Vereador será investigado em comissão após dizer que “a Câmara é a milícia da prefeitura”
Declaração foi feita em um grupo de WhatsApp com servidores após sessão da semana passada
O vereador corregedor da Câmara de Vereadores de Brusque, Cleiton Bittelbrunn (DEM), protocolou na segunda-feira, 27, uma representação pedindo a abertura de um processo disciplinar, com a instalação de uma Comissão de Ética e Decoro Parlamentar, para apurar a conduta do vereador Marcos Deichmann (Patriota).
A representação ocorre em virtude de uma fala do vereador no grupo de WhatsApp dos parlamentares com a assessoria do Legislativo em que ele diz que “A Câmara de Vereadores é a milícia da prefeitura”.
De acordo com o corregedor, a manifestação de Deichmann ocorreu após a sessão virtual da Câmara de Vereadores do dia 23 de abril, quando um requerimento conjunto do vereador pedindo celeridade na distribuição da merenda escolar pela secretaria de Educação, não foi colocado na pauta de votação.
No grupo, Deichmann mandou um áudio de 40 segundos questionando a decisão, transcrito na íntegra pelo corregedor no texto da representação:
“Tá, mas por que isso, Fabiana, não entendo. Se o requerimento é para distribuição de merenda escolar, tem que esperar uma semana? Por que isso? Isso aí tá parecendo milícia da Prefeitura, essa Câmara de Vereadores aí, sinceramente. Por que isso aí não é um assunto de tão pouca importância que não tenha que ser colocado hoje, né!? Então assim, só se faz o que se quer, e não o que se precisa, só o que achar conveniente, esse que é o problema, e isso tá acontecendo já não é de hoje, né?!, mas é só porque foi nosso. Se fosse de outros, ali do grupo, com certeza isso já teria sido protocolado. Mas tudo bem. É dessa forma que a coisa anda. A Câmara de Vereadores é a milícia da Prefeitura”.
Na representação, o corregedor destaca que há restrições no ambiente virtual de deliberação estabelecido de maneira excepcional em virtude da pandemia da Covid-19.
De acordo com Bittelbrun, o mesmo procedimento estava sendo aplicado a todos os vereadores, independente de sigla partidária, e que não há razão para o vereador proferir tais palavras. “Buscando tratamento privilegiado em relação aos seus pares, perdeu a compostura quando não teve seu pedido atendido, atacando a presidência, vereadores, servidores e a dignidade de todo o poder Legislativo”, justificou.
O pedido do corregedor foi aceito pela presidência da Câmara que ao fim da sessão desta terça-feira, 28, comunicou os vereadores que o sorteio dos membros da Comissão Disciplinar será realizado no dia 12 de maio às 14 horas, na Câmara de Vereadores.
“Não retiro minhas palavras”
Em contato com O Município, o vereador Marcos Deichmann diz que as declarações foram dadas em um grupo interno da Câmara após ele não concordar com o trâmite dado a um requerimento protocolado por ele e outros vereadores.
“A Câmara é, sim, um puxadinho da prefeitura. Não retiro minhas palavras. Esse é um ato para me calar, mas não vão conseguir porque eu não uso meu mandato para negociar”.
O vereador também se disse surpreso com a representação feita pelo corregedor. “Ele (Cleiton Bittelbrunn) não tem moral nenhuma para falar de mim. Tantas situações graves já ocorreram na Câmara e ele não teve coragem de fazer nada. E agora essa situação banal, que faz só para me denegrir. Se eu for cassado, estou com a consciência tranquila”, afirma.
“Esse tipo de coisa eles veem, agora projetos importantes chegando na casa em cima da hora, em regime de urgência, ninguém fala nada. Estão jogando o regimento no lixo. Todo mundo está cheio de cargos na prefeitura, só têm que aceitar tudo que eles mandam”, dispara.
*Notícia atualizada às 20h46 para incluir o posicionamento do vereador Marcos Deichmann.