Vozes de Luz: Terno de Reis carrega 90 anos de tradição familiar em Brusque
Grupo preserva o canto, passado de geração em geração, por família moradora do bairro Santa Luzia
Grupo preserva o canto, passado de geração em geração, por família moradora do bairro Santa Luzia
No bairro Santa Luzia, em Brusque, o grupo Vozes de Luz mantém viva uma tradição musical com mais de 90 anos de história. Mantido pela família Souza, o grupo preserva e transmite a cultura do Terno de Reis, uma manifestação religiosa que celebra o nascimento de Jesus e a visita dos Três Reis Magos.
A origem do grupo é de Nova Trento, a cidade natal da família, que se mudou para Brusque em 2001. Porém, a história do Terno de Reis na família Souza começou com o bisavô materno da família Teixeira, por volta dos anos 1920 e 1930.
A tradição foi passada ao avô, José Maria Teixeira, e, ao longo do tempo, chegou a Anito Albino de Souza, que é casado com Maria Terezinha Teixeira de Souza, uma das filhas de José. Ele participa do Terno de Reis desde os 18 anos de idade.
Anito e Maria ensinaram filhos, genros e netos à arte da cantoria, mantendo a tradição viva através das gerações. “Com o desejo de manter viva essa bela cultura, o grupo Vozes de Luz foi criado para dar continuidade à tradição do Terno de Reis da família e, principalmente, incentivar os mais jovens e as crianças que demonstravam interesse pela atividade”, ressalta Odirlei Mayer, integrante do Vozes de Luz.
O grupo foi oficialmente fundado em setembro de 2000, homenageando a santa de devoção. “Em latim, Luzia significa luz, e por isso Vozes de Luz”, explica Ana Paula de Souza, 31, também integrante. A primeira apresentação ocorreu em 21 de janeiro de 2006, no Teatro Municipal de Itajaí.
O Vozes de Luz era composto inicialmente pelo mestre Anito Albino de Souza, orientador, gaiteiro e puxador da cantoria. Ele faleceu em 2023 aos 75 anos de idade. Também, era composto por Marcos de Souza, na viola e voz; suas irmãs Marli T. de Souza, no atabaque e voz; Ana Paula de Souza, no chocalho e voz; Luzia de Souza Mayer, na voz; Antonio Mayer, voz e chocalho; Odirlei Mayer, violão e voz, aprendendo a puxar a cantoria com o avô; Tainara E. Mayer, na voz; e Ediane Mayer, voz e pandeiro.
Com o passar dos anos, outros membros da família entraram e saíram do grupo. Atualmente, o Vozes de Luz conta com nove integrantes, os mesmos do início, exceto o patriarca, falecido há dois anos, e com a inclusão de Ricardo Meschke. Os que eram crianças no começo agora são adultos, com idades entre 26 e 55 anos.
Segundo o grupo, o principal motivo para a criação do Vozes de Luz foi o desejo de resgatar e divulgar o Terno de Reis além do formato tradicional de “porta em porta”. Assim, passaram a participar de encontros de Terno de Reis, onde diferentes grupos se apresentam para grandes públicos no mesmo local.
“O principal de tudo é Deus e Jesus. O Terno de Reis acontece justamente para anunciar a chegada do Natal, o nascimento do menino Jesus, desejar boas festas, prosperidade no novo ano que se inicia e celebrar o Dia dos Três Reis. Isso é expresso através da música, do cantar e entoar versos, com a intenção de levar alegria, bênçãos e coisas boas para as pessoas que o recebem”, reforça Odirlei.
“Essa cultura é simples, mas cheia de significados, e faz parte de nós; significa vida. O nascer é algo que não pode faltar, pois Natal sem Terno não é Natal. Para a nossa família, sempre tem que ter, mesmo que seja só entre nós. Somos gratos a Deus e aos nossos antepassados por terem iniciado e passado essa tradição para a gente”, completa Ana.
Atualmente, o grupo possui 21 canções, das quais quatro são as mais importantes na herança familiar, cantadas há décadas, desde os tempos do bisavô e do avô. “Procuramos manter as canções originais, tais como sempre foram cantadas, desde há muitos anos, preservando as letras e melodias”, diz Odirlei.
“Algumas adaptações e novas composições foram criadas nos últimos anos. Inicialmente, na época do avô e do pai, o Terno era em trio. Outros anos, antigamente, acontecia em um pequeno grupo. Hoje, às vezes ainda fazemos em trio, mas quase sempre é em grupo maior. Também antes, o principal instrumento era a sanfona; hoje, é a viola, entre os demais instrumentos tocados”, finaliza Ana.
Entre as experiências compartilhadas pelos integrantes está a sensação de missão ao saírem para cantar. “Quando vamos às casas, quase sempre tem uma estrela brilhante no céu que nos lembra a estrela-guia que conduziu os Três Reis Magos até Jesus. E assim ela nos leva às casas onde devemos ir. Sentimos a presença divina da Sagrada Família e dos Santos Reis entre nós, e isso é mágico”, continua Odirlei.
O grupo já se apresentou em várias cidades, incluindo a Casa Indaialense de Cultura e a Paróquia Santa Inês, em Indaial; o Parque Vila Germânica, em Blumenau; igrejas, casas e estabelecimentos no Moura, Nova Trento e Leoberto Leal.
“Em todos esses anos, muitas foram as famílias visitadas. Praticamente todas abriram a porta e nos receberam bem, oferecendo o que desejavam, cada uma do seu jeito. As pessoas ficam felizes, surpresas e, às vezes, se emocionam ao ouvir as músicas, e a gente se emociona junto. E, quando paramos a cantoria, mesmo cansados, temos a sensação de dever cumprido”, conclui Ana.
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