Alta na busca pelo Ozempic para emagrecimento é sentida em Brusque; saiba mais
Médica endocrinologista e nutricionista do município dão orientações sobre o medicamento, muitas vezes usado de maneira incorreta
Médica endocrinologista e nutricionista do município dão orientações sobre o medicamento, muitas vezes usado de maneira incorreta
O Ozempic, medicamento da farmacêutica Novo Nordisk, é amplamente conhecido por seus efeitos no emagrecimento. Em Brusque, profissionais da saúde notaram uma alta pela busca da famosa “canetinha”, principalmente após o aumento de notícias envolvendo celebridades que emagreceram usando o medicamento entre 2022 e 2023.
A médica endocrinologista Yohanna Soares aponta que 80% de seus atendimentos na cidade são voltados para o tratamento da obesidade, e a maioria desses pacientes faz uso do Ozempic.
“O uso do medicamento aumentou muito na cidade. Tanto é que já tivemos vários períodos de falta nas farmácias. Houve um ‘boom’ no mundo todo, e a empresa não deu conta de produzir tudo o que era necessário, mas agora o estoque está normalizado. Porém, com a chegada do verão, já prevemos que poderá faltar novamente”, explica.
Outro fator que explica o aumento da demanda, segundo a médica, foi o ganho de peso da população após a pandemia de Covid-19, além da facilidade de compra sem receita médica. “Simplesmente, as pessoas vão à farmácia e compram, e isso é um problema muito sério”, alerta.
O Ozempic é indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, mas tem sido usado para perda de peso devido ao seu componente principal, a semaglutida. Apesar de a semaglutida ser aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratar a obesidade, o uso sem orientação médica pode trazer riscos à saúde.
O nutricionista André Belleti aponta que já presenciou o uso inadequado do medicamento. “Toda medicação é bem-vinda, desde que o paciente tenha indicação para o uso. Hoje, vejo muitas pessoas usando sem acompanhamento médico, porque viram na TV ou nas redes sociais, ou porque conhecem alguém que está utilizando. Como é possível comprar sem receita médica, o acesso é facilitado para o público em geral”, ressalta.
André e Yohanna ressaltam que o ideal é usar o Ozempic com a devida prescrição. “Muitas vezes, o paciente pode sofrer com problemas que poderiam ser evitados. Por exemplo, não conseguir nem beber água ou ser internado por falta de vitaminas e nutrientes, porque começaram com doses muito altas. É um medicamento caro e, se mal usado, o paciente pode acabar frustrado, perdendo uma oportunidade importante”, adverte a médica.
Muitas pessoas buscam o Ozempic para emagrecer antes de eventos como casamentos ou formaturas. Para Yohanna, a venda sem receita contribui para a banalização do medicamento.
“Isso faz com que as pessoas não vejam o Ozempic como uma medicação, e sim como algo simples e fácil. Não percebem que existem efeitos colaterais e indicações específicas. Precisamos tratar a obesidade como uma doença crônica, que merece respeito. Essas medicações devem ser usadas por quem tem indicação”, defende.
Yohanna reforça a importância de um acompanhamento completo, envolvendo nutricionista, educador físico e, muitas vezes, terapia. “O Ozempic é apenas uma ferramenta. O paciente precisa mudar sua mentalidade e hábitos de vida para manter o peso após o tratamento. Às vezes, precisamos de outros medicamentos, mais eficazes quando associados. Por isso, é essencial ter acompanhamento”, conclui.
André Belleti explica que a semaglutida imita o hormônio que o corpo produz no intestino, o GLP-1 (Glucagon-like Peptide-1). Sua principal função é estimular o pâncreas a produzir e liberar insulina.
“Hoje em dia, através dos estudos, sabemos que o GLP-1 tem efeitos em diversos órgãos, como o estômago, onde diminui o esvaziamento gástrico, prolongando a sensação de saciedade, já que o alimento permanece mais tempo ali. E, no cérebro, age no hipotálamo para diminuir o apetite, por isso é muito utilizado para o emagrecimento”, detalha.
