João Venzon passou 36 anos de sua vida plantando fumo em Botuverá, até ter condições de parar em 2014. Sem herdar terras produtivas, precisou trabalhar para adquirir terrenos e encontrar o melhor local. Hoje, passa a aposentadoria colhendo o que plantou: um cotidiano simples, tranquilo, de participação com a comunidade e alimentos produzidos na própria terra.
Aposentados com um salário mínimo cada, João e a esposa Jandira fazem o dinheiro render. Vivem da roça, e raramente precisam sair para fazer compras. Têm vacas leiteiras, verduras, frutas de todos os tipos, temperos, milho, porcos, bois, galinhas, aipim, feijão, batata, tudo para o consumo da família, em uma vasta terra quase paradisíaca, decorada com muitas flores e folhagens. As quatro filhas, todas casadas, já não moram com os pais.
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“Colhi 172 sacos de milho, sequei… Todo ano a média é entre 140 e 170 sacos. Vendo um pouco para as despesas, e 100 sacos eu consumo aqui, para a carne. Não compramos carne fora. O salário mínimo ajuda muito”, comenta João, que é avesso à vida na cidade.
Hoje com 63 anos, João demorou para ter a própria terra, e teve vários terrenos até se fixar. Muitas vezes sem dinheiro, era possível obter bens com o que ele chama de “troca-troca” de arrobas de fumo. Permutas, basicamente. A propriedade atual foi adquirida em meados de 1990.
“Já passamos dificuldades, mais no começo da vida. Eu não tinha um palmo de terra. Abri mão de uma herança, de terras para dividir entre 11 irmãos que não podiam ser usadas para a agricultura. Sempre gostei da agricultura. O forte para se vender era o fumo. Outras coisas eram para completar. Tem gente que reclama, fala mal do fumo, mas é o que dava o sustento.”
Hoje o cotidiano é “um pouco” mais leve do que nos tempos do fumo, quando se trabalhava cerca de 15 horas por dia na época da colheita, e se dormia por volta das 23h, bastante tarde para o padrão do agricultor. Depois da aposentadoria, o dia passou a começar em torno das 7h. “Antes, era 5h de pé, tirando leite, tratando boi…”
Também faz questão de destacar a união entre ele e Jandira. “Fizemos sempre em parceria. Nunca tomamos decisões sozinhos. A mulher, em casa, trabalha mais que o homem. Eu faço minha parte. A gente tinha que viver da terra.”
O respeito e a valorização de suas histórias podem ser vistos na própria casa. Uma carroça utilizada ao longo de 40 anos e alguns outros equipamentos utilizados na época do fumo foram restaurados, e hoje compõem a decoração na varanda.
A participação na vida da comunidade é bastante ativa. Hoje, ele ajuda na construção de uma rede de água para a comunidade do Lageado Baixo, utilizando uma nascente da região. “Cada um colabora com uma parte, e vamos construindo. Não vai ser água da prefeitura, ou da Casan, essa é nossa, uma rede que vamos fazer aqui para nós.”
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