Ao radialista, aquele abraço
Sou da geração do rádio. Desde guri, em Tijucas, muito aprendi ouvindo esse aparelho sonoro. Lembro do primeiro rádio que meu pai comprou de um seu cunhado, preço facilitado de família. Era uma imponente caixa de madeira envernizada, do começo dos anos 1950, com dois grandes botões de baquelite para girar, mudar de estação e […]
Sou da geração do rádio. Desde guri, em Tijucas, muito aprendi ouvindo esse aparelho sonoro. Lembro do primeiro rádio que meu pai comprou de um seu cunhado, preço facilitado de família.
Era uma imponente caixa de madeira envernizada, do começo dos anos 1950, com dois grandes botões de baquelite para girar, mudar de estação e de volume. Na parte frontal, um quadrante de vidro marcado com números e riscos como uma régua, mais conhecido por dial e um ponteiro para sintonizar as emissoras de rádio. Fora da casa, um fio esticado em duas varas de bambu, à guisa de antena, para captar a palavra radiofonizada.
Muitas orelhas, mais de uma dúzia, próximas, quase coladas no alto-falante escondido atrás daquela pequena e delicada cortina de tecido jaquart, era a família reunida, escutando em silêncio a Rádio Difusora de Tijucas.
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Suas ondas longas, sempre acompanhadas de descarga elétrica, mal chegavam aos limites da cidade. Mas, a potência era suficiente para invadir os poucos lares com o privilégio de ostentar aquela caixa sonora em cima de uma mesa ou de um aparador junto à parede.
Seus programas não se limitavam a transmitir notícias, músicas e propaganda, porque o radialista precisava ganhar o seu pão de cada dia. A exemplo das grandes emissoras, novelas também marcaram presença nas noites da Rádio Tijucana, com os personagens representados na voz conhecida dos artistas amadores locais. Foi um curto tempo de glória, para uma cidade que já enfrentava os primeiros sinais de um triste ciclo de decadência econômica.
A família reunida também escutava as emissoras do Rio, a capital da república. A preferida, a Rádio Nacional, tinha sua sede, na praça Mauá e o elenco das mais belas vozes da locução brasileira. Apresentados ao vivo, seus excelentes programas de auditório, foram palco dos mais famosos cantores e artistas da Época de Ouro do Rádio brasileiro. Por muitos anos, o seu Repórter Esso, com o seu bordão “O Primeiro a Dar as Últimas e Testemunha Ocular da História”, marcou a história do noticiário brasileiro.
Em Floripa, também muito escutei as rádios Guarujá, Diário da Manhã e Anita Garibaldi. Já era um outro tempo. Tempo de capital e de mais rádios, tecnologia mais avançada, de bons programas de humorismo, novelas, cantores e até música clássica.
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O Repórter Renner, na voz vibrante de Adolfo Zighelli, apresentado do moldes do Esso, porque bom exemplo não faz mal a ninguém, também marcou a história do noticiário radiofônico catarinense. Quando cheguei em Brusque, a Rádio Araguaia, fundada em 1946, ainda continuava a única da cidade.
Logo, veio a TV, para enfeitiçar seus expectadores, passivamente sentados em frente àquelas caixas de abelha falantes, com suas imagens em preto e branco e, depois, em cores, porque a tecnologia não pode parar. E o rádio resistiu, heroicamente. Mais rápida, ainda, veio a internet, que nos deixou conectados com tudo e com todos. E o rádio também resiste, se reinventando para enfrentar este novo tempo de comunicação virtual.
Hoje, comemora-se o Dia do Radialista. Parabenizo e deixo aqui a minha homenagem ao profissional da voz que, desde cedo, ainda de madrugada, está em frente ao microfone para levar as primeiras notícias do dia, as informações de maior utilidade e interesse aos seus ouvintes. Aos radialistas brusquenses, parabéns e um abraço pelo seu dia.