Assim, o Ozempic cria a sensação de saciedade, levando o paciente a consumir menos alimentos. “Sempre digo aos meus pacientes que é como se comessem uma maçã e sentissem que comeram uma feijoada”, explica Yohanna.
Portanto, o Ozempic é uma estratégia para o tratamento da obesidade. Contudo, é a mudança de estilo de vida que definirá o sucesso desse processo de emagrecimento. “É um recurso que pode ser muito bem utilizado, com acompanhamento médico, mas o que vai manter o peso da pessoa após o tratamento é a mudança no estilo de vida, como a prática de exercícios físicos”, completa André.
Yohanna ressalta que a semaglutida é segura, mas o alto custo é uma barreira. A caixa de Ozempic, por exemplo, pode variar entre R$ 800 e R$ 1,2 mil, dependendo da dosagem e da região do país.
“Tem que ser bem indicado. É um remédio caro, um investimento. Por isso, não vale a pena usar por um mês para eventos, e se for bem indicado, ele pode mudar a vida da pessoa. Não pode ser utilizado de maneira rápida, porque a obesidade não é simples de tratar”, aponta.
O tempo de uso depende de como o corpo reage ao medicamento. “Existem pacientes que estão usando há anos e, até hoje, não tiveram problemas”, afirma.
Porém, um dos principais efeitos colaterais são náuseas e vômitos. Há pessoas mais sensíveis, que não conseguem se alimentar e têm dificuldades em ingerir líquidos no início, e outras mais resistentes.
“Precisamos aumentar a dose conforme os estudos indicam e de acordo com a tolerância de cada paciente. Por isso, é importante o acompanhamento médico, e não copiar o que um amigo ou vizinho fez, pois o que funcionou para um pode não funcionar para outro”, orienta.
A médica destaca que outro erro é o uso diário, sendo que a indicação é o uso semanal do Ozempic. “Vemos muitos efeitos colaterais em decorrência disso. A forma de aplicação também é um problema para muitos pacientes que não entendem o uso correto sem acompanhamento”, continua.
“É preciso avaliar se o paciente tem algum transtorno alimentar e, se estiver com IMC normal, entender por que quer emagrecer. Às vezes, a pessoa está com percentual de gordura elevado e está insatisfeita. Tudo isso é avaliado pelo médico, e ajustes nutricionais e exercícios podem ser suficientes”, explica a médica.
Um dos receios dos pacientes é o efeito rebote, ou seja, a recuperação do peso após o tratamento. “Sempre digo que esse problema pode ocorrer com qualquer medicamento para emagrecimento. A obesidade precisa ser tratada com seriedade e acompanhamento de longo prazo, e não podemos parar de usar um medicamento de um dia para o outro”, alerta Yohanna.
André reforça que o acompanhamento médico combinado com a nutrição tem gerado bons resultados. O nutricionista explica que outros hormônios intestinais, como o CCK e o polipeptídeo Y, também influenciam na saciedade e podem ser estimulados por uma alimentação balanceada.
“Esses hormônios são liberados com a presença de macronutrientes e pela digestão dos alimentos. Com isso, podemos entender o processo de saciedade e, através da nutrição, obter um ‘efeito Ozempic’ com a alimentação”, explica.
André ressalta que o principal fator para uma boa liberação de GLP-1 é a mastigação. O nutricionista orienta um processo digestivo adequado e recomenda atenção à refeição, além de uma boa mastigação. “Precisamos passar de 20 a 40 minutos à mesa para que haja a sinalização desses hormônios, permitindo que a pessoa sinta a saciedade”, afirma.
A composição da dieta também influencia na liberação desses hormônios. André menciona a inclusão de fibras, que são um tipo de carboidrato que o corpo humano não consegue digerir, mas as bactérias intestinais sim.
“Diferente da gente, elas não têm uma ‘barriga’ para acumular essa gordura, então elas liberam para gente esse excedente, que são os ácidos graxos de cadeia curta. Trata-se de uma gordurinha que estimula a secreção de GLP-1. Então, a nossa saúde intestinal e o consumo de fibras são essenciais para modularmos o GLP-1”, finaliza.
Como o atentado de 11 de setembro quase afetou abertura do Alivia Cuca, famoso bar de Brusque: