Apenas 2% das brusquenses casadas não usam o sobrenome do marido
Legislação permite que as esposas mantenham seus nomes de solteira
Legislação permite que as esposas mantenham seus nomes de solteira
Casais que optam por não usar o sobrenome do companheiro são cada vez mais comuns. Ainda assim, o número é pequeno em Brusque: apenas cerca de 2% dos casamentos realizados têm este perfil.
A maquiadora e designer de sobrancelhas, Thais Cibele Fernandes Teixeira, 25 anos, faz parte deste público. Ela é casada há um ano no civil com Tcharles Brigo, 27, e preferiu manter o seu nome de solteira. “Não ia mudar nada. O que sentimos um pelo outro não será diferente se eu acrescentar o sobrenome dele, sem contar que a burocracia para fazer novos documentos é enorme”, diz Thais.
A maquiadora e Brigo se conhecem há dez anos e conversaram antes da decisão dela de não colocar o sobrenome dele no registro. “Ele aceitou, mas não ficou muito convencido. Até mesmo o juiz que celebrou a nossa união ficou um pouco apavorado e perguntou como que eu não ia colocar o nome do meu esposo?!”, conta Thais, ressaltando que familiares e amigos questionaram sua escolha, mas em nenhum momento a criticaram.
Para ela, é um avanço social, permite maior individualidade do casal e mostra que cada vez mais as mulheres estão independentes. “Eu nunca vi ninguém fazer o que eu fiz, acredito que com o passar do tempo mais pessoas farão isso, afinal, é só um nome e isso não muda o sentimento”, frisa.
Thais é exceção em Brusque, conforme a oficial substituta do Cartório Civil da cidade, Bianca Amorim. “O registro civil é público, não tem estatísticas, mas de cem podemos dizer que apenas dois optam em não colocar o nome do companheiro”.
Segundo Bianca, o homem ainda tem força predominante na sociedade e colocar o nome da mulher é raro, praticamente não existe. Ela também explica que a legislação permite que as esposas mantenham seus nomes de solteira, e que somente se for seu desejo atribuam o do marido. ” Acredito que pelo fato de Brusque ser uma cidade mais tradicional, de cultura alemã e italiana, a maioria das mulheres acrescenta o sobrenome do esposo”, salienta a oficial substituta.
Mudança cultural
A psicóloga e doutoranda em Terapia Familiar Sistêmica, Karoline Gregorio, fala que a sociedade passa por constantes mudanças culturais, e com o tema casamento em especial, a quebra de paradigmas é mais evidente. “Depois que as feministas queimaram os sutiãs em praça pública em 1960 muito coisa deixou de ser como era antes. Não só as mulheres deixaram de usar o sobrenome do marido como eles estão cada vez mais aderindo ao sobrenome delas”, explica.
Karoline aponta que em 2002 uma mudança no novo Código Civil Brasileiro permitiu que o homem adotasse o sobrenome da mulher e em 2012, dez anos depois, 25% dos casais que casaram no civil optaram por passar o sobrenome da esposa para o esposo. “Muitas pessoas estranham quando o casal escolhe usar o sobrenome da mulher porque até hoje as mulheres são vistas como frágeis e menos capazes por uma parte da sociedade, contudo, tanto nessa situação quanto em várias outras, as mulheres têm alcançado novos lugares e posições sociais que deixam claro que a diferença de gênero não deve ser limitadora para ambos”, enfatiza.
Outro fator listado pela psicóloga e que influencia na baixa receptividade da população é o religioso, pois para muitas crenças, o homem é o ‘cabeça’ da relação. De acordo com ela, a escolha do sobrenome é importante, pois diz respeito à identidade pessoal e do casal, por isso deve ser feita por ambos em comum acordo.