Uma noite nada natalina
A suave melodia natalina ressoa no ambiente da sala de jantar bem decorada de Paulo André. Sua esposa, Josefina Catarina, está preparando a ceia com sua melhor amiga, Evelyn Heloise. As crianças, Vitória e Miguel, brincam embaixo da árvore de natal. Todos estão ansiosos para a chegada do Papai Noel que trará presentes para todos.
Insatisfeito com o trabalho e o retorno que recebe dele, Paulo se encontra com um copo de uísque nas mãos já trêmulas. As risadas ao seu redor parecem agudas demais e o irritam como um muxoxo. Envolvido em seu próprio descontentamento, Paulo se levanta rapidamente e caminha a passos lentos até a cozinha.
Diferente do ambiente da sala, a cozinha se encontra quente e com uma tensão perigosa no ar. Os seus olhos mal podem crer na imagem que vê diante de si. Sua bela esposa, Josefina, se encontra encostada na bancada com Evelyn pressionando o seu quadril e os lábios selados ao de sua esposa.
A primeira atitude de Paulo é jogar o copo de vidro contra a parede e um rugido de raiva ressoa de seus lábios e preenche o ambiente. O líquido escorre pela parede e por um momento em sua falta de lucidez ele imagina ser sangue. O rolo de macarrão se encontra tanto no alcance de Josefina e de Evelyn quanto de Paulo.
“Diga que estou louco, Josefina” murmurou entre lufadas de ar continuas. “Diga que bebi além da conta como todas as outras vezes”.
“Infelizmente, não” disse Josefina dando um passo em sua direção. “Acredito que estava mais do que na hora de revelar o meu mais perigoso segredo”.
“Não me diga, por favor…” O marido parece perdido, mas é interrompido pela amante.
“Se ela não disser eu digo” Evelyn se pronuncia e assume a frente da situação. “Há meses, eu e Josefina descobriremos que estávamos apaixonadas e que a nossa amizade ia muito além do que imaginávamos”.
Paulo, enfurecido, empurra todos os objetos que se encontram sobre a bancada. O rolo de macarrão para diante de seus pés e ele o toma em suas mãos, quase hipnotizado.
“Por que me oferecer tanto desgosto, Catarina? ” Sussurrou em um fio de voz. “Depois de tudo o que eu fiz por você! Por nós dois! Pelos filhos que tivemos! ”
“Você vivia preso no trabalho! ” Berrou a todos pulmões. “Eu estava sozinha e desamparada. Evelyn com sua doçura e sensibilidade acabou disseminando os meus demônios internos”.
Achando todas as desculpas da esposa uma completa loucura e com a cabeça possuída pelo álcool, Paulo levantou o rolo de macarrão e desferiu um golpe contra Josefina. Ele sentia a raiva borbulhando em suas veias e aquecendo o seu corpo, e foi essa raiva que o fez atingir com violência a esposa mais e mais vezes até que seu corpo se tornar inconsciente e sem vida no chão.
Os olhos claros de Evelyn se encontravam úmidos por conta das lágrimas que derramava. Ela mal podia acreditar na cena diante de si. O corpo de sua amada Josefina era apenas um borrão vermelho de sangue e tecido rasgado.
“Paulo…” sussurrou tocando o pescoço de Josefina que não exibia mais nenhuma pulsação. “O que você fez? ”
Paulo levantou a cabeça e abriu um sorriso maléfico.
“O que eu já deveria ter feito há muitos anos” declarou em alto e bom som. “Josefina não era quem você acreditava que fosse”.
“Você não a conhecia tão bem como imaginava” resmungou com os dentes cerrados. “Você não sabia nada a respeito da mulher com quem se casou”.
O corpo de Evelyn tremia e as mãos mal conseguiam segurar a faca que agora estava entre seus dedos. A fúria estava impregnada dentro de si e era pior que qualquer quantia de álcool presente no corpo de Paulo.
Sem pensar duas vezes a faca foi apunhalada no peito de Paulo, acertando o amargo coração.
Em seu último suspiro, sentindo o gosto metálico de sangue na garganta, Paulo André dirige seus olhos para os de Evelyn e diz em um sussurro:
“Era você que eu amava”.
O baque entre o corpo de Paulo e o piso da cozinha foi o suficiente para despertar a atenção das crianças que brincavam na sala. Vitória e Miguel seguravam seus brinquedos e não entediam a cena diante de si. As íris brilhavam de curiosidade e Evelyn sabia o que eles sentiam.
“Chegou a vez de vocês, queridos” A mulher retira a faca do peito de Paulo e estende em direção as crianças.
Um conto de
Bruna Eloísa e
Isabeli Nascimento – acadêmicas de jornalismo