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Vaidade e Inveja

Os pecados capitais analisados hoje dizem respeito ao modo como encaramos nossas próprias qualidades e as dos outros. A pessoa vaidosa tende a se supervalorizar e, por isso, acaba diminuindo o valor dos seus reais méritos, porque ninguém suporta um “seachão” arrogante, a não ser os bajuladores, que esse tipo sempre consegue atrair para si. Do lado contrário, os eternos insatisfeitos consigo mesmos tendem a supervalorizar os méritos ou bens dos outros, tornando-se invejosos e rancorosos. Para evitar esses vícios, é preciso aprender a se valorizar na justa medida, compreendendo que a vida não é o socialismo cubano, onde todos são jogados na mesma miséria para evitar que alguém se sobressaia.
A vida parece ter escolhido um meio diferente de distribuir dons e talentos. Alguns receberam dez, outros cinco, outros um. Alguns foram agraciados em algumas áreas e outros em outra, e há os que parecem ter sorte demais, enquanto a outros só sobrou privação e o sofrimento.
Mas todas essas coisas são aparências. Cada um foi agraciado na medida justa para o que pode e deve fazer, uma vez que, quando voltar o doador dos dons, ele não fará uma conta aritmética do que temos, mas valorizará o que fizemos com o pouco ou muito que nos foi dado.
Pessoas atacadas pelo vício da inveja ficam paralisadas diante do sucesso dos outros. Querem um rosto ou um corpo que é de outro, a história ou as circunstâncias do outro. A inveja paralisa, pois, ao invés de focar em si e evoluir, o invejoso está mais preocupado em imitar o outro, por quem sente um misto de admiração e ódio. A literatura e a vida real estão repletas de tragédias causadas por este pecado, que é chamado de “capital” exatamente por ser a porta de entrada para muitos outros.
A vaidade, por sua vez, é a extrapolação do amor próprio. Na justa medida, ele nos valoriza, nos mostra que somos dignos de sucesso e felicidade, e nos dá força para correr atrás disso. Quando esse amor próprio “se passa”, tornando-se vaidade ou orgulho, abre a porta para que o mal se instale e sugue os méritos das virtudes pelas quais legitimamente a pessoa poderia se felicitar. Um comentário antigo à parábola do fariseu e do publicano relembra esse aspecto. O fariseu dominou a gula pelo jejum, dominou a luxúria, dominou a avareza, porque dava esmolas, mas a vaidade deixou uma fresta aberta para que tudo isso perdesse seu valor.
Cada um de nós tem o que precisa para ter sucesso e ser feliz, na medida em que lhe cabe. A vaidade e a inveja são obstáculos para impedir que isso aconteça. Que saibamos reconhecê-las e combatê-las com coragem.