Acreditar na Educação
No último final de semana, assisti ao filme O Aluno, que relata a experiência de um senhor de 84 anos que se matriculou numa escola primária, no Quênia, e frequentou as aulas junto com as crianças. Há uma série de questões envolvendo a história da independência do Quênia, que não vêm ao caso aqui, mas o ideal de progresso nacional baseado na Educação é muito bem apresentado no filme.
Há dois aspectos que quero considerar. Em primeiro lugar, o interesse pela Educação. Um senhor de 84 anos, que resolve aprender a ler e escrever, enfrentando enormes resistências, especialmente de gente que pensa que não se pode desperdiçar vagas e recursos com quem já está com o “pé na cova”, nos desafia. Aprender a ler e escrever é algo que não apenas aparelha a pessoa para alguma atividade, mas lhe acresce dignidade, retirando-a de uma situação restritiva. Ao alfabetizar-se, a pessoa passa a participar de um círculo no qual a cidadania pode ser exercida de modo mais pleno. Para o analfabeto, tudo fica mais difícil. Como já dizia Aristóteles, temos o desejo natural de conhecer e também somos “animais políticos”, ou seja, é da nossa natureza viver em sociedade. A formação intelectual é uma forma de satisfazer a esses dois anseios da nossa natureza. Então, quando o governo do Quênia garantiu Educação gratuita e livre para todos, o senhor Kimane Maruge não hesitou em requisitar seu direito, tornando-se uma inspiração e um símbolo para seu país e para o mundo.
Por aqui, o desinteresse pela Educação parece ser maior que a sua busca. Muitos dos que estão nos bancos escolares, em condições materiais muito melhores que os quenianos, não valorizam a oportunidade, tratando-a como uma obrigação da qual adorariam se livrar. Se aliarmos esse espírito com a baixa qualidade do ensino, não é difícil perceber as razões do nosso atraso intelectual.
Outro aspecto a ser destacado é a disciplina e a dedicação dos alunos na sala de aula, e os métodos da professora do senhor Maruge, que lembra muito minhas professoras das séries iniciais. O ambiente da escola, apesar da superlotação da modesta sala de madeira, da falta de carteiras, do quadro de giz já desbotado e as crianças praticamente amontoadas, lembra muito a saudosa época do ensino tradicional, do qual eu tive a satisfação de participar. Considerando-se que a história retratada no filme é muito recente, é satisfatório saber que os métodos “modernos” de ensino e a nossa crassa indisciplina não é regra no mundo todo.
Se pudéssemos juntar a disciplina e a vontade de aprender dos quenianos com as nossas condições materiais (mesmo com suas limitações) e com métodos mais eficazes, melhoraríamos muito a qualidade do nosso ensino. Com mais leitura e entendimento, cresceríamos como pessoas e como nação. Num período decadente como o nosso, no qual parece que estamos mais interessados em deseducar do que em educar, o filme é uma ótima oportunidade para nossa reflexão.