Vice-prefeito Farinha afirma que PT e PP estão rompidos
Farinha diz que a maior parte do partido está insatisfeita com o tratamento que vem recebendo de Paulo Eccel
A maior parte da Executiva do PP de Brusque decidiu pelo rompimento com o governo Paulo Eccel, afirmam o presidente do partido e vice-prefeito, Evandro de Farias, o Farinha, e o 2º vice-presidente da sigla, Juarez Piva. Ambos confirmam que não haverá um “anúncio oficial” da saída, mas que as relações político-partidárias com Eccel estão cortadas, devido a uma insatisfação geral sobre a forma como o partido vem sendo tratado, dentro da administração municipal.
A decisão foi tomada há algumas semanas, em uma reunião realizada no bairro Guarani, mas nenhum membro da Executiva havia se pronunciado oficialmente. Segundo Farinha, dos 14 membros da diretoria do partido, oito foram favoráveis ao rompimento com o governo. Os seis que foram contrários ao “corte dos laços” são os que ocupam cargos na atual administração, ou que indicaram ocupantes de cargos.
Esse foi o estopim de uma relação partidária já prejudicada, desde o início de 2014, quando o partido orientou voto contrário a um projeto protocolado por Eccel, que tratava de adesão a um consórcio intermunicipal para gestão de resíduos sólidos. Desde então, Farinha vinha tentando contornar a situação, mas a exoneração de cargos indicados pelo PP foi aumentando a insatisfação.
“A reunião era para demonstrar o descontentamento do PP, que a maioria não concorda com o tratamento recebido. Mas não estamos falando em administração, temos uma cidade em evolução, muito bem cuidada. É um governo em que todos nós temos um pedacinho neste sucesso”, afirma.
A gota d’água foi a demissão da ex-secretária municipal da Fazenda, Fabiana Dalcastagné, que gerou uma avalanche de críticas ao governo Eccel por pepistas. A reunião no Guarani também serviu para discutir a posição do partido em relação a essa exoneração.
Pirola recusou cargo
Conforme o vice-prefeito, em meados de dezembro do ano passado, Paulo Eccel procurou a ele e ao vereador Jean Pirola, para tratar de mudanças na Fazenda. “Ele nos avisou que não estava contente com a permanência da Fabiana na secretaria”.
Naquele momento, diz Farinha, Eccel ofereceu o cargo de secretário ao vereador Pirola, que pediu uns dias para pensar a respeito. Posteriormente, Pirola recusou a oferta, que, segundo o vice-prefeito, tinha objetivo de reduzir o poder de fogo da oposição na Câmara, com a substituição do vereador por um suplente. “O vereador sairia da Câmara e iria para a secretaria, era um problema a menos para o prefeito”, resume.
Depois da recusa de Jean Pirola, Farinha conta que Paulo Eccel não tocou mais no assunto, até que determinou, no dia 23 de dezembro, a exoneração de Fabiana Dalcastagné, sem informar ao PP. “Não houve outro contato do Paulo para pedir indicação ao partido”, diz.
“Se o prefeito não está contente com a Fabiana, a secretaria, entre aspas, deveria ser do PP, então o PP tinha que ter prioridade de indicar alguém, isso era o normal. Mas não houve a chance dele nos oferecer a pasta para indicar outro nome”, afirma o vice-prefeito.
“Ninguém é obrigado a sair”
O vice-prefeito afirma que a mesma reunião que deliberou sobre o rompimento com o PT também determinou que ninguém do partido seria obrigado a entregar o cargo público, salvo sob vontade do prefeito, que não precisa de justificativa para exonerar ninguém.
“Quem estivesse contente poderia continuar, damos liberdade de participar do governo”, afirma, “o que a gente queria com essa reunião é ter certeza de que a maioria do partido não concorda com o jeito como estamos sendo tratados, como estamos sendo valorizados”.
A conversa de que ninguém é obrigado a sair também se aplica a ele, o qual garante: não irá renunciar ao cargo de vice-prefeito. A ideia da renúncia, explica Farinha, foi sugerida pelo 1º vice-presidente do PP, Norival Fischer, o Nori. Se era para sair do governo, que saíssem todos, foi a sugestão de Nori, a qual, preliminarmente, foi aceita por Farinha.
