Voto eletrônico: modelo criado em Brusque completa 31 anos neste domingo

Em 15 de novembro de 1989, 373 eleitores da 90ª seção eleitoral do município votaram pelo computador

Voto eletrônico: modelo criado em Brusque completa 31 anos neste domingo

Em 15 de novembro de 1989, 373 eleitores da 90ª seção eleitoral do município votaram pelo computador

Neste 15 de novembro, completa 31 anos da implantação do voto eletrônico no Brasil. A experiência bem sucedida aconteceu durante as eleições presidenciais de 1989. Naquele dia, a 90ª seção eleitoral de Brusque foi montada no Fórum, no bairro Jardim Maluche, transformando Brusque na primeira cidade a votar de forma eletrônica.

Na ocasião, 373 eleitores votaram pela primeira vez usando um computador. Brusque virou notícia em todo país, pois foi a primeira cidade a ter os resultados da votação, logo após o encerramento, às 17 horas.

Rapidamente, a notícia da votação por computador se espalhou. Nos dias que se seguiram à eleição, jornais de todo o estado e do país deram destaque para o feito.

A cidade, mais tarde, chegou a ganhar o título de ‘Berço do Voto Eletrônico’ no Brasil, pois aquela votação realizada na 90ª seção deu origem ao sistema eleitoral que conhecemos atualmente e que será utilizado, mais uma vez, neste domingo, para definir os novos prefeitos, vices e vereadores de todo o país.

Um dos primeiros candidatos utilizados para o voto eletrônico em Brusque | Foto: Bárbara Sales

O começo

A ideia de informatizar a eleição e tornar o processo de apuração mais ágil era um desejo antigo do desembargador Carlos Prudêncio, que foi juiz eleitoral por muitos anos. 

Nas cidades onde atuou, trabalhou para que os resultados das eleições fossem sempre os primeiros a serem divulgados. “Não me conformava com aquele sistema. Aquela papelada, a demora para a apuração. Por isso, sempre pensei em formas de agilizar o processo”.

Em 1982, Prudêncio era o juiz eleitoral da Comarca de Joaçaba, e naquela eleição usou pela primeira vez um computador para a totalização dos votos. O computador utilizado foi emprestado de um jornalista e era o único da cidade.

“Na minha ideia, aquilo ia ajudar muito na rapidez dos resultados, pois saía o boletim da mesa apuradora e já alimentávamos o computador com os dados. Na máquina tinha uma pessoa digitando e ao final saía o somatório”.

Modernização em Brusque

O computador utilizado para a totalização dos votos em Joaçaba foi um sucesso. O que motivou Prudêncio a continuar com a ideia de modernizar o sistema de votação. Em 1983, o então juiz foi transferido para Brusque. E foi aqui que ele seguiu com o sonho. 

Na eleição de 1986 para governador e deputados estaduais, o juiz eleitoral voltou a utilizar o computador para fazer o somatório de votos. Com isso, Brusque foi o primeiro município a finalizar a contagem dos votos.

Computador utilizado para o primeiro voto eletrônico no Brasil está na casa do desembargador Carlos Prudêncio | Foto: Bárbara Sales

Nas eleições municipais de 1988, o juiz queria mais. Já tinha em desenvolvimento em parceria com o irmão, Roberto Prudêncio, um projeto de votação eletrônica. A sua vontade era que nas eleições daquele ano o computador fosse utilizado não apenas para somar os votos, mas para votar.

Em junho de 1988, ele e o irmão foram em busca do apoio do TRE, mas o presidente do órgão não quis participar. Prudêncio decidiu continuar com o projeto mesmo assim, mas como não havia tempo hábil para implantá-lo, a eleição de 1988 foi feita de forma manual, e somente a apuração foi no computador.

Secretaria eletrônica

Foi durante a apuração da eleição de 1988 que entrou em cena um novo personagem da história do voto eletrônico no país. Itamar Mosimann tinha como hobby a informática. Ele foi um dos primeiros a ter um computador em Brusque e sempre gostou de experimentar coisas novas dentro da área.

Faltando poucos dias para a votação naquele ano, foi procurado por representantes da Rádio Araguaia. Eles queriam que ele criasse um programa de apuração dos votos para a rádio. “Eles ficaram sabendo que uma outra rádio já estava desenvolvendo um programa semelhante e queriam que eu fizesse para eles”, conta.

Mosimann lembra que faltavam três dias para a votação, mas aceitou o desafio. Varou noites trabalhando no programa que, além da apuração, já dava a provável composição da Câmara de Vereadores.

No dia da apuração, o programa criado por Mosimann e pela outra empresa apresentou divergências. Mais tarde, chegou-se à conclusão de que o trabalho dele estava correto. Foi assim que ele conheceu o juiz Carlos Prudêncio.

