Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Autotranscendência

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Autotranscendência

Pe. Adilson José Colombi

O ser humano não deu a existência a si mesmo. Sua existência a recebeu de alguém. No plano humano, de seus pais. Para quem crê, em última instância, recebeu-a de Deus. Tal situação e condição da existência humana denotam que a existência humana não é uma realidade fechada sobre si mesma. Pelo contrário, por sua própria origem e sua constituição é aberta, porque não é uma existência pronta, acabada, realizada totalmente. Está se fazendo, construindo-se permanentemente. Esta construção de si não é possível, em âmbito puramente individual. Daí, a abertura para outrem. Ninguém se basta a si mesmo.

Esta abertura para o outro (minúsculo), o semelhante, e para o Outro (maiúsculo), o Absoluto ou Transcendência. Para quem crê, Deus. Desta forma, o ser humano foi feito para ir além de si, superar-se, ultrapassar-se, transcender-se. Por isso, a existência humana almeja, deseja, aspira a essa autotranscendência. É o contínuo movimento de ir além de si mesma. Não se contenta com essa limitação. Embora essa limitação seja inerente à sua própria constituição original, procura, de algum modo, superá-la. É justamente, aqui, que nasce dentro do ser humano que não se acomoda, que não se resigna, que não vive alienado que se instalam a inquietação, os questionamentos. E é justamente essa inquietação, essa insatisfação interiores, esses questionamentos que impulsionam o ser humano a ser-mais. É, nesse movimento de ser-mais, que o ser humano encontra o verdadeiro sentido de sua vida. Encontra as razões, as motivações de seu existir.

O ser humano que se contenta com aquilo que já é, pouco a pouco, vai perdendo o sentido de seu viver. Por isso tem que manter sempre acesa a chama interior que arde continuamente, pedindo para ser alimentada para não apagar. O alimento mais adequado é promover a busca permanente de respostas ao apelo interior que a insatisfação interna suscita, querendo se satisfazer. Essa constante inquietação encontra certa paz, na medida em que se vai, pela reflexão e ação, buscando sempre mais razões, motivações para o existir, que possam favorecer a ultrapassagem de si mesma, a transcendência de si mesma. Numa palavra, a autotranscendência.

Alguns seres humanos se contentam com sua limitação. Acomodam-se, resignam-se. Outros, percebendo essa limitação, procuram dar-lhe resposta por meio de posicionamento humano diante do outro, exercitando sua doação ao outro, no plano meramente humano. É o que se pode denominar: filantropia (etimologicamente, amigo do ântropos [o ser humano]).

Permanece-se na imanência e trata-se, então, de uma transcendência na imanência. Não se vai além do humano, puramente humano. Outros ainda, não se contentam com esse tipo de autotranscendência. Vão além desse humanismo fechado sobre si mesmo. São os que estão abertos ao Absoluto, a Transcendência propriamente dita. Religiosamente, à luz da fé, denomina-se Deus.

Estes últimos não se contentam com o bastar-se a si mesmo, nem com abrir-se ao semelhante tentando auxiliá-lo no seu existir. Querem mais para ser-mais. Almejam e tentam construir uma autotranscendência que os eleva, pela fé e pela graça divina, a participar da própria vida de Deus. O verdadeiro sentido do seu existir está ancorado no existir divino. Só Deus é a resposta cabal para sua inquietação, para sua satisfação interiores.

Foi essa realidade que Santo Agostinho, o filósofo e teólogo, sentiu e experimentou. E expressou tal experiência de autotranscendência, na consideração que deixou registrada em sua obra as Confissões. “Tarde demais te (Deus) conheci! Meu coração (interioridade) está inquieto enquanto não repousar em ti”.

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