Ano após ano, surgem em Botuverá novos meninos dispostos a tornarem-se sacerdotes
Última ordenação aconteceu em 2012. O padre Elinton Costa, de 32 anos, é o mais jovem em atividade
Última ordenação aconteceu em 2012. O padre Elinton Costa, de 32 anos, é o mais jovem em atividade
É mais do que provável que José Henrique Zoler, de 20 anos, seja o 23º padre de Botuverá. Aliás, assim se referiram a ele os colegas do Seminário Filosófico Sagrado Coração de Jesus, durante a entrevista.
O número pode parecer pouco, mas é bastante elevado se forem levados em consideração alguns fatores: o pequeno tamanho da população – quase 5 mil habitantes, segundo o IBGE -, e o tempo de formação de um sacerdote, que no mínimo é de oito anos, se não houver nenhuma interrupção pelo caminho. Proporcionalmente, Brusque, com seus 120 mil habitantes, não ordenou tantos padres quanto Botuverá, isso sem contar as desistências que ocorreram ao longo dos anos.
José estuda para ser padre há seis anos, e diz que sua vocação começou a ser manifestada aos 10 anos. Antes, queria ser cardiologista. Um encontro com um estranho, no ônibus, foi o ponto de partida.
“Ele disse que eu tinha cara de padre”. Ele nunca mais o viu na vida, mas repetiu a história a quem conhecia. Certa vez, ainda criança, durante a visita de um seminarista, José revelou-lhe a intenção de ser cardiologista. O rapaz lhe entregou em mãos um folheto do Sagrado Coração de Jesus, e lhe fez um chamamento.
“Se algum dia quiser trabalhar com outro coração, escolha esse”, disse. A partir dali começou a caminhada. “O que mais me motiva a continuar são os sacramentos, tenho uma deferência, um respeito muito grande por eles, e admiro muito o sacerdote que administra os sacramentos”, diz o seminarista.
Brincar de rezar
Outro botuveraense também estuda em Brusque para ser padre. Elias José Martinenghi, 18 anos, está há cinco nesta caminhada. Sua vocação, afirma, também veio bem cedo. De uma família toda católica, ele conta que, quando criança, costumava brincar de rezar missa.Elias fez três estágios para, aos 13 anos, ter certeza da vida que queria seguir. Ele não tem dúvidas de que quer chegar ao sacerdócio. “O que mais me motiva a ser um padre é dar atenção para o povo, estar presente”, afirma.
Para o vigário da paróquia São José, padre Eloi Comper, é fato que a população de católicos devotos de Botuverá predispõe ao surgimento de vocacionados, como esses dois rapazes. “Havia muito incentivo das famílias, motivado pela devoção e pela fé do povo”.
Segunda ordenação de Botuverá
O padre Flávio Morelli, de 86 anos, foi o segundo a ser ordenado no município. Ele é o mais antigo religioso botuveraense em atividade na região. Do alto de seus 58 anos de sacerdócio, faz um relato que, segundo ele, pouca gente tem conhecimento: “Botuverá é uma cidade levítica”.Levítico é o terceiro livro da Bíblia, e é assim denominado porque contém a chamada Lei dos sacerdotes da Tribo de Levi, a que foi escolhida para exercer a função sacerdotal no meio do povo. Essa classificação, ele argumenta, está ligada ao grande número de vocacionados.
Quando ele começou no seminário, mais quatro botuveraenses começaram, no mesmo ano. Nessa época, conta o padre Flávio, iniciou no município um período de entusiasmo dos meninos pelo sacerdócio e, décadas depois, chegou a haver três ordenações em um único ano.A exemplo dos seminaristas Elias e José, ele descobriu sua vocação no estágio do seminário, um “presente” dado por seu pai. “O pai queria nos dar uma oportunidade de ter um pouquinho de estudo”, conta o padre Flávio.
Última foi em 2012
A última ordenação de um padre botuveraense ocorreu em 2012. Foi o padre Elinton Costa, de 32 anos, o mais jovem em atividade, que atua na Comunidade Bethânia, em São João Batista. Ele conta que entrou no seminário muito cedo, aos 14 anos, e não teve uma boa primeira impressão. Sua intenção era conseguir um bom estudo para ter uma carreira profissional, não o sacerdócio. Em Brusque, na faculdade de filosofia, as coisas mudaram.
Influências não lhe faltaram. Padre Elinton tem dois tios por parte de mãe e dois por parte de pai que foram sacerdotes da Igreja Católica. Sua hipótese para a cultura de vocacionados de Botuverá é de que se trata, sobretudo, de um orgulho para a família.
“A cultura botuveraense é muito fiel ao catolicismo, e diante da quantidade de filhos que se tinha, deixava-se um livre para seguir no seminário”, explica. “Na minha família, quando meus tios foram para o seminário com a intenção de estudar, se formar e ter uma cultura, os outros irmãos se sacrificavam. O desejo dos pais era que eles completassem a caminhada”, relata o 22º padre botuveraense.
Elinton trilha uma caminhada de evangelização que busca, hoje, trazer o jovem para dentro da igreja. Trabalho que, segundo ele, é desafiador, mas necessário e gratificante.Junto aos outros padres botuveraenses, que atuam em diversas cidades, ele atua para manter a tradição que dá ao município a alcunha de terra de sacerdotes.