Anos finais do ensino fundamental registram maior índice de reprovações
Na rede municipal, quase 10% dos alunos foram reprovados entre 2009 e 2013
Na rede municipal, quase 10% dos alunos foram reprovados entre 2009 e 2013
A média de reprovações entre 2009 e 2013 nas escolas municipais de Brusque foi de 8,76%, percentual considerado aceitável pela Secretaria de Educação. O número é correspondente aos anos finais do Ensino Fundamental. Nos anos iniciais, o percentual cai para 3,99%, o que demonstra o desafio da pasta em estimular os estudantes mais velhos a ter um bom desempenho acadêmico e ficar na escola.
A secretária de Educação, Gleusa Fischer, diz que hoje em dia não é mais usado o termo reprovação, mas sim retenção, que só é aplicada em casos mais graves. Segundo dados da pasta, a maioria das reprovações da rede municipal acontece nos anos finais do Ensino Fundamental – do sexto ao nono ano. Em 2009, 2.692 alunos cursavam as séries finais e 15,20% deles falharam em obter o mínimo para passar. No ano seguinte, com 3.034 estudantes, o índice caiu para 8,6%; em 2011, teve queda novamente, para 5,4%, este foi o menor número nos últimos cinco anos.
Em 2013, contudo, a estatística voltou a subir, para 9,1%. Em números reais, 1.160 estudantes da fase final do Ensino Fundamental repetiram pelo menos um ano entre 2009 e 2013. A Secretaria de Educação ainda não tabulou os resultados de 2014.
Para Gleusa, os anos finais precisam de ajustes. “Nos anos finais o ensino ainda é por disciplina, tem a questão das mudanças de professores em sala de aula e a rotatividade do quadro de professores, apesar de hoje estar com um quadro mais definido. Na minha visão, isso contribui para estes números”, avalia a secretária de Educação.
Base do conhecimento
Nos anos iniciais é construída a base do saber da criança. Um aluno mal formado no início da carreira acadêmica é mais propenso a apresentar dificuldades no futuro. Neste caso, as reprovações são mais raras. Os números de 2009 a 2013 mostram que 3,99% das crianças repetiram de ano. O motivo é que há uma política diferente.
Gleusa explica que até o terceiro ano o aluno não é retido em uma série. Ou seja, se a criança estiver no segundo ano – antiga primeira série – e não souber ler e escrever ela ainda assim será aprovada para passar ao próximo ano, porque o ciclo de alfabetização ainda não terminou. Nos quarto e quinto anos há a possibilidade de reprovação, porém a secretária afirma que só é aplicada em casos muito específicos. “É difícil, ficam mais aqueles alunos que tem algum problema de aprendizado”.
Melhor solução
No meio acadêmico há discussão sobre a efetividade da reprovação no aprendizado do aluno. Cássia Ferri, doutora em Educação, diz que a repetência por si só não ajuda no desenvolvimento cognitivo da criança. “O que está definitivamente ultrapassado é reprovar os alunos com base em critérios pouco transparentes. Na maior parte das vezes, fruto de atividades que só exigem memória ou o que chamamos de decoreba, ou seja, memorização sem significado na qual apenas se reproduzem conceitos e dados, sem sequer compreendê-los”, diz ela, que também é vice-reitora da Univali.
A reprovação pode sim ser benéfica, na avaliação de Cássia, se houver um trabalho de acompanhamento do aluno. “Quando a reprovação é fruto de um trabalho consciente e no qual a relação ensino-aprendizagem foi efetiva, os ganhos podem ser muitos. O professor conhece o processo do aluno e saberá em quais aspectos será necessário investir”, diz.
Gleusa Fischer afirma que a rede municipal conta com vários projetos que visam o acompanhamento dos alunos ao longo do ano. Nos anos iniciais há o Amigo do Zippy, que tem o objetivo de identificar problemas emocionais e mentais nas crianças e tratar. Além disso, ela afirma que também há o Mais Educação, do governo federal, que oferece atividades no contraturno, dentre elas as aulas de reforço. A expansão destes programas, contudo, esbarra em mais recurso, porque demanda a contratação de mais professores e mais infraestrututura.
Perda de interesse
A especialista em Educação diz que é preciso fazer um trabalho específico em cada escola para identificar as causas do mau desempenho escolar. “A maioria das reprovações acontecem no fim do Ensino Fundamental porque a escola passa a não responder as expectativas e as necessidades dos alunos. Seja o de estímulo para concluir a etapa, seja a necessidade de ir trabalhar para garantir a comida de todo o dia. Estas situações também merecem estudo, mas na maior parte das vezes o abandono é causado pela falta de perspectiva dos alunos em relação à continuidade dos estudos. Melhor ir tentar ganhar a vida de outra forma”, afirma.