“As crianças têm dores de cabeça e vontade de vomitar”: pais de alunos reclamam de mau cheiro em Área Industrial do Limeira
Situação preocupa comunidade próxima da Escola de Ensino Fundamental Alberto Pretti; comissão apura denúncias
Situação preocupa comunidade próxima da Escola de Ensino Fundamental Alberto Pretti; comissão apura denúncias
O mau cheiro proveniente de uma empresa na Área Industrial do Limeira Alta continua causando transtornos na comunidade próxima da Escola de Ensino Fundamental Alberto Pretti. Pais e responsáveis relatam que os filhos reclamam constantemente do odor e muitos sofrem com dores de cabeça e tem vontade de vomitar.
Os moradores apontam que o caso é relacionado a usina de aproveitamento de resíduos orgânicos sustentáveis e ecológicos e de produção de biogás, situada em imóvel doado pelo município. A doação foi realizada nos termos e condições especificadas na na lei do Plano Municipal de Incentivos às Empresas no último ano.
A costureira Tatiane Torrezani Soares, de 38 anos, mora há um quilômetro da unidade escolar. “Hoje fomos buscar as crianças e os pais estão inconformados, é muita catinga. É um cheiro de podre, com gás, fossa, tudo junto. Não está fazendo bem”, começa.
Ela tem duas filhas, uma de 6 anos que estuda na creche e outra de 12, que é aluna na escola. “As duas reclamam de dor de cabeça e vontade de vomitar. Elas não querem mais ir para a escola”, continua.
Conforme Tatiane, a situação ocorre desde abril, quando a empresa começou a funcionar. “Não tem hora exata ou dia, mas durante a semana tem esses odores. Às 4h30 quando o meu marido sai pra trabalhar também, tem um odor bem forte na madrugada”, conta.
Ela conta que conhecidos de empresas na área relataram ter limpado as fossas para acabar com o odor. Contudo, a ação não resolveu o problema e descobriram que o cheiro vinha da usina. “Aqui também, ao redor das nossas terras, ficamos uma semana procurando por um bicho morto. E os urubus ficam rodando em volta de nossas casa”, continua
O problema também é relatado por Ana Maria Ketzer, 37, que tem uma filha de cinco anos que estuda na creche. “Ela disse que em outro dia estava brincando no parquinho com os amigos e veio um cheiro de cocô tão forte, que a professora levou todos para dentro da sala”, conta.
Ana organiza a mobilização da comunidade e somente nesta quarta-feira, 14, recebeu relato de cerca de dez vizinhos sobre o ocorrido. “Meu marido, às 7h está vomitando, ele tem um estômago muito sensível. O cheiro é forte assim”, comenta.
Em agosto do ano passado, a Câmara de Vereadores de Brusque aprovou por oito votos a seis o projeto que autorizou a prefeitura a doar o terreno para uma empresa que se instalaria no local.
A empresa apresentou ao vereadores projeto baseado em um modelo alemão que processa resíduos orgânicos – desde frutas até fezes de animais – e os processa em grandes reservatórios lacrados. Este processo gera biogás e fertilizantes que são comercializados.
“Já sabíamos que eram resíduos. Bichos mortos, fezes, dejetos de peixe e ração. Os vereadores e o prefeito aprovaram. Nos disseram que não daria mau cheiro e, se desse, eles tomariam providência, mas nos últimos dois meses está muito forte. Está difícil conviver”, desabafa Tatiane.
Recentemente, a comunidade marcou uma reunião com o prefeito Ari Vequi, mas quem recebeu os representantes foi um assessor. “Pedimos para tomar atitude, mas ele falou que, se estamos assim incomodados, deveríamos procurar um advogado e processar a empresa”, complementa.
Segundo Ana, após a reunião na prefeitura, a situação repercutiu na comunidade e o odor ficou moderado, sendo mais comum à noite. Mas o mau cheiro piorou e incomodou os moradores, principalmente nesta quarta.
“Soube até de casos de professor que passou mal e estava vomitando. A minha filha diz que dói a cabeça e o nariz. Tem crianças mais velhas da escola que dizem ter dor de cabeça quando voltam pra casa. O refeitório é aberto e não dá para almoçar por conta disso”, completa Ana.
Em agosto, a Câmara de Brusque criou a Comissão Especial de Proteção Ambiental da Área Industrial da Limeira para averiguar denúncias de mau cheiro. Conforme o relator, o vereador André Vechi, a comissão se reuniu com o empresário proprietário do empreendimento.
“Ele afirmou que a empresa passa por um momento de ajustes e, a curto prazo, o problema estaria resolvido. Em paralelo, a comissão notificou órgãos de fiscalização, como o Ibplan, a Vigilância Sanitária, a Fundema e o IMA”, aponta.
Além disso, segundo ele, na próxima semana a comissão deve contratar uma empresa para fazer um laudo que verificará se o gás emitido pela usina chega a cinco pontos, sendo um deles a escola. Assim, deve esclarecer se há ou não poluição atmosférica.
“Eu estive no local em um dia específico e senti o cheiro na proximidade da escola. Mas os vereadores recebem reclamações dos moradores quase todos os dias. O que a gente quer é resolver a situação, mas sem cometer injustiça com ninguém. O laudo técnico nos dará todo o subsídio para que nós possamos agir”, finaliza.
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