Itamar Mosimann ajudou no processo de implantação do voto eletrônico | Foto: Bárbara Sales

“Ele disse para eu ir às 8 horas da manhã do dia seguinte no fórum porque ele queria falar comigo. No outro dia, ele falou do projeto de votação eletrônica e queria minha ajuda”, lembra.

Mosimann ponderou, dizendo que não teria como fazer tudo sozinho, pois Prudêncio queria não somente a secretaria eletrônica, que ele já havia feito na eleição de 1988, mas também o que viria ser a urna eletrônica.

“Mais próximo da eleição de 1989, ele veio me procurar e eu falei pra ele pedir ajuda das grandes empresas de informática. Ele disse que já havia feito. Eu sugeri, então, a Ceprodahe. Eu mesmo liguei para o Jorge Zimermann, solicitando um programador. Aí eu nem acompanhei mais, aprimorei o meu sistema e a outra parte foi com eles”, conta.

Programação do voto eletrônico

Com apenas 17 anos, Juliano Benvenutti começou a trabalhar na Ceprodahe. Ele também teve um papel importante no desenvolvimento da urna eletrônica. 

Benvenutti iniciou na empresa como digitador, depois passou para operador e então programador. Foi na época que estava iniciando como programador que surgiu a oportunidade de ajudar o juiz eleitoral na empreitada pelo voto eletrônico.

“O Prudêncio procurou algumas empresas que não quiseram ajudar e por indicação do Mosimann chegou na Ceprodahe, o gerente da época, Gerson Ricardo de Freitas Ferreira, se interessou e disse que poderia desenvolver”, conta.

Juliano, então, entrou no projeto. Ele trabalhava no terceiro turno na Ceprodahe e nas horas livres atuava no desenvolvimento do programa. “Em uma semana comecei a fazer e foi o meu início como desenvolvedor. O Gerson buscou muitas informações para mim até chegar ao primeiro protótipo, pois não tínhamos muito acesso em Brusque”, diz.

“Me sinto muito feliz em saber que contribuí com esta história. Trabalhar na Ceprodahe mudou minha vida”.

O dia da votação

Antes da votação no dia 15 de novembro de 1989, foram realizados testes com várias pessoas para analisar o entendimento dos eleitores com o equipamento. Chegou-se à conclusão de que estava compreensível e que seria possível utilizar o computador no dia da votação.

Com isso, a seção foi montada no fórum. Na sala, havia um computador para o presidente da mesa, que conferia os dados do eleitor, e um computador para votar. Primeiro, os eleitores votavam pelo modo tradicional: as cédulas. Depois, digitavam os mesmos votos no computador.

Às 17 horas a votação foi encerrada, e então a apuração começou. Prudêncio entrou no sistema e deu o comando para os votos serem computados e impressos os resultados daquela urna.

Reportagem do jornal O Município publicada no dia 17 de novembro de 1989 | Foto: Reprodução

“Foi um dia histórico. O resultado deu 100% certo com a forma tradicional. Logo, toda a imprensa já estava sabendo do voto por computador. No dia seguinte, os principais jornais deram grande destaque para o feito”, afirma Prudêncio.

A eleição presidencial daquele ano foi para o segundo turno entre Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva. Brusque, que naquela altura já estava conhecida no país inteiro, ampliou a votação computadorizada.

Além da 90ª seção, os eleitores da 84ª seção também votaram pelo computador no segundo turno. Um total de 790 eleitores.

No dia seguinte à apuração, o ministro do TSE, Francisco Rezek, ligou para Prudêncio, parabenizando-o pelo feito e demonstrando interesse em conhecer o projeto.

No ano seguinte, já sob o comando do ministro Sidney Sanches, uma comitiva do TSE visitou Brusque, onde foi realizada uma eleição simulada para que todos pudessem conhecer o sistema.

Na eleição do dia 3 de outubro de 1990, o presidente do TSE veio a Brusque para acompanhar a votação e presidiu a eleição daqui. O fato repercutiu nacionalmente.

Nota publicada no jornal O Município na edição do dia 24 de novembro de 1989 | Foto: Reprodução

A partir dali, deu-se início ao processo para implantar o sistema em todo o país. 

A urna com as características atuais começou a ser implantada em 1996 nas capitais e nos municípios com mais de 200 mil eleitores, num total de 57 municípios brasileiros.

Em Santa Catarina ocorreram eleições informatizadas em Florianópolis, Joinville e Brusque. Naquele ano, um total de 32.488.153 eleitores votaram em urnas eletrônicas em todo Brasil, sendo 1.390.313 eleitores em Santa Catarina.

Apesar de não atender os requisitos mencionados, Brusque foi escolhida pelo TSE para participar da primeira eleição com urna eletrônica no Brasil, em homenagem ao seu pioneirismo.

Somente nas eleições municipais de 2000 o voto informatizado foi estendido a todos os municípios do país, quando 100% do eleitorado pode votar em 353.737 urnas eletrônicas.

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