Líbero da Moda Brusque, Audren conta sobre desafios da carreira e momentos em que quase desistiu

Jogadora teve grandes momentos nos EUA, mas tinha outros planos quando recebeu proposta de Maurício Thomas

Líbero da Moda Brusque, Audren conta sobre desafios da carreira e momentos em que quase desistiu

Jogadora teve grandes momentos nos EUA, mas tinha outros planos quando recebeu proposta de Maurício Thomas

A líbero Audren tem se tornado uma das principais jogadoras da Moda Brusque, desde que a equipe começou sua trajetória, no segundo semestre de 2021. Titular na equipe do técnico Maurício Thomas, a jogadora de 25 anos vive o sonho de jogar profissionalmente, depois de uma ótima passagem pelos Estados Unidos e de ter vivido hiatos inesperados na carreira, a ponto de quase perder as esperanças.

Natural de Duque de Caxias (RJ), Audren sempre teve o esporte próximo de si. O pai sempre jogou futebol, enquanto a mãe tem foco no atletismo, correndo meias-maratonas e outras provas de corrida. E o vôlei surge cedo na vida de Audren: aos sete anos, por meio de uma escolinha de iniciação na Vila Olímpica próxima de sua casa. Não demorou para se apaixonar pelo esporte, treinando três vezes por semana.

“Eu sempre quis fazer um monte de coisas. Jogava futebol na rua, gostava de ir para o campo com meu pai. estava sempre neste meio”, relata Audren. Ela era chamada até de “Marta” na sua rua, jogando futebol entre os meninos. Mas, aos 10 anos, surgiu o interesse pelo tênis, o que a fez trocar o vôlei por um ano. “Também já quis largar o vôlei para jogar futebol.”

Mas o vôlei se provaria inseparável de quem Audren era e é. Ela voltou ao caminho iniciado aos sete anos, atuando em categorias de base e passou a maior parte desta fase no Botafogo.

Audren Moda Brusque vôlei Barry
Audren em ação pelo Barry Buccaneers, em 2019 | Foto: Barry University/Divulgação

Estados Unidos

Após a formatura no Ensino Médio, em 2014, Audren se dedicou a tentar iniciar uma carreira profissional. Mas quando uma amiga foi morar nos Estados Unidos para estudar, surgiu a ideia de tentar fazer o mesmo: buscar uma bolsa de estudos para poder jogar vôlei nas ligas universitárias.

Veio uma proposta, mas Audren tirou 56 no TOEFL, o exame de proficiência em inglês necessário para ingressar nas universidades. A nota de corte, porém, era 61. “Tentei explicar para a treinadora, eu faria a prova no dia seguinte e teria uma pontuação melhor. Mas ela nunca respondeu”, lembra.

Por conselho de uma amiga, a líbero buscou uma agência esportiva para tentar mais opções. Vieram propostas, mas sem bolsa de estudos integral. Não era a situação ideal, porque exigiria um esforço financeiro que a família talvez não conseguisse cumprir.

Mas, em um dia, a caminho de um treino no Botafogo, Audren recebeu o e-mail que queria: bolsa de estudos integral, com moradia e alimentação. A viagem foi feita no mês seguinte.

De 2016 a 2018, a jogadora atuou pela Broward College, uma “junior college”, com cursos profissionalizantes e preparatórios para o Ensino Superior propriamente dito. Nas temporadas de 2018 e 2019, foi líbero da Barry Buccaneers, a associação atlética da Barry University, em Miami, na Flórida.

Audren quebrou recordes das Buccaneers | Foto: Barry University/Divulgação

Audren estudou psicologia do esporte na Barry, uma universidade católica privada. Foi campeã da conferência da Flórida (SSC) em 2018, uma conquista que encerrou um jejum de 14 anos. Na fase regional, a Barry caiu nas semifinais. No ano seguinte, a equipe foi vice-campeã regional.

Ao todo, Audren fez 66 jogos pela equipe. É recordista da Barry em defesas em uma única temporada (688 em 2018) e em média de defesas por set (5,93 em 2018). Também acumula diversas premiações individuais. Esteve presente no time da década (2010-2019) da SSC. Em 2018, figurou entre as melhores jogadoras na premiação da Associação de Técnicos do Voleibol Americano (AVCA).

Interrupção

Audren se formou na Barry em 2020, e queria seguir carreira como jogadora de vôlei profissional. “Entrei em contato com muitas pessoas, muitos agentes. Estava fora, e precisava ir para um outro país, porque não existe liga profissional de vôlei nos Estados Unidos.”

A busca por mercado na Europa não estava sendo bem sucedida. A limitação da quantidade de jogadoras estrangeiras era um empecilho, porque os clubes preferem utilizar a cota de atletas de fora contratando centrais, ponteiras ou levantadoras. Uma líbero como Audren teria menos espaço.

No entanto, surgiu uma proposta da Soccer & Olympic Management Institute, em Roma. O plano era fazer um mestrado em gestão do esporte com foco na função de treinadora. A instituição encontraria um time para que Audren pudesse jogar. Ela deixou os EUA em setembro de 2019 e se mudou para a Itália, passou a treinar, mas não pôde ser inscrita como jogadora.

Era agosto de 2020 e não conseguiu o visto de trabalho por conta da pandemia. Não poderia voltar ao Brasil, porque poderia não conseguir continuar o mestrado.

