Aplicativos de transporte reduzem número de corridas longas dos taxistas de Brusque
Sindicato do setor afirma que profissionais das plataformas atuam como motoristas particulares
Sindicato do setor afirma que profissionais das plataformas atuam como motoristas particulares
Os taxistas de Brusque afirmam ter sentido impacto no setor após o funcionamento dos aplicativos de transporte como o Uber. A concorrência com um número maior de motoristas e relatos de atuações irregulares reduzem a rentabilidade e são criticadas pela categoria.
As dificuldades são relatadas pelo presidente do Sindicato dos Taxistas de Brusque, Modesto Bertoldi. De acordo com ele, é comum motoristas de aplicativos trazerem passageiros até a cidade e aproveitarem para formar clientela no local.
Procedimentos semelhantes não são permitidos para taxistas profissionais. Em alguns casos, descreve, o preço praticado é incompatível com o mercado e são distribuídos cartões de visita para fazer corridas posteriores como particulares.
Para o presidente, o lucro que os taxistas locais tinham com o transporte de passageiros para outras cidades é um dos mais afetados. Segundo ele, um carro que, até a popularização dos aplicativos rodava cerca de 7 mil quilômetros mensais, passou a registrar cerca de 2 mil quilômetros.
Na avaliação de Bertoldi, a fiscalização é precária e a queda da rentabilidade afasta a possibilidade de uma renovação do setor. Além disso, o excesso de exigências para entrar e se manter como taxista é um agravante. “Temos muitos aplicativos, mas muitos dos motoristas fazem poucas corridas por meio deles e depois atuam como particulares”.
Retorno menor
Há 20 anos o aposentado Alceu Nascimento dedica boa parte do dia à atuação como taxista. Em um cenário bastante diferente em comparação a quando começou, ele vê uma dificuldade ainda maior dos colegas dependentes de corridas de finais de semana e à noite.
Para ele, a diferença de exigências para atuações tão semelhantes é injusta e a atividade já não tem o retorno financeiro de outros tempos. “Estão tirando nosso serviço, sem pagar nada. Hoje, só de táxi, não se vive”.
O taxista Vilmar de Moura reforça a avaliação do colega de profissão. De acordo com ele, com a concorrência de motoristas particulares de outros municípios, sobram para os taxistas locais corridas pouco rentáveis. Todos os dias ele precisa atuar das 6h às 21h para conseguir cerca de R$ 170.
Para os irmãos Bruno Eduardo Silva, 25, e Felipe Silva, 23, a queda no movimento de passageiros foi agravada pela instabilidade econômica e a redução de atrativos no Centro de Brusque. “Se você chegar aqui, em uma sexta-feira, meus colegas vão estar quase todos parados”.
Pesquisas favoráveis
Pelo menos duas pesquisas sobre o tema já foram desenvolvidas. A primeira, em 2015, foi feita pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e tomou como base o primeiro semestre do mesmo ano.
Esta primeira experiência focava no impacto econômico da concorrência entre o aplicativo Uber com táxis contratados pelos aplicativos 99táxi e o Easy Taxi em sua fase de “sedimentação”. O campo estudado foram as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e o Distrito Federal.
Segundo ele, no período e área pesquisadas, o uso do serviço ampliou a procura pelo transporte individual. “O aplicativo, ao contrário de absorver uma parcela relevante das corridas feitas por táxis, na verdade conquistou majoritariamente novos clientes, que não utilizavam serviços de táxi”.
Dois anos depois, os economistas Cristiano Oliveira e Gabriel Machado, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), também estudaram o tema e os resultados reforçaram a tese do Cade. “Os resultados indicam que a entrada da Uber não teve impactos significativos nos rendimentos por hora dos motoristas de táxi no Brasil”.