X
X

Buscar

Vamos juntxs*

Existem finais felizes, não apenas nos contos de fadas. É uma pena que a amargura da vida adulta tantas vezes nos faça esquecer disto.

Existem muitas tristezas também, muitas e injustas dores: nenhum de nós é poupado, apesar de uns aparentarem sorte maior que de outros.

Quase todos os dias me percebo sentindo as dores do mundo, o peso de injustiças que nem sempre recaem sobre mim, e de crueldades que só posso esperar nunca viver.

arte: Sabrina Gevaerd

Sou branca, consegui me graduar, meus pais biológicos me criaram e me ajudaram até onde foi preciso e possível, nunca passei fome nem fui violentada fisicamente. Mais do que isso, sou cisgênero (me identifico com o sexo/gênero no qual nasci), estou em uma relação heterossexual e trabalho de forma autônoma.

Não tenho chefe e as circunstâncias visíveis me favorecem.

Nunca precisei cometer crimes para meu sustento e nunca senti necessidade de fazê-lo para meu proveito. Nasci livre.

Uma visão geral (superficial?!) da situação leva qualquer um a crer que estou com a vida feita! Para que me preocupar?

Felizmente não fui agraciada com indiferença, e mesmo que todas estas variáveis “básicas” de ser humano civilizado me favoreçam, isto não me conforta nem por um segundo: não estarei satisfeita enquanto meu semelhante não for igualmente munido de oportunidades, escolhas e aparentes vantagens.

Enquanto outras mulheres forem assediadas brutalmente, enquanto negros receberem salários inferiores, enquanto homossexuais não forem vistos com igualdade, eu não me considerarei satisfeita. Somos todos semelhantes, devemos viver em equidade. A luta para que isso seja uma realidade universal deve ser diária. Unânime.

Não existe meia liberdade, da mesma maneira que não existem seres “meio” humanos nem “meio” iguais.

Estereótipos devem (precisam!) ser banidos a cada mínima chance, pois eles nos aprisionam e nos cristalizam em um passado cruel demais. Discriminatório e triste.

Que cada um possa escolher sua roupa e corte de cabelo sem perder a credibilidade. Que o afeto seja visto sem moralismos e que o respeito prevaleça.

Otimista demais? Talvez.

Então que eu não seja sozinha. Se nosso legado for de fraternidade, cada geração que surge trará consigo cada vez mais amor, tolerância, compaixão e respeito; para que a vida de cada um seja vivida com igualdade de direitos, cada um equivalente a todas as suas particularidades.

 

*Que o x sirva como variável equivalente todas as nossas vozes. Vamos juntos e juntas, e tudo que fica entre os dois!

 

 

Eduarda Padoin – Psicóloga clínica