Se “lá fora” o ano de 1977 foi mais um daqueles que causam espanto, pela quantidade e qualidade de discos lançados… no Brasil a coisa não é nem um pouco diferente. Muito pelo contrário!
Em 77, os nomes lançados 10 anos antes, nos festivais de 67, já estavam totalmente estabelecidos, com fôlego e espaço para experimentar novas nuances dos próprios trabalhos. Ainda tínhamos dois anos pela frente até a anistia e longos oito anos até o final do mandado do último presidente militar.
Ainda tínhamos censura e, com ela, toda uma cultura de metáforas e códigos, para burlar os limites e dizer o que era fundamental ser dito. O conflito de ideias entre os engajados, os “bicho grilo” e os nostálgicos pela vida rural estava presente. E, claro, tinha o rock, já calejado na experimentação do hard rock e do progressivo.
E vamos destacar!
Os Saltimbancos – Chico Buarque
A adaptação de Chico para a obra do italiano Sergio Bardotti (também coautor do hit Canzone per Te) , totalmente clássica, é um senhor exemplo de metáfora para burlar os censores. A revolta dos animais que eram tratados fcomo bestas pelos barões, em “certo país” é a mais evidente das metáforas.
É um daqueles discos atemporais, que unem gerações. Não apresentar todas as suas música para as crianças deveria ser um crime.
Bicho – Caetano Veloso
Caetano tem uma obra extensa e cheia de facetas. Mas acho que posso ousar dizer que Bicho é o álbum que melhor representa a fase mais “odara” do cantor e compositor… até porque é o disco que já começa com esse hino do bichogrilismo. Além de Odara, o disco tem Gente, Um Índio, Tigresa (também gravada e lançada no mesmo ano por Gal Costa) e O Leãozinho. Quem não ouviu e cantou junto, não viveu o final dos anos 70. Perdeu.
Refavela – Gilberto Gil
Se tem Caetano, tem Gil. Na mesma vibe, só que mais reconectada com as origens e raízes baianas, como em Ilê Ayê e Patuscada de Gandhi. Também tem a música tema do Sítio do Picapau Amarelo, voltando para as músicas que precisam ser mostradas para todas as gerações de crianças!
O lado mais urbano, contemporâneo e dançante de Gil ficou para outro disco do mesmo ano, que ele divide com a nossa roqueira maior…
Refestança – Gil e Rita Lee
Gil e Rita Lee, mais as suas respectivas bandas (Rita ainda com o Tutti Frutti ) transformaram uma parceria nos palcos em uma verdadeira festa, super representativa da época. De Leve, a versão brasileira de Get Back, dos Beatles, é impagável. A mistura generosa de repertórios, uma provocação revolucionária (é sempre bom lembrar que os dois tinham sido presos por porte de drogas, com todo o circo armado para a mídia, no ano anterior), continua boa de ouvir até hoje. Não tem no Spotify… mas o velho e bom YouTube nunca nos deixa na mão!
O Dia em que a Terra Parou – Raul Seixas
Raul ainda tinha muito o que tocar, em 77. É deste disco, só para deixar as coisas bem claras, o hino Maluco Beleza. Era um Raul menos cru, mas ainda histórico. No mesmo ano, Raul ainda lançou um disco de covers de clássicos do rock, por uma questão contratual. Aquelas coisas.
A Página do Relâmpago Elétrico – Beto Guedes
É o álbum de estreia de mais um membro do Clube da Esquina. Como definir o disco de Beto Guedes? Puro alimento para espíritos que ansiavam por uma vida ideal, rural, natureba, espiritualizada e… longe da própria realidade. Deve dar para entender tudo apenas ouvindo a linda Lumiar.
Casa do Rock – Casa das Máquinas
Legítimo representante do rock brasileiro setentista, o Casa das Máquinas foi citado aqui semana passada, pelo Luis. Foi uma das bandas que tocou no Camburock. Casa do Rock é o segundo disco deles e… embora eu pessoalmente ame Sanduíche de Queijo, do primeiro disco, é inegável que este é o principal disco deles.
E ainda tem mais umas coisinhas para a semana que vem!