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Uma geração memorável

Alguns períodos da história são profícuos em produzir
gênios. Assim foi a época de Platão e Aristóteles, na Grécia, a Idade Média de
Tomás de Aquino, Boaventura e Duns Scotus ou o Renascimento de Leonardo Da
Vinci e Michelangelo.

As últimas décadas do século XIX, no Brasil, podem ser
consideradas como um período assim. Nessa época, o Brasil vivia uma profunda
crise de identidade. Um importante estudo sobre esse tempo afirma que, como
nação, o Brasil simplesmente não existia. Nossa identidade ainda estava presa à
herança portuguesa, a escravidão produzia uma exclusão brutal de grande parte dos
brasileiros e o analfabetismo assolava o país, atingindo mais de 70 % da
população.

Machado de Assis, um dos intelectuais memoráveis dessa
época, escrevia sobre o perigo dessa ignorância em massa. Nas palavras do
grande escritor, a instrução pública era prioritária para que o país entrasse
na “marcha da civilização”. Ao lado de Machado, dois outros gigantes
enfrentavam a mesma luta para “inventar a nação e remodelar o Estado”. Eram Rui
Barbosa e Joaquim Nabuco. Nabuco foi político, jurista, diplomata e jornalista
e é, sem dúvida, o nome mais importante na luta pelo abolicionismo, embora a fama
tenha ficado com a Princesa Isabel.  Rui
Barbosa é um dos maiores intelectuais da nossa história, e teve papel
fundamental na constituição da República, apesar de ser, pessoalmente, defensor
da monarquia.

A atuação dos três foi decisiva na formação da identidade
do país. Infelizmente, as decisões políticas fundamentais acabaram passando
pela caneta de gente muito menos dotada intelectualmente e comprometida com
interesses menos nobres, e o atraso de que falava Machado de Assis, há um
século e meio, ainda nos assombra.

Precisamos recuperar a memória desses grandes homens,
especialmente dessa geração, que ainda teve Castro Alves e Euclides da Cunha,
apenas para citar dois dos nossos mais conhecidos escritores. Eles nos ajudam a
tomar consciência de como a intelectualidade do país decaiu, apesar de termos
escola acessível a todos. Machado de Assis ficaria horrorizado com os
analfabetos escolarizados de hoje. Na época dele, os analfabetos não
frequentavam escolas. Como o ensino vai ficando cada vez pior, fica sempre mais
difícil formar novos intelectuais, pois os bons mestres também se tornam
escassos.

Vivemos uma crise similar à do século XIX. Tentamos
sair do atraso, mas patinamos nos velhos vícios e deficiências. Relembrar esses
gigantes pode nos ajudar a reencontrar o caminho.