Com o mestrado concluído em maio de 2021, Audren seguiu na busca por um clube para dar sequência na carreira, já no Brasil. “Fui meio que perdendo as esperanças. Chegou uma hora que sentava e pensava: como vou conseguir? Sem agente, ninguém me conhece. Foi bem doloroso. Vi meu sonho indo embora”, relembra.

Mudança de planos

Audren recebeu uma proposta para voltar a Roma e trabalhar na mesma instituição na qual obteve o mestrado. Quando estava fechando as malas para a viagem, recebe uma mensagem do técnico Walner Santos, do Botafogo. Dois meses antes, a líbero havia pedido por ajuda a ele com indicações para poder voltar a jogar vôlei.

“Fiquei com medo de abrir aquela mensagem porque já estava tudo certo. Já sabia que teria alguma coisa com voleibol. Eu tinha tudo confirmado para ir trabalhar na Itália: hospedagem, passagem, tudo.”

A mensagem dizia que o técnico Maurício Thomas estava montando um time em Brusque, e que estava procurando por líberos. E que, talvez, ele entrasse em contato. “Eu gelei. Gente, o que é que eu vou fazer da minha vida?”

Vinte minutos se passaram e Maurício Thomas ligou. “Eu tava tremendo, não queria atender a ligação. Nem cheguei a contar para ele, mas deixei tocar e fingi que não vi a ligação. Pensei um pouco, falei com as pessoas que me apoiam, aqui, nos Estados Unidos, na Itália. Pensei no que iria fazer. Mandei mensagem para o Maurício, ele me ligou, explicou tudo. Disse que gostaria da resposta o mais rápido possível, teria que estar em Brusque dali a três dias”, relata.

“Assim que desliguei, sentei na minha cama e tive um ataque de pânico. Não conseguia parar de chorar. Não sabia se largava tudo pelo vôlei ou continuava o que tava fazendo. Depois de cinco, seis horas, sem chorar, pensando muito, decidi que não tinha como largar o voleibol. Aí cancelei tudo, perdi tudo que estava definido até ali.”

E assim, as malas de Audren tiveram outro destino, com total apoio da família. “Meus pais me apoiam em tudo. Minha mãe disse que está sempre disposta a apoiar e que estaria feliz se a filha estivesse feliz.”

Audren Moda Brusque vôlei Barry
A líbero em ação no Campeonato Catarinense | Foto: Daniel Mafra/Moda Brusque

Moda Brusque

Em Brusque, Audren passou a fazer parte de uma equipe comandada por um técnico consagrado no meio do voleibol. Era colega de jogadoras experientes, como Sassá e Juliana Nogueira. “Não sei nem explicar, mas foi uma sensação de realização. Ter o Maurício, com tanta experiência no voleibol, tantos contatos, tanta coisa para passar para a gente. Jogadoras como Sassá e Ju Nogueira, de seleção, ensinam a gente sem ensinar. Só de estar do lado delas a gente já aprende.”

A líbero esteve presente nas conquistas da Superliga C, do Campeonato Catarinense e dos Jogos Abertos de Santa Catarina. Ao fim da temporada de 2020, teve o contrato renovado para a Superliga B.

De todos os jogos até agora, o mais marcante foi em 29 de outubro, no Sesi, contra a Chapecoense/Unoesc, pelas semifinais da Superliga C. O placar foi 3-2, com parciais de 25-20, 21-25, 25-22, 16-25, 15-6. “Naquele jogo tive o sentimento de ‘se a gente perder, acabou. O projeto não vai continuar neste ano, os times já estão fechados. Então aquela vitória foi surreal.”

Audren reserva muitos elogios para a torcida da Moda Brusque, e afirma que a reação do público na final do Campeonato Catarinense, também contra a Chapecoense/Unoesc, foi inesquecível. “Foi no Bandeirante. Era uma energia muito boa dentro e fora de quadra. A gente estava perdendo o quarto set, e a torcida vibrando, cantando. Quando viramos aquele set e levamos pro tie-break, a torcida foi a loucura. Arrepiava.”

Audren Moda Brusque vôlei Barry
Foto: Daniel Mafra/Moda Brusque

E no desempenho vitorioso neste início de caminhada da Moda Brusque, Audren aponta não apenas os méritos do elenco, mas também do treinador. “Aparece bastante a experiência do Maurício. O que ele passa para a gente, o quanto ele estuda os outros times”.

A Moda Brusque conseguiu a classificação às semifinais da Superliga B, e Audren se mantém otimista quanto às possibilidades da Moda Brusque. Também espera que o time possa se fortalecer rumo aos momentos mais decisivos da temporada.

“Sabíamos que a Superliga B seria uma competição difícil, com times nivelados. Estamos fazendo uma campanha com nível técnico muito bom. Sempre tem algo a melhorar, claro. Não sei se é de superar as expectativas, porque elas sempre foram bem altas, pela experiência, pela rodagem no voleibol, nada é novo para ninguém na equipe. E temos muito a crescer ainda.”

Depois de tantas indefinições e dúvidas sobre se conseguiria dar sequência em uma carreira no vôlei, Audren vem vivendo o sonho de criança, como jogadora profissional. E, para o futuro mais distante, os planos também estão traçados. A graduação e a pós-graduação já apontam o caminho.

“Pretendo jogar vôlei até não aguentar mais (risos), e depois, quero ser técnica nos Estados Unidos. Se for na Barry, seria legal, pela história que tenho lá, mas não tenho preferência não”, explica.


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