Aproveitando a comemoração do Dia do(a) Professor(a), reflito sobre um questionamento muito comum na nossa profissão, mas extensivo também a qualquer pessoa que se coloque na função de educar ou liderar, em qualquer âmbito ou circunstância. Não poucas vezes nos perguntamos se o nosso trabalho vale a pena, se estamos realmente contribuindo para a transformação das pessoas e do mundo, ou se falamos para o vazio. Vivemos num mundo caracterizado pela dispersão, pela dificuldade de se concentrar em algum ponto relevante, especialmente se o assunto traz dificuldade ou não é muito agradável. E o professor precisa prender a atenção dos alunos e convencê-los a se aplicarem num determinado estudo, buscarem complementação, aprofundarem o tema. Mas em todos os níveis de ensino essa parece ser uma batalha inglória. Há distrações demais por todos os lados.
Fora do universo escolar também somos tentados a desanimar frente à dificuldade que as pessoas têm de mudar seus hábitos, de evoluir. Muitas vezes parece que rodamos em círculos, repetindo eternamente erros do passado, quando não fazendo pior.
Mas quem abraçou a profissão de ensinar, ou foi agraciado com o dom da liderança, não pode pretender colher os frutos do seu trabalho o tempo todo. Às vezes eles já estão aí, mas não são percebidos ainda. Em outros casos, a semente leva muito tempo para começar a formar a planta. Ainda há os casos em que de nada adiantarão nossos esforços.
Isso se deve ao fato de que trabalhamos com o material mais complicado: o ser humano. Não podemos moldá-lo como o oleiro molda o vaso ou o marceneiro a madeira. O máximo que podemos fazer é lançar luz e inspirar. Não podemos decidir pela outra pessoa, nem fazer o que deve ser feito por ela.
Nossa função é semear e iluminar. A luz não produz nada, diretamente. Ela apenas oferece condições para que se veja o que precisa ser visto, se entenda o que precisa ser entendido, se modifique o que precisa ser modificado. Mas a tarefa depende de quem é iluminado, não de quem ilumina.
Somos colocados no mundo como luminares, mas nós também sofremos com nossas próprias obscuridades e deficiências. Isso nos deve ensinar a tolerar as deficiências dos outros e, acima de tudo, nunca deixar de iluminar. Embora me sinta muitas vezes incomodado pela aparente falta de frutos do meu trabalho, vou aprendendo a driblar o desânimo e seguir em frente.
Até os dias de hoje, muitos mestres e líderes se doaram à tarefa de iluminar, e eu sou, em grande monta, o que pude recolher da luz daqueles que cruzaram meu caminho. Se nos apagarmos ou nos ocultarmos debaixo de uma mesa, como diz a parábola, deixaremos de incentivar muitos bons discípulos, que aguardam nosso incentivo para igualmente não desanimarem.
Então, sigamos em frente, iluminando e sendo iluminados. Não precisamos ver os frutos, basta a certeza de que não nos omitimos nem enterramos nosso talento.