VÍDEO – “Ele vê tanques de guerra, caças e soldados”, conta irmã de pastor catarinense que está na Ucrânia
Após viajar 28 horas até a fronteira com a Polônia, ele precisou descansar em uma cabana, no meio de uma mata
Após viajar 28 horas até a fronteira com a Polônia, ele precisou descansar em uma cabana, no meio de uma mata
Com a ocupação da Rússia na Ucrânia desde a última quinta-feira, 24, e o clima de avanço na guerra aumentando a cada dia, catarinenses relatam o clima de tensão em ter familiares ou por morar em um dos países do leste europeu.
Scheila, de 34 anos, que por questões de segurança não quis relevar seu sobrenome, e é de Joinville afirma que o irmão, Rafael, de 32, morador de Kiev, capital ucraniana, viajou 28 horas até a fronteira com a Polônia, junto com a esposa e amigos. Durante o trajeto, ele precisou parar em uma cabana, no meio de uma mata, para descansar e se alimentar.
De acordo com ela, o local em que Rafael mora com a esposa foi bombardeado momentos depois deles deixarem a casa. Eles, junto de dois amigos brasileiros, estão viajando apenas com combustível e comidas na bagagem.
As cenas vistas pelo joinvilense assustam. “Nas ruas, ele vê tanques de guerra, caças, helicópteros, caminhões e muitos soldados russos. Vai à frente de casa e se depara com cenas de guerra, com tanques enormes”, conta Scheila.
Pastor e em missões religiosas de trabalho, Rafael foi com a esposa para Moscou, na Rússia, há cinco anos. Em 2021, eles se mudaram para Kiev. Devido ao fuso horário e de estrutura, como carregar o celular, Scheila diz ter pouco contato com ele. “Às vezes demora até três horas para conseguir responder uma mensagem”, lamenta.
Ao lado dos dois joinvilenses, outros dois brasileiros estão viajando até a fronteira com a Polônia.
A ideia de Rafael de viajar cerca de 930 quilômetros de carro se dá pelo fato da Polônia e Letônia estarem recebendo moradores da Ucrânia. O cansaço é extremo. “A fila é como de São Francisco do Sul para Joinville em um fim de semana de verão”, compara Scheila. Ao chegar no local, porém, a situação pode piorar, já que a entrada na fronteira pode durar até três dias.
A barreira é ainda maior para quem não é ucraniano. “Como ele é imigrante e do Brasil, é mais difícil ainda entrar nos outros países, pois estão aceitando só pessoas da Ucrânia”, explica.
A irmã do pastor ressalta que ele não sabe o que fazer, mesmo se conseguir entrar na Polônia. “Não sabemos o que poderá acontecer ou o que se pode fazer. Ninguém sabe o que será daqui para frente por lá”, finaliza.
Nascido em Joinville, João Pedro Silva, de 26 anos, está morando há cinco em Kazan, na Rússia. Ele conta que o país vive um clima de medo e insegurança. O joinvilense diz que, no trabalho, as pessoas estão caladas e os conflitos são destaques durante todo o dia nos meios de comunicação.
“Falam muito das regiões de Donbass (local onde ficam as cidades de Donetsk e Luhansk, controlada por rebeldes separatistas pró Rússia) que estão sendo atacadas e que não chegará na minha cidade, mas não sabemos de nada”, fala.
Ele conta que, até o momento, aulas em jardins de infância e escolas foram canceladas, além de alguns aeroportos estarem fechados, como os da Crimeia, que faz fronteira com a Ucrânia. Mas que não impactam muito no dia a dia. “Pediram para os russos saírem da Ucrânia. Mas, para brasileiros e quem mora na Rússia, é como se fosse a vida normal”, finaliza.
Apesar disso, ele ressalta que o país russo está dividido, sendo que metade da população apoia as últimas decisões do presidente Vladimir Putin.
“Uma professora disse que não vai acontecer nada, que se trata de questões econômicas”, e complementa com ideias de apoiadores da guerra. “Alguns pensam que estava na hora de entrar na Ucrânia, pois acham quem a Rússia faz coisas de graça para eles”, expõe.
João salienta haver protestos contra a guerra em Moscou e São Petersburgo, mas que costumam ser reprimidos pelo governo russo. “Prendem pessoas com esse posicionamento. Se for algo solitário, essa pessoa vai pagar por todas”, compartilha.
A Rússia decidiu ocupar o território ucraniano após os Estados Unidos e parte da Europa Ocidental dialogarem com a Ucrânia sobre entrada do país na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Contrário à ideia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, reconheceu a independência das cidades de Donetsk e Luhansk, territórios separatistas pró Moscou, na última segunda-feira, 21.
O governo russo seguiu avançando e, na última quinta-feira, 24, passou a invadir e bombardear diversas regiões ucranianas, incluindo a capital Kiev.
Em um comunicado oficial, Putin fez ameaças para quem tentar impedir a ocupação. “Quem tentar interferir, ou ainda mais, criar ameaças para o nosso país e nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata e levará a consequências como nunca antes experimentado na história”, cravou o líder russo.
O governo de Santa Catarina emitiu uma nota oficial nesta quinta-feira, 24, informando que está buscando a repatriação de catarinenses que estão na Ucrânia – país que está sendo atacado pela Rússia nas últimas horas. De acordo com a Secretaria de Assuntos Internacionais, o contato com o Itamaraty já foi feito, para, entender de que forma isso poderá ocorrer.
“O secretário executivo de Assuntos Internacionais (SAI), Fernando Raupp, informa que do mesmo modo que o Governo do Estado, por meio da SAI, trabalhou para ajudar na repatriação de catarinenses que estavam no exterior em outras situações, novamente – no que compete ao Estado –, o governo se colocará à disposição do Itamaraty em situações em que catarinenses que, por ventura, estejam na Ucrânia, precisem de informações ou queiram retornar a Santa Catarina”, aponta a SAI.
Apesar do contato com o Itamaraty, não há informações sobre o número de catarinenses que vivem ou estão na Ucrânia. Além disso, ainda não há também uma estratégia definida ou divulgada para que a repatriação ocorra.
Também por nota, o Itamaraty informou que está tentando contato com os brasileiros que estão na Ucrânia. Foram divulgados canais de comunicação para que os cerca de 500 brasileiros que vivem na Ucrânia possam abrir comunicação com a Embaixada do Brasil, em Kiev.
Embaixada do Brasil em Kiev permanece aberta e dedicada, com prioridade, desde o agravamento das tensões, à proteção dos cerca de 500 cidadãos brasileiros na Ucrânia. A Embaixada vem renovando o cadastramento dos brasileiros e tem-lhes transmitido orientações, por meio de mensagens em seu site (kiev.itamaraty.gov.br), em sua página no Facebook (https://www.facebook.com/Brasil.Ukraine) e em grupo do aplicativo Telegram (https://t.me/s/embaixadabrasilkiev).
Solicita-se aos cidadãos brasileiros em território ucraniano, em particular aos que se encontrem no leste do país e outras regiões em condições de conflito, que mantenham contato diário com a Embaixada. Caso necessitem de auxílio para deixar a Ucrânia, devem seguir as orientações da Embaixada e, no caso dos residentes no leste, deslocar-se para Kiev assim que as condições de segurança o permitam.
O Itamaraty disponibiliza, ainda, para casos de emergência consular de brasileiros na Ucrânia e seus familiares, o número de telefone de plantão consular +55 61 98260-0610.