Existem grupos de pesquisa na corrida pelo desenvolvimento de uma vacina contra a doença de Alzheimer, principal causa de demência no mundo. Dois desses grupos se encontram na fase 3 de pesquisa e em poucos anos teremos os resultados preliminares.

Acontece muitas vezes na ciência que na procura de um resultado acaba aparecendo outro totalmente inesperado. Foi o que aconteceu com um estudo indiano conduzido pelo Dr. Sangam Shah. Em fevereiro de 2024 ele e seus colaboradores analisaram retrospectivamente cinco grupos populacionais que tinham recebido vacinação contra o vírus Herpes Zoster. O vírus é o mesmo que provoca a Varicela, popular Catapora pode ser chamado vírus VHZ.

Essa metanálise concluiu que a vacinação contra Herpes Zoster diminui as chances de sofrer demência. O vírus Herpes Zoster é aquele que provoca lesões na pele em forma de bolhas e vermelhidão, lesões extremamente dolorosas que são conhecidas como “cobreiro”. É também o mesmo vírus que provoca a varicela, popular “catapora”.

Em geral os resultados de estudos que analisam um grupo de vacinados contra outro de não vacinados são vistos com bastante reserva porque se considera que as pessoas que procuram por vacinação têm uma maior preocupação com a saúde e tem hábitos mais saudáveis que aqueles que fogem das vacinas.

Sendo assim a causa de alguma melhoria em saúde poderia ser o estilo de vida e não o efeito da vacina estudada. Eis que há duas semanas foi publicado o resultado de um seguimento de 7 anos numa grande população de vacinados no País de Gales.

Em 2013, o governo decidiu vacinar aos idosos com 79 anos de idade. Os que tinham 78 anos estariam aptos para ser vacinados no ano seguinte e assim sucessivamente. Aqueles que fizeram 80 anos até o dia 1 de setembro não poderiam ser vacinados. O estudo então fez a comparação entre a população de octogenários vacinados e os não vacinados. Na realidade a diferença de idade entre os dois grupos não passava de poucas semanas.

Os autores concluíram que a população vacinada teve um 20% menos de risco de sofrer demência nos 7 anos seguintes. Esse efeito é mais evidente na população feminina. É uma percentagem nada desprezível, é a primeira vez que uma intervenção de saúde pode influenciar direta e efetivamente em proteger às pessoas contra o desenvolvimento da demência.

Outros estudos menores obtiveram resultados semelhantes. Novas pesquisas são necessárias para confirmar este inesperado benefício e para entender os mecanismos pelos quais isto acontece.

O vírus do VHZ costuma permanecer em estado latente nos neurônios, fica à espreita de qualquer falha no sistema imunológico para começar uma multiplicação acelerada que se espalha ao longo dos axônios ou nervos até provocar as lesões na pele e a dor intensa.

A vacinação ao diminuir as chances de essa reativação estaria protegendo também a integridade do sistema nervoso. Essa é a chamada teoria infecciosa, outros micro-organismos que provocam inflamação no sistema nervoso também podem deixar sequelas cognitivas, o vírus da Covid-19 (SarsCov-2) é um deles.

Esta semana a Anvisa aprovou o medicamento Donanemabe, um anticorpo monoclonal, para o tratamento de Alzheimer em fase inicial. A eficácia dele tem sido muito questionada, o custo anual nos Estados Unidos supera os R$ 180 mil, estará ao alcance de poucos no Brasil.

A vacina do Herpes Zoster tem um custo alto, perto de R$ 1 mil por dose, confirmada sua eficácia para diminuir o risco de Alzheimer é importante que seja adotada pelo SUS. Tramita no Senado um projeto de lei visando incluir a vacina no programa nacional de imunizações para grupos etários prioritários.

Como esse projeto tem como finalidade melhorar a saúde dos brasileiros não existe nenhum lobby defendendo seu andamento em regime de urgência. Enquanto isso quem quiser diminuir seu risco de ter demência vai ter que colocar a mão no bolso.