Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Vallata de Lageada: o lar dos imigrantes trentino-italianos em Guabiruba

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Vallata de Lageada: o lar dos imigrantes trentino-italianos em Guabiruba

Rosemari Glatz

Em plena região turística do Vale Europeu, e incrustrado dentro do Parque Nacional da Serra do Itajaí, situa-se o bairro Lageado Alto, em Guabiruba (SC). Fundada simultaneamente à Brusque, em 2024 Guabiruba comemorou 164 anos de colonização alemã, 149 anos da chegada dos imigrantes trentino-italianos, e 62 anos de emancipação político-administrativa. Dentre os seus patrimônios imateriais, destaca-se a cultura dos imigrantes austríaco-tiroleses de língua italiana (trentinos) que, a partir de 1875 colonizaram Lageado Alto, um núcleo de imigração original – ou seja, não transmigrado, que veio diretamente de Trento – na época pertencente ao Império Austro-Húngaro.
Pe. Eder Celva (2008) informa que o primeiro nome dado ao local pelos imigrantes trentinos foi “Vallata de Lageada” (Vale do Lageado), pois a região lembrava os belos vales da região de Trento, Itália.

Distante 17 km do centro da cidade, para chegar até Lageado Alto é preciso encarar algumas subidas e várias curvas, emolduradas pelas hortênsias plantadas às margens da estrada. O esforço vale a pena. Natureza esplendida, água em abundância, cultura, capelinhas e cruzes erguidas e mantidas por moradores em agradecimento a alguma bênção recebida, e estufas que remetem ao tempo em que a região vivia da exploração do fumo, são comuns ao longo do trajeto.

Após uma boa subida, encontraremos um lindo Mirante, parada estratégica para descansar, contemplar as lindas montanhas e fotografar a Igreja e o Museu. Descendo, chega-se a parte baixa do vale, onde estão implantadas a centenária Igreja Imaculada Conceição e o Memorial Ítalo Guabirubense Sacristão Francesco Celva, museu que preserva fotos, ferramentas de trabalho e objetos pertencentes aos antepassados italianos.

Chegando à igreja do Lageado Alto, pegando-se à esquerda, é possível acessar a “Estrada da Mineração”, que leva às minas de ouro abandonadas, passando, no trajeto, pelo ribeirão Cristalina.

Seguindo o percurso normal da rua geral do Lajeado Alto, o caminho avança íngreme e sinuoso. Passa-se por estreitos pontos na estrada em que montanhas de pedra foram escavadas à mão para que os caminhões por lá trafegassem ainda no tempo da extração da madeira nativa. De um lado encontramos paredões de pedra e do outro, ribanceiras impressionantes. Parte do caminho é sombreada pela mata, percurso que propicia o encontro com o divino e conduz a reflexão.

Chegando quase ao ponto final da rua geral, encontramos a Capela de Santo Antônio, implantada no alto do morro onde nevou em 2013. No passado, o morro de Santo Antônio já foi conhecido como Alto Morro Garcia. A estrada velha que ligava a estrada geral à Capela ainda é mantida. Para quem quiser continuar a pé, depois de algumas horas de dura caminhada é possível chegar ao Pico do Carneiro Branco. Também caminhando, por cerca de duas horas entre a mata virgem, é possível chegar até a “Lagoa Azul”.

Guabiruba se emprenha para também preservar a sua identidade trentino-italiana. Neste sentido, encontramos vários elementos ativos no município, como o grupo de dança Folkloristico Tutti Buona Gente que se apresenta com danças típicas trentinas, e o Circolo Trentino di Guabiruba. Nos últimos anos, a “Sfilata del Vino” têm se consolidado no calendário cultural e turístico da cidade, pois antecipa o clima festivo da Festa Italiana que acontece em março de cada ano no Mirante, Salão e Oratório de Santo Antônio. A Festa Italiana, além de promover várias atividades que objetivam manter vivas as tradições dos antepassados, tais como a “pisa da uva” – um resgate de como o vinho era feito antigamente; o “jogo da mora”, e outras competições da cultura italiana, conta com música, dança, alegria e muita comida típica “raiz”.

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