“Quando foi levantada a ideia, eu aceitei, mas a Gleusa [Fischer, secretária de Educação] disse que não concordava, o Gilmar [Vilamoski, secretário de Obras] também disse que não concordava, e a ideia foi eliminada”, explica o vice-prefeito. “E, pensando melhor, isso seria o extremo, quem me deu o cargo não foi o partido, foi o povo que me elegeu”.
Partido ainda não comunicou prefeito
Até esta segunda-feira, 26, a Executiva do PP não havia comunicado oficialmente o prefeito Paulo Eccel do resultado da reunião que decidiu pelo rompimento. O encontro foi realizado em uma quinta-feira e, na sexta pela manhã, Farinha e Jean Pirola foram ao gabinete de Eccel para informar o pensamento da maioria, mas não foram recebidos. “Falamos com a recepcionista e pedimos cinco ou dez minutos para conversar com o Paulo. Ele estava em reunião e disse que não podia atender no momento”.
“Ele não pode abrir uma exceção, é muito importante”, disse o vice-prefeito à recepcionista, que manteve a negativa. Farinha pediu para que, após a reunião, Eccel ligasse para ele, ou para o vereador Pirola, para que novo encontro pudesse ser marcado.
“Essa ligação não aconteceu, até hoje não foi retornada. Em nenhum momento eu fiquei de retornar. São detalhes que precisam ser esclarecidos, para não pensarem que a gente não queria conversar. Estive lá procurando ele, eu fiz a minha parte. A hora que ele achar conveniente, a gente está disponível”, afirma Farinha.
Nesse momento da entrevista, Juarez Piva, por sua vez, reitera que o partido está rompido formalmente com Eccel. “Uma das principais coisas que aprendi é que a vida tem o tempo para plantar e o tempo para colher. O prefeito plantou, e agora ele começa a colher, e vai ver o que é essa ruptura, o tempo vai mostrar o que ela é”, afirma.
Farinha ressalta, porém, que não pretende cortar relações pessoais com o prefeito, e que a divergência se resume ao tratamento político. Questionado se teme um afastamento por completo de Paulo Eccel, como se deu com o ex-presidente da Câmara, Guilherme Marchewsky (PMDB), ele diz que isso não depende de sua vontade. “Sempre fui muito aberto ao diálogo, sempre consegui temporizar os atritos, as diferenças de opinião. Isso vai depender muito mais do prefeito do que de mim”.
PP pode perder mais cargos
Farinha e Piva dizem que é provável a perda de mais cargos do partido, cuja cota é de cerca de 30 nomeações na administração municipal. “Isso pode acontecer, e se for isso o prefeito vai se vingar das pessoas erradas, que não merecem”, diz o vice-prefeito.
Ele ressalta a situação do PMDB, que teve sua participação política no governo diminuída, a cada posicionamento contrário na Câmara de Vereadores. Caso isso aconteça, no entanto, ele não acredita que os que hoje estão a favor de Eccel mudem de opinião. “A questão é matemática pura: Temos uma secretária [Gleusa Fischer] que é irmã de um vereador [Edson Rubem Muller, o Pipoca], na Educação é muito difícil isso acontecer. O Gilmar diz que o cargo dele não é político, e ali cada um faz o que achar melhor”.
Ele afirma, ainda, que o PP abriu mão de duas secretarias que eram de sua cota: a Defesa Civil e a de Trânsito e Mobilidade, para que fossem ocupadas por cargos técnicos. “Nunca houve pressão do PP para que se filiassem ao partido para ocupar a pasta. A cidade está acima da ambição pelos cargos”, diz Farinha.
Juarez Piva, no mesmo sentido, contesta a declaração do chefe de gabinete da prefeitura, Cedenir Simon, de que o PP teria o comando de dois terços do efetivo da prefeitura. “Pega o departamento de Obras, que tem mil e poucas pessoas, temos só o secretário. E daí que existem subordinados? Na secretaria de Obras só temos o cabeça, isso [comandar a maior parte do funcionalismo público] não reflete a realidade”, pontua.
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