Análises explicam motivos para desempenho acachapante do PSL na região de Brusque
Jair Bolsonaro e Carlos Moisés da Silva foram bem votados na microrregião
Jair Bolsonaro e Carlos Moisés da Silva foram bem votados na microrregião
Jair Bolsonaro e Carlos Moisés da Silva, ambos do PSL, tiveram desempenho expressivo nas eleições deste ano em Brusque, Guabiruba e Botuverá. Os dois receberam mais de 80% dos votos válidos nos três municípios, percentuais muito elevados até mesmo na comparação dentro do estado.
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O jornal O Município consultou um sociólogo político e dois comentaristas políticos locais para explicar o motivo de tamanha performance dos dois.
Carlos Eduardo Sell
Doutor em Sociologia Política
A eleição do Jair Bolsonaro, com fortíssimo desempenho, tem a ver com dois fatores básicos: um é o antipetismo, no sentido de que o eleitor ainda tem uma memória do péssimo desempenho do governo Dilma e todos os episódios de corrupção. Puniu o PT por este passado presente dele.
O segundo fator é que viu em Jair Bolsonaro a possibilidade de renovação da política. Enxergou nele um candidato antissistema político, anti política profissional. Esses fatores somados fizeram que a eleição de Bolsonaro em Brusque possa ser considerada praticamente uma aclamação popular.
Em Santa Catarina, e também em Brusque, a gente pode explicar este voto no comandante Moisés de forma um pouquinho diferenciada. O primeiro fator que explica este altíssimo desempenho é a colagem do voto, o mesmo que foi dado para o Bolsonaro foi transferido para o Moisés.
Um segundo fato interessante é que o eleitor em Santa Catarina deu um basta às oligarquias catarinenses. Estava cansado dos mesmos partidos, dos mesmos políticos.
Os quatro partidos que dominam a política catarinense, que são PSD, PT, MDB e PSDB, nada mais são do que a antiga Arena [Aliança Renovadora Nacional] e o MDB, que há décadas dominam a política em Santa Catarina. O eleitor foi em busca do novo.
Acho que é muito positivo, o eleitor buscou renovação. Mas faltou uma maior atenção para o voto na oposição. Não é tão positivo que candidatos recebam uma maioria tão expressiva a ponto de enfraquecer a oposição, porque o jogo governo-oposição faz parte da democracia.
Mas tudo somado, minha avaliação é positiva. O eleitor realmente buscou, na própria política, uma solução para a crise que vivemos nos últimos anos.
Rolf Kaestner
Comentarista político
Foi o fenômeno Bolsonaro que se espalhou por aqui. Claro que temos uma votação expressiva dos dois não só aqui. Foi uma eleição estadualizada, tanto que Santa Catarina deu o segundo maior percentual de votos ao presidente.
Nós, particularmente, assistimos isso no primeiro turno. Houve uma tendência do eleitorado para o número 17. Porque ninguém conhecia o novo governador, se ele fosse 18, ninguém votaria no Moisés. Votaram no 17, na sigla, acompanhando o voto da presidência. Não se votou no cidadão, no profissional.
Vamos mudar. Com quem? Não interessa. Esse foi o fenômeno que aconteceu de forma geral. Claro que é preciso respeitar esta opinião, mas ninguém avaliou quem era o candidato.
Da mesma forma para presidente, o que se colocou no país foi o bem contra o mal, digamos assim, a direita contra a esquerda. Não houve uma discussão de ideias no país.
Isso começou bem antes, não agora.
O brasileiro ficou descontente com a situação política do país, que veio, talvez, desde o impeachment da Dilma. Tivemos uma decepção com a chegada do Temer ao poder e a manutenção dessa estrutura podre aliada aos partidos que o povo escolheu para mudar na última eleição, principalmente aqui na região, que foi o Aécio Neves. Quando o PSDB se aliou ao Temer, houve uma descrença total na política. Pensaram em acabar com a esquerda.
Significa o antipetismo, a decepção que houve em relação a esses governos, principalmente o governo da Dilma, que acabou mostrando a verdade do PT. O Lula, até então, era um dissimulador, começou com a história que não sabia. O Roberto Jefferson quis encobrir o presidente dizendo que ele não sabia.
O Lula pegou essa frase e foi até o final dizendo que não sabia. Mas claro que sabia. O Lula conseguiu encobrir a parte ruim do PT, mas com a Dilma escancarou e veio a decepção.
Ivo Barni
Comentarista político
Em Brusque, o Bolsonaro absorveu os votos do Geraldo Alckmin, João Amoêdo e do Álvaro Dias no segundo turno, e o Guilherme Boulos e Ciro Gomes foram para o Haddad. O Bolsonaro foi de 77% para 86%, e o Haddad de 7% para 13%. Na região toda foi assim.
O fato de ser acima da média nacional é antipetismo, mas também a confiança que Brusque deposita no Luciano Hang, que foi o principal cabo eleitoral, inegavelmente.
Como é conhecido de todos em Brusque e respeitado pela grande maioria, a confiança nele também ajudou a puxar este índice elevado para o Bolsonaro.
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Com relação ao Moisés, a mudança é desejada por todos e o Comandante Moisés conseguiu atrair os eleitores do MDB também e das demais correntes. Fez uma campanha mais suave, sofreu agressões, o que o eleitor não gosta.
O candidato Merísio, em função do estilo de campanha mais agressivo, tentando desmoralizar em nível pessoal, não agregou nada, ao contrário, tirou votos.
O Comandante Moisés, na carona da onda Bolsonaro e nessa infelicidade do opositor, simplesmente emplacou. Ele não tinha tempo de TV nem recurso, o que se depositou nele foi a esperança pela mudança na política. Resta aguardar porque foi um voto no desconhecido, já que o conhecido não era bom.