma relação entre o desequilíbrio psicológico e a forma de comer”. 

Por isso, disse que “a comida é a manifestação de algo interior: a predisposição ao equilíbrio ou ao excesso; a capacidade de agradecer ou a pretensão arrogante de autonomia; a empatia de quem sabe compartilhar a comida com quem precisa, ou o egoísmo de quem acumula tudo para si”. Por fim, convidou os fiéis a pedir ao Senhor “que nos ajude no caminho da sobriedade” para que todas as formas de gula “não tomem conta do nosso modo de vida”.