X
X

Buscar

Violência nas escolas preocupa educadores

Professores, policiais e outros envolvidos dizem que o papel da família está se perdendo

A falta de respeito contra professores e disciplina na sala de aula está fazendo com que várias entidades e a Polícia Militar se mobilizem para solucionar o problema. De acordo com o soldado Guilherme Sedrez, responsável pelo Programa Escolar de Aproximação (PEA), há vários casos de violência dentro das escolas de Brusque, a maioria envolve somente alunos, mas já foram registrados fatos mais graves.

Dados da Polícia Militar mostram que 399 adolescentes e 41 crianças foram vítimas de algum tipo de crime em Brusque. As ocorrências relacionadas a menores de idade mais comuns são furto, porte ou uso de drogas, roubo, receptação, dirigir sem habilitação e desacato. “Nas escolas, a maioria das ocorrências é entre alunos. São casos de furto, injúria e outros crimes mais leves. Casos envolvendo professores são mais raros”, diz Sedrez.

Embora situações mais graves não aconteçam com tanta frequência, desde o começo do uma escola da rede estadual de ensino passou por momentos complicados com dois alunos. O diretor, que pediu para não ter o nome revelado para não desgastar a unidade, afirma que os dois adolescentes de 17 anos iniciaram o ano letivo na escola na 8ª série – criada especificamente para estudantes repetentes.

Um dos rapazes havia sido reprovado em outra escola e o outro, tinha abandonado os estudos nesta mesma escola por três vezes. “Eles não seguiam regra nenhuma, não tinham limites”, diz. Os dois estudantes entravam a saíam da sala de aula quando bem entendiam, ignorando os professores. Em alguns casos, inclusive, pulavam a janela da sala em vez de usar a porta. Além disso, conta o educador, havia casos de violência. “Aconteceram agressões contra alunos e havia uma pressão psicológica muito grande em cima deles. Também teve agressão contra pais de alunos e suspeita de uso de drogas”, afirma.

Os professores também sofreram com a situação, tanto que um deles deixou de dar aula no estabelecimento depois dos sucessivos episódios envolvendo os dois estudantes. “Não foi só por isso, mas também contribuiu”.
A atmosfera entre alunos e educadores ficou tão tensa que, em junho, a escola decidiu por convidar os alunos a se retirar, com o objetivo de resguardar a integridade física e psicológica do restante das crianças e adolescentes. “Não tinha mais condições de a situação continuar como estava. A situação na escola ficou muito complicada”, conta o diretor. Ele afirma que a situação dos professores é muito complicada, pois ficam “no meio do tiroteio”.

O gerente regional de educação da Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR), Rodrigo Cesari, afirma que tem conhecimento da situação e acompanhou-a de perto. Ele diz que foram tomadas várias medidas junto com os pais das crianças e pedidos reiterados para que eles respeitassem as regras do educandário, no entanto, sem sucesso. Diante disso, foi sugerido a transferência deles – o que aconteceu -, já o outro não aceitou e permanece matriculado na mesma escola.

“Nós não privamos os dois do direito de estudar, porque não podemos. Nós sugerimos a transferência para melhorar a situação, e quem sabe em outro ambiente com outras pessoas eles melhorassem. Um deles foi, o outro está matriculado regularmente, mas não comparece às aulas”, diz Cesari. Por isso, a escola está tendo de responder à Justiça porque motivo o aluno não está frequentando a sala de aula.

Família

Paulo Kons, presidente do Grupo de Proteção da Infância e Adolescência (Grupia), afirma que chegou ao Grupia algumas informações sobre violência nas escolas. “Temos problemas sérios. Há que se ter o viés da prevenção e de trabalhar com as famílias para lembrar o seu papel primordial, que é educar os filhos com princípios, limites e valores”, afirma.

O policial Sedrez, com a experiência de quem lida com os problemas escolares diariamente, diz que há uma “desestrutura familiar muito grande”. O gerente regional de educação diz que a SDR iniciou, há dois anos, um programa com palestras em escolas para restabelecer valores na vida dos alunos. “A gente vive numa realidade em que estão se perdendo valores. A educação, de certa forma, está acabando. E isso, de certa maneira, é culpa da família. Acredito que educação é o tripé entre escola, família e sociedade, se isso não vai bem, o aprendizado é prejudicado”, diz Cesari.

O Grupia, juntamente com a PM e outras entidades, formou um grupo de trabalho para sistematizar as estatísticas de violência nas escolas para combater o problema de forma eficaz. Na semana que vem ocorrerá uma reunião com a presença de um juiz corregedor para apresentar as conclusões dos membros da equipe.
A PM tem o PEA, no qual há um canal direto entre diretores e polícia. O diretor da escola citada diz que o trabalho com a PM foi intenso e serviu para acalmar a situação por várias vezes.