Sempre se soube do poder dos alimentos, mas essa é uma discussão cada vez mais recorrente com a forma correta de olharmos ao que estamos consumindo. Durante a pandemia, nos primeiros dias de quarentena nos vimos de frente a uma obrigatoriedade praticamente, quando os restaurantes estavam todos fechados: preparar nossas próprias refeições.

O hábito se tornou rotina para quem não tinha, e com movimento abaixo do normal registrado nos restaurantes, as refeições feitas em casa ganham espaço. Espaço em comum equilíbrio com preparar suas próprias refeições, ou agora optar por refeições saudáveis fora de casa.

O “novo normal” trouxe uma série de mudanças. Mesmo quem nunca pilotou um fogão, se viu obrigado a checar no Google uma receita prática, ou telefonar para os pais e relembrar o modo de preparar algum prato que só um deles conhece. Há também novas discussões sobre alimentação, e vê-se um movimento crescente do veganismo, principalmente nas novas gerações. Um estilo de vida que vem acompanhado por uma “nova” consciência e também uma preocupação: o meio ambiente. Segundo a pesquisadora Ima Vieira, a pecuária é responsável por 80% do desmatamento na Amazônia.

Para falar sobre o assunto, a nutricionista Camille Colombi respondeu perguntas da coluna sobre a alimentação durante a pandemia e os movimentos crescentes que se destacam, como o veganismo. Nutricionista clínica e estética, é pós graduanda em prevenções de doenças, incompatibilidades alimentares e modulação intestinal.

Camille Colombi acredita no poder dos alimentos para prevenir doenças. Fotos Divulgação

André Groh: A redução da jornada de trabalho afetou o movimento dos restaurantes durante a semana, e entende-se que a sociedade está preparando mais suas próprias refeições. Como isso afeta a rotina alimentar das pessoas?
Camille Colombi: É muito positivo por um lado. Porque agora as pessoas estão parando para preparar seu alimento, o que rende um poder de escolher o que vai ao prato. É feito pelas próprias mãos, com muito amor, carinho e muito mais nutrientes. A seleção por alimentos da terra também está fortalecida nesse momento, com muita força para o cultivo em horta caseira. Isso deixa até a comida mais gostosa, com um novo sabor.

A.G.: Vê-se nas redes sociais um movimento de pessoas em busca de novos hábitos, com prática de esporte em casa ou ao ar livre, por uma preocupação com a saúde física e mental. Como a alimentação adequada pode ser eficaz nesse momento?
C.C.: É eficaz para dar mais disposição principalmente. Quando a alimentação é mais industrializada, ou também na correria do dia a dia acaba-se não respeitando o tempo adequado para fazer uma refeição e é tudo feito as pressas. É como se antes só fosse colocasse calorias para dentro do corpo, e não o tornasse energeticamente disposto. Com essa alimentação mais balanceada, a gente consegue deixar nosso corpo mais disposto.

A.G.: Há um movimento crescente do veganismo, principalmente nas novas gerações. Como a nutrição enxerga esse momento?
C.C.: É um novo olhar para os animais, nosso corpo e nossa mente. Acaba sendo um estilo de vida. Não é só deixar de comer carne, nem tomar leite ou comer ovos. Tem que entender que o paciente precisa dos nutrientes para conseguir se nutrir adequadamente. Em questão de vitaminas e minerais, é bom fazer ainda um acompanhamento clínico para fazer suplementação. Esse é um movimento bárbaro, com um olhar muito diferente e promissor. É até mais fácil de preparar as refeições. A partir do momento que as pessoas forem desfrutando mais deste novo lifestyle, as industrias e os restaurantes vão mudando os produtos que estão disponibilizando. Se hoje não encontramos muitos produtos veganos no mercado, é por falta nossa exigir que o mercado alimentício traga estes novos produtos.

A.G.: O médico Lair Ribeiro é um defensor da famosa frase “que seu remédio seja o seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio”, do filosofo Hipócrates. Como você enxerga o papel da nutrição na prevenção e combate de doenças?
C.C.: É um tudo, porque tudo o que ingerimos é para se nutrir. A doença vem do alimento, e muitas doenças se curam com alimentação. Nossas células são feitas de vitaminas e minerais, que só encontramos às vezes nos alimentos. Então é dali que vem nossa base para nutrir nossa célula. Tudo vem do alimento. Sou defensora deste ponto de vista.

A.G.: Por que hoje se fala muito mais de intolerâncias alimentares?
C.C.:
O nosso corpo, dependendo da pessoa e do estilo de vida, doenças que ela já pode ter acometido, pode ter tanto uma intolerância quanto uma incompatibilidade alimentar. Ambas vem de um desequilíbrio de dentro do corpo. Não é necessariamente substituir o leite por um leite sem lactose, às vezes a alergia é a própria proteína do leite, então indicamos um leite vegetal por exemplo. Isso sempre existiu, mas agora é que está sendo mais percebido. Hoje nosso olhar para nosso corpo está muito mais apurado, para ver como reagimos a tal alimento. O corpo tem reações ao alimento que a gente ingere.