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Uso de pílula anticoncepcional pode contribuir para formação de trombose

Hospital Azambuja registrou dois casos apenas no início de 2018

O uso de anticoncepcionais aumenta as chances do desenvolvimento de trombose, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Neste ano, pelo menos duas mulheres foram diagnosticadas com o problema no Hospital Azambuja, em Brusque. Embora não seja possível determinar que os medicamentos foram os causadores do tromboembolismo venoso, o diagnóstico foi dado por exclusão de outros fatores.

A Anvisa afirma que mulheres que tomam anticoncepcionais contendo drospirenona, gestodeno ou desogestrel (caso das pílulas) têm um risco de quatro a seis vezes maior de desenvolver o problema do que as que não usam contraceptivos hormonais. Ainda, segundo os médicos, se não há outros fatores de influência, o risco é pequeno. Na maioria das vezes, os benefícios são maiores que os riscos.

Combinação com cigarro
Apontada como grande fator de risco para a ocorrência de trombose entre as mulheres, a combinação de cigarro e pílula, de fato, pode favorecer a ocorrência da doença, de acordo com Gutemberg Gurgel, presidente do Congresso Brasileiro de Angiologia e Cirurgia Vascular.

Isso porque o cigarro é um vasodilatador, ao passo que o hormônio provoca alterações nas paredes das veias, diminuindo a velocidade da circulação. O resultado não é necessariamente o trombo, mas pode ocorrer, especialmente, se associado a outros fatores de risco, como obesidade, tendência familiar e vida sedentária.

Por isso, o médico alerta sobre o uso precoce de anticoncepcionais, que têm sido indicados para tratamento de pele de adolescentes, por exemplo, e recomenda evitar o tabagismo.

Moradora de Brusque é diagnosticada com o problema aos 22 anos

Ana Fritzen, 22 anos, moradora do Nova Brasília, é uma das vítimas. Após acordar com dor na perna direita, próximo à virilha, e ficar com a região inchada e roxa, ela foi levada ao hospital. Lá descobriu que estava com trombose que, em resumo, cria coágulo dentro da veia, obstruindo o fluxo de sangue.

Ana conta que passou por uma triagem, quando a chamaram para ser atendida com urgência, devido à aparência de sua perna. Na ocasião fizeram um raio-x do pulmão para avaliar se a trombose não iria para o órgão, o que poderia causar uma embolia pulmonar.

A jovem passou a noite no hospital. No outro dia, o médico pediu exame de sangue e uma espécie de ultrassom, que confirmaram o diagnóstico.

Ana afirma que foi informada pelo profissional que o grande causador da trombose foi o anticoncepcional e foi alertada que não poderia mais tomá-lo. Hoje, ela está fazendo tratamento em casa com anticoagulantes, inicialmente por seis meses.

Ela diz que não sabia que o anticoncepcional poderia prejudicá-la. Ana conta que começou a tomá-lo porque tinha problema no ovário e precisava regular sua menstruação. A jovem fazia uso da medicação há dois anos.

“Parece ser inofensivo, porém pode causar um grande mal. É preciso procurar sempre se informar com algum especialista e se perceber algum mal, parar de imediato com a medicação”, diz.

Problema normalmente é causado por conjunto de fatores

Especialista em Ginecologia e Obstetrícia, o médico Marcus Vinicius Bauer Moritz diz que é extremamente raro o anticoncepcional causar trombose. Geralmente, segundo ele, acontece quando está associado a outros fatores de risco como cigarro, diabetes e obesidade.

Moritz explica, no entanto, que há evidências que mostram que o anticoncepcional pode interferir na formação de coágulos nos vasos sanguíneos.

O ginecologista Paulo Ricardo Soares dos Santos concorda que este tipo de caso é raro. Em 35 anos de profissão, diz nunca ter diagnosticado o problema.

Santos diz que quanto mais velha for a mulher, maiores são as chances de ter o problema. Moritz afirma que a formação de coágulos geralmente atinge pessoas acima de 35 anos.

Segundo os médicos, qualquer anticoncepcional pode causar a trombose, sendo que não existe um exame específico que comprove que a doença foi causada somente pela pílula.

Os sintomas da trombose quase sempre são nos membros inferiores: dor, edema, vermelhidão no local. O risco maior é o desprendimento do trombo, que pode causar AVC, infarto ou embolia pulmonar.

Os médicos ainda recomendam outros métodos anticonceptivos, que variam conforme a situação de cada paciente. São indicados o uso do DIU, preservativo ou até mesmo a laqueadura.

“O ideal é tirar as dúvidas com seu ginecologista de confiança e juntos discutirem qual método anticoncepcional mais apropriado para ser utilizado”, recomenda Moritz.

Entenda as diferenças entre os tipos de trombose

Para Gutemberg Gurgel, presidente do Congresso Brasileiro de Angiologia e Cirurgia Vascular, para evitar a doença ou atacá-la é preciso, em primeiro lugar, diferenciar os dois tipos de trombose existentes: a arterial e a venosa. Ambas resultam da coagulação imprevista do sangue. Quando é na artéria, ocorre a trombose arterial. Quando na veia, dá origem à Trombose Venosa Profunda (TVP).

No primeiro caso, a existência de um coágulo impede a passagem do sangue para os tecidos e, consequentemente, causa inchaço e dor na região afetada. Mais difícil de tratar, em geral é atacada por meio de cirurgia. Se não tratada, pode levar à gangrena dos tecidos e até a amputação do membro. Idosos, fumantes e diabéticos são os mais afetados.

A das veias, em 90% dos casos, atinge vasos na perna, segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. A organização alerta que ela pode causar embolia pulmonar e até morte, por isso exige muita atenção e cuidado. Ela também pode ocorrer associadas a cirurgias de médio e grande portes, traumatismo, gestação ou outras situações que obriguem a uma imobilização prolongada.

Pessoas com idade avançada, dificuldades de coagulação, insuficiência cardíaca, obesas, fumantes e adeptas do uso de anticoncepcionais ou tratamento hormonal são as que correm maior risco de desenvolver a doença.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte prevenível em todo mundo. Entre elas, têm destaque o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e o Tromboembolismo (TEV).

Com informações da Agência